Capítulo 59

8 3 0
                                    

Abdiel narrando

Dormi tão bem, sem precisar dos meus remédios de dormir.
Acordei em um pulo, procurei Ellie pela casa.
Lá estava ela na cozinha, preparando o café da manhã.

- Que desespero é esse? - Ela sorriu. - Achou que eu tinha ido embora?

- Achei. - Cocei a cabeça e sorri sem graça.

- Você deve gostar mesmo da minha companhia. - Ela sorriu. - Ou é pela comida? - Ela levantou uma sobrancelha e colocou as mãos na cintura.

- É pela pessoa. Poderia ficar sem comer por meses, desde que eu tivesse a certeza que  você estaria aqui. - Fui sincero.

- Me sinto privilegiada por isso. - Sorri. - Conseguiu dormir?

- Sim. Nem precisei dos meus remédios. E você, dormiu bem?

- Sim. - Ela desviou o rosto e deu um sorriso sem graça.

- Que bom. - Sorri de uma forma gentil. - Desculpe por isso.

- Não precisa se desculpar. - Ela me olhou. - Senta aqui, vou servir seu café da manhã. - Sentei onde ela indicou. - Fiquei relutante em ligar para seu médico. Você tem que ir ao médico, se bem que eu acho que isso é emocional.

- Eu tenho certeza que é emocional. Com o tempo você vai entender. Preciso te contar tantas coisas, mas ainda não é tempo de falar.

- Entendo, não fique ansioso, isso atrapalha muito. Tenho certeza que tudo vai se resolver.

- Eu também tenho essa certeza. - Falei olhando para ela.

- Deixa eu te perguntar, você conhece algum neurologista? Já que você tem uns médicos no time, de repente lá tenha um. - Ela parecia um pouco confusa.

- Você está passando por alguma doença? - Perguntei curioso, mas já sabia do que tinha por trás.

- Eu devo ter perdido parte das minhas memórias. Eu não lembro muito bem da minha infância, mas eu tenho a sensação que tive mãe. Eu lembro de duas mulheres cuidando de mim, uma era minha tia, a outra eu não sei quem é. Ai. - Ela fez uma cara de dor.

- O que foi? - Arregalei os olhos e segurei sua mão.

- Sempre que esforço para lembrar de algo, minha cabeça dói. - Ela apoiou a mão na testa.

- Então vamos evitar pensar nisso. Vou me informar sobre o neuro. Caso não tenha no time, eu viro a França de cabeça para baixo, mas eu vou achar um para você. E vai ser o melhor que tiver no país.

- Obrigada, Abdiel. - Ouvi-la dizer meu nome, me dá vontade de chorar. Fiquei parado olhando seu lindo rosto.

- Não ligue se eu chorar de vez enquanto, tá?

- Tudo bem. Eu te entendo. - Ela sorriu de uma forma gentil.

- Você é curiosa? Se eu falasse algo para você, você ficaria ansiosa?

- Como assim?

- Se eu falasse que eu tenho algo para te dar, você ficaria ansiosa para receber?

- Acho que não ficaria ansiosa para receber, mas ficaria pensando no que seria. Ainda mais um presente de um milionário. - Ela sorriu.

- Então você só ficaria curiosa?

- Sim.

- Se eu tiver que voltar para o Brasil, você vem comigo?

- Claro que sim, agora eu tenho que cuidar de você. Foi para isso que fui contratada. E também eu fiz uma promessa para mim mesmo, que tenho que cuidar de você.

- Deixa passar essa temporada de campeonatos, daí vamos ao Brasil, vai ser por uma semana.

- Está bem. - Ela sorriu.  Meu apartamento estava exatamente do jeito que ela deixou. Suas roupas estavam todas penduradas do jeito dela. Até as almofadas da minha cama eu arrumava do jeito que ela tinha deixado.

- Eu posso tentar cozinhar para você? - Perguntei.

- Você? - Ela falou surpresa.

- Não parece que sei cozinhar? - Franzi as sobrancelhas.

- Não, não parece. - Ela falou e sorriu.

- Sinceridade é tudo, né? - Tentei prender o riso.

- Desculpe. - Ela colocou a mão na frente da boca para disfarçar a gargalhada.

- Pode rir. Você vai ficar surpresa.

- Me surpreenda então. - Ela falou ainda sorrindo.

- Deixa comigo. - Acabamos de tomar nosso café da manhã e eu fui para a cozinha. - Não tenho os ingredientes que preciso. Preciso ir ao supermercado.

- Eu vou com você. Quer que eu vá e você fica aqui? Se te conhecerem no supermercado?

- Está frio. Coloco um casaco de capuz e coloco um boné, tem os óculos escuros que vão me ajudar também. Espera um minuto. - Corri no quarto e me vesti. - Prontinho, dá para ver que sou eu?

- Bem. Se eu fosse sua fã, eu te conheceria até pela boca.

- Minha boca é diferente? Ou você achou minha boca bonita? - Passei a língua no lábio inferior e logo em seguida mordi. Ellie olhava boquiaberta.

- Olha só, isso não se faz. - Ela sorriu. - Você é bom em hipnotizar pessoas.

- Mas voltando ao assunto da minha boca. O que me diz?

- Sua boca tem o design diferente. Sim ela é muito bonita. Satisfeito? - Ela sorriu.

- Então vou de máscara, qualquer coisa estou doente.

- Pode ser, só não vai falar alto. As pessoas conheceriam sua voz.

- Está bem. - Ellie pegou o sobretudo e seguimos para a garagem do hotel. Meu técnico ligou para saber como eu estava, falei que estava bem e que estava indo para o supermercado com a nutricionista. Tínhamos que compara algumas coisas. Mandei a minha foto com o disfarce. Ele sorriu bastante.

- O supermercado está um pouco cheio. Não fale alto, não estamos com segurança aqui.   - Ellie falou assim que chegamos.

- Está bem. - É difícil ser uma pessoa pública, não temos privacidade para nada. Peguei as coisas e fui inventar de chamar Ellie em voz alta, ela estava do outro lado dos laticínios. Queria perguntar se ela tinha acchado macarrão fresco. Só falei uma única palavra, o nome dela, como as pessoas saberiam que era eu? As meninas que estavam próximo a mim pararam na mesma hora.

- Abdiel?

- É o Abdiel? - Começou a aglomeração.

- Gente, o Abdiel está aqui. - Elas começaram a gritar. Vi Ellie colocando a mão na testa do outro lado. Eu estava imóvel. Ela veio andando em minha direção.

- Amor, você já pegou tudo o que precisava? - Ouvi-la me chamar de amor me deu uma coisa por dentro, era assim que ela me chamava.

- Ellie. - Eu tentava falar, mas as palavras não saiam. - Eu preciso sentar. - Meu coração disparou. Quando fiquei tão fraco assim?

Remember Onde histórias criam vida. Descubra agora