Capítulo 7

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Abdiel narrando

Ellie abriu a embalagem do celular e apertou para ligar.

- Gostou da cor? - O meu é dourado, o dela é rosa bebê.

- Eu amei, essa é a minha cor preferida. Eu amo rosa.

- Sério? Que bom que acertei. Aí dentro da sacola tem película e algumas capinhas, sei que vocês , mulheres, gostam de combinar capinha com a roupa. Eu tiro pela minha mãe. - Sorri.

- Você ainda pensou nisso? Você é de verdade mesmo?

- Sou, olha aqui. - Peguei a mão dela e passei no meu rosto. Pra que fui fazer isso? Ellie congelou me olhando e eu congelei olhando para ela. Ainda segurava  sua mão no meu rosto. Eu sou muito impulsivo, só vou pensar depois de ter feito as coisas,mas nunca tinha deixado alguém encostar no meu rosto, nem ficar assim tão próximo. Ela tirou o pigarro da garganta e sorriu, descongelando.

- Realmente você é de verdade e tem uma pele maravilhosa. - Ela sorriu e desviou o olhar.

- Ah, obrigado. - Cocei a cabeça sem graça.

- Anota aqui para mim seu contato. - Ela me deu o celular. Anotei e devolvi para ela. - Deixa eu configurar o chip para eu te ligar, só um minuto. - Ela concentrou mexendo  no celular e eu a admirava. Ellie estava com um rabo de cavalo e seu rosto estava visível. A luz do poste refletia em sua pele. Ela olhou para mim e sorriu, voltou logo a atenção para o celular.

- Conseguiu? - Falei, disfarçando.

- Como eu volto para a página inicial? - Ela esticou celular para eu ensinar. Sorri e puxei a mão dela pra mais perto de mim.

- Aqui na parte superior, ou pode apertar esse botão aqui na parte de baixo. Daí volta para o início.

- Obrigada. Se eu tiver dúvidas, vou te perguntar.

- Pode perguntar, eu gosto de ajudar. - Sorri.

- Muito obrigada Abdiel. Agora eu tenho que ir, está ficando tarde. Daqui a pouco o ônibus para de circular. - Ela se levantou e eu me levantei também.

- Pena eu não ter outro capacete. Não posso colocar sua vida em risco. Aqui tem algumas lojas, mas todas já estão fechadas. - Olhei ao redor.

- Não se preocupe. Você já fez muito por mim hoje. Vem aqui, vamos tirar uma selfie para lembrarmos desse dia. - Ela sorriu e parou ao meu lado. Ligou a câmera do celular e esticou o braço. Cruzei meus braços e sorri, meus olhos quase sumiram.

- Ficou boa? - Ela virou o celular para mostrar. - Vamos tirar mais uma, meu olho sumiu na foto.

- Está lindo. Mas se quiser podemos tirar mais uma. - Ela esticou o braço novamente. - Sorri de um jeito mais sútil.

- Acho que essa ficou melhor. - Falei olhando a foto.

- As duas estão lindas.

- Só se for desse lado aqui. - Indiquei com o dedo o lado que ela estava.

- Você é bobo. - Ela riu. - Já vou indo, muito obrigada por hoje. - Ela me abraçou. Eu não esperava ela fazer isso, logo eu, um cara impulsivo não esperava. Congelei.

- É estranho ser abraçado por alguém. - Sorri. - Mas isso é um diferente bom. Obrigado por esse abraço.

- Desculpe eu não ter perguntado, só estou muito feliz. - Ela ainda permaneceu um tempo assim. Depois me soltou. - Volta em segurança, tá bom? - Ela olhou em meus olhos.

- Pode deixar. Mas antes, vou te levar no ponto para esperar o ônibus com você.

- Não precisa. Pode ir descansar, amanhã tem educação física. Você tem que estar descansado para o treino.

- Eu descanso depois. - Vamos? Onde fica o ponto?

- Na esquina. - Peguei a moto e empurrei até a esquina. Ficava próxima ao restaurante. Esperamos o ônibus por uns quinze minutos.

- Lá vem ele. - Falei observando o ônibus. - É esse?

- Sim, é sim. Obrigada Abdiel. - Ela sorriu para mim e esticou a mão para eu apertar. 

- Por nada. Quando chegar em casa me liga. Cuidado. - Apertei sua mão de volta.

- Obrigada. Vá com cuidado. - Ela fez sinal e o ônibus parou. Enquanto ela entrava no ônibus, sentei na moto e fiquei a observando. Ela sentou e me deu tchau. Retribui e coloquei o capacete. Após o ônibus sair, liguei a moto, ouvi meu celular tocando.

- Alô? - O número era desconhecido.

- É a Ellie, anota meu contato. Esqueci de te dar. - Ela sorriu do outro lado da linha.

- Pode deixar. - Falei.

- Quando chegar me liga. Se cuida. Até mais.

- Tá bom. Até mais.

Ela desligou e eu fiquei olhando para o celular. O celular acendeu com uma mensagem. Abri e era a mensagem de Ellie, nossa foto.
Fiquei parado olhando a foto, deixei escapar um sorriso. Guardei o celular e liguei a moto, acelerei indo em direção à minha casa.
Deixei a moto na garagem do apartamento e subi de elevador.
Mandei mensagem para Ellie, avisando que eu já tinha chegado.
Preferi não ligar para ela não correr riscos na rua, atendendo telefone.
Pedi para ela me ligar ao chegar em casa.

Tomei banho e me vesti, deitei na cama esperando sua ligação.
Já estava ficando preocupado, por isso ela não almoçou, realmente o lugar é distante de sua casa.
O celular acendeu com uma mensagem, ela avisou que desceria do ônibus.
Uns quinze minutos depois ela ligou.

- Olá. Acabei de chegar em casa. Vou tomar banho e vou deitar. Desculpe te deixar acordado esse tempo todo.

- Eu estava preocupado com você. É muito distante onde você mora.

- Sim, tem dias que levo mais de uma hora. Hoje ainda foi tranquilo.

- Descansa, pelo menos está tudo bem.

- Tá bom. Ih, lembrei que tenho que fazer um trabalho. Não posso deixar para amanhã, amanhã o dia é muito cansativo no serviço, não terei tempo. Descansa, tá bom? Não vou tomar mais seu tempo. Obrigada por hoje.

- Mas, você vai ficar muito cansada.

- Já estou acostumada com isso.

- Não vou te ocupar ainda mais. Tenta descansar. - Falei

- Assim que der, eu descanso. Beijinho, até mais, boa noite.

- Até! Boa noite. Beijos.

Ellie desligou e eu fiquei ali, com o coração partido. Quando que ela descansa? Não tem amigos, a mãe dorme no trabalho, não conhece o pai, estuda muito, aguenta humilhações e ainda trabalha até tarde.




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