Abdiel narrando
Tenho vivido dias mágicos, apesar de ter problemas no dia a dia, a vida se tornou tão leve e feliz.
Ellie tem cozinhado para mim e eu tenho depositado em sua conta o seu pagamento, ela se recusou, mas eu falei que é para a faculdade.Ian ainda tenta atormenta-la, mas já o ameacei. Tem feito seus trabalhos e tem tirado as notas baixas.
Ele tem observado Ellie com um olhar estranho, ainda não sei o que significa, mas vou descobrir.
Todos pensam que somos bons amigos, estamos disfarçando bem na frente dos outros.Meus pais entram em contato de vez enquanto, falam por 5 minutos e desligam. Isso já não me causa tanto desconforto, agora tenho uma pessoa que está comigo e não me permite ficar triste.
Levei Ellie em um psicólogo para conversar sobre o caso da mãe dela, por mais que não aceitemos certas coisas em nossas vidas, tem coisas que são inevitáveis. Então temos que nos preparar para não sofrermos tanto. Me preocupo muito com o bem-estar de Ellie.
O que estiver ao meu alcance, farei. Tanto por ela quanto por sua mãe.- Ellie, o que você acha de eu conversar com Ian? Falar da sua mãe, o que ela tem passado. Vai que ele é um peste lá na casa dele, vai que ele a trata mal. Acho que vou ligar para Bitencourt, o pai de Ian é bem mais humano.
- Mas se ele dispensar minha mãe por causa da doença? Minha preocupação é só essa. Ela pode entrar em depressão, daí vai acelerar sua morte.
- Verdade. Não sei o que faço. - Cocei a cabeça.
- Vamos arrumar um jeito.
- Ian não vai aceitar falar comigo. - Encostei uma mão no carro e a outra coloquei na testa tentando pensar em um jeito.
- Eu vou falar com ele. Já estou vacinada contra Ian, até porque se trata da minha mãe.
- Está bem. Mas não hesite em me pedir ajuda, caso ele não te respeite.
- Pode deixar. - Entramos no carro e seguimos para a escola. Hoje é segunda-feira novamente. Vamos para mais uma semana de aula.
Estacionei e abri a porta para Ellie descer. Ela ainda anda um pouco devagar, por causa do tornozelo.
Ian demorou chegar hoje, ele sentou em seu lugar e Ellie se levantou, indo até ele. Fingi não ver.- O que foi? - Ele olhou para ela se aproximando.
- Quero saber se você tem um minuto para conversar comigo.
- Por que conversaria com você? Não tenho tempo, me dê licença. - Ele olhou para o lado oposto em que Ellie estava. Encarou o vidro da janela. Devia lembrar de tudo que Ellie falou para ele, no dia que se machucou. Ele é do tipo que guarda rancor.
- Ian. Minha mãe está morrendo. - Ellie respirou fundo e seus olhos ficaram rasos de lágrimas.
- O quê? - Ele olhou para Ellie com os olhos arregalados. - Como assim?
- Agora ela tem pouco mais de 5 meses de vida. Ela se recusa a parar de trabalhar, o médico falou que se ela ficar em casa pode entrar em uma depressão. Isso pode acelerar sua morte. Por isso estou respeitando a vontade dela.
- Isso é uma opção dela. O que você quer afinal? - Ian no começo parecia demonstrar empatia, mas logo mudou.
- Só quero que a trate bem. Só isso. - Uma lágrima escorreu no rosto de Ellie. - Você sabe que tenho só minha mãe, não tenho mais ninguém. Ela passa mais tempo na sua casa do que comigo, cuide dela por mim. - Ian engoliu seco.
- Não cuido nem de mim, como vou cuidar da sua mãe? Aff. - Tentou demonstrar frieza.
- É só demonstra empatia, o bicho! Não está ouvindo que ela está prestes a perder a mãe? - Não me aguentei e falei do outro lado da sala.
- Se ela está trabalhando não pode estar tão ruim assim. Certo?
- Ian, você é um caso perdido. - Falei. - Nem todo mundo nasce em berço de ouro. - A mãe de Ellie estava trabalhando para pagar a faculdade da filha. Em uma conversa ela revelou isso, falei para ela que eu pagaria, que já estava depositando o dinheiro na conta de Ellie.
Ellie se sentou e fungou um pouco, ouvindo Ian dizer aquelas coisas.
- Vou ao banheiro, lavar o rosto. - Ellie estava com os olhos tristes.
- Quer que eu vá com você? - Perguntei.
- Não precisa, está tudo bem. Obrigada Abdiel. - Ellie saiu e eu fiquei olhando a cara de Ian.
- Ian, por que você é assim? Onde você se perdeu, cara? Eu sinceramente, queria entender a sua raiva por pessoas de classe baixa.
- Águia voa com águia. - Falou rispidamente.
- Você já nasceu em uma família rica, não sabe o que é dar duro para conquistar algo. Já seu pai deu tudo de si, por isso você está aqui. Valorize as coisas, tenha empatia. Você vai acabar ficando sozinho.
- Quem disse que eu quero companhia? Já chega de falar na minha cabeça, se eu quiser fazer terapia eu pago uma consulta. Ok?
- Está certo! Espero que nunca passe por nada parecido.
Ian nem parece ser humano, como pode ter alguém tão frio assim? Só pode ser uma máscara, me recuso acreditar que seja de verdade.
Olhei para ele e ele estava olhando para fora pelo vidro da janela. Parecia pensar.
Ellie voltou e sentou em seu lugar.
A aula seguiu e logo já era hora do intervalo. Fomos para a biblioteca fazer algumas pesquisas.- Abdiel, cadê o livro? - Ela estava no corredor procurando por algo, olhava por todos os lugares.
- Qual livro? - Ela estava abaixada olhando na prateleira de baixo.
- O livro que você roubou da minha mão. - Ela sorriu e levantou.
- Remember? - Falei.
- Esse. Onde você deixou? Ao menos você devolveu? - Ela colocou as mãos na cintura e me encarou.
- Sabe de uma coisa? Eu não sei onde foi parar. - Cocei a cabeça. - Vou dar uma olhadinha nas coisas lá em casa. Talvez esteja com meus livros. Se eu não achar, compro outro para a escola e um para você.
- É difícil achar. Eu já tentei comprar pela internet. Não tem mais para vender.
- Nem que eu tenha que achar a escritora ou a editora, mas sem o livro você não vai ficar. Ou se preferir, eu te conto o final. - Ela me puxou e me deu um selinho. Não estava esperando por isso.
- Não precisa me contar. - Ellie sorriu, me olhando. Estava alguns centímetros de distância. Fiquei hipnotizado olhando seu sorriso.
- Você é muito espontânea e isso me deixa de pernas bambas. Agora quando eu quiser beijo, vou falar que vou te contar o final do livro. - Sorri.
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Remember
RomanceRemember A vida é feita de lembranças, sejam elas boas ou ruins. A vida é uma coleção de momentos. O que passamos na vida nos impulsiona a conquistar coisas e chegarmos em lugares altos. Nossa memória tem o poder de guardar tudo o que passamos. T...