Capítulo 54

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Abdiel narrando

Recebi alta logo pela manhã, Ellie ficou comigo durante todo o tempo. Hoje não teria jogo, então tiraria o dia para descansar.
Minha mãe ligou preocupada, mas eu falei que já estava tudo bem e que eu já tinha achado uma nutricionista.
Ela ficou mais tranquila.

- Abdiel, terei que ir em casa pegar roupa. Tenho que tomar um banho também.

- Sem problemas. Eu posso ir com você?

- Sério? Não vai ter problemas? Você é uma celebridade. - Ela estava meio desconfortável e eu queria ficar agarrado nela.

- Eu tenho boné e óculos na minha bolsa, não se preocupe. - Abri a bolsa para pegar o boné, quando puxei, o cordão de outro branco caiu no chão. Nele estava minha aliança de noivado com Ellie.

- Eu pego, evite abaixar a cabeça. - Ellie abaixou para pegar e ficou parada olhando a aliança enfiada no cordão.

- O que foi? - Perguntei, já sabendo do que se tratava.

- Essa aliança... É igual a minha. - Ela puxou o cordão de dentro da blusa. Estava pendurado em seu pescoço. - Coloco no cordão porque tenho que manusear alimentos. - Ela parecia estar em choque.

- Temos os gostos iguais. - Ellie só pode está sofrendo de uma forte amnésia. Já tive a certeza que não estou louco, pois os médicos conversaram com ela antes da minha aula. Vi até que Dereck está muito assanhadinho para o lado dela. Vou ter que reconquista-la, difícil vai ser controlar meus impulsos. - Quem te deu essa aliança?

- Eu não lembro. Sofri um acidente há quatro anos. Meu amigo me diz que a minha vida era exatamente igual a de quando acordei. Mas eu sinto que algo foi bloqueado na minha mente e dentro de mim. Após o acidente, acordei no hospital com traumatismo craniano. Desde o dia que acordei sinto um vazio e uma tristeza, sinto vontade de chorar quando estou sozinha, sinto falta de alguém que não sei dizer quem é. Tem noites que acordo chorando, tenho pesadelos que estou perdendo um namorado. Desculpe está te falando isso, nunca contei isso para ninguém.

- Você pode me contar o que quiser. - Meus olhos estavam rasos de lágrimas. Como eu queria agarrar Ellie e fazê-la lembrar de nós.

- Obrigada. - Ela assentiu com a cabeça.

- Até porque, você vai ficar muito tempo comigo, a maior parte do dia.

- Verdade.

- Ellie, você pode me dar a mão para eu me apoiar. Estou um pouco tonto. - Tudo mentira, era a vontade de ficar agarrado nela. Eu que não ia perder a oportunidade dela me tocar. Pra quem não gostava de ser tocado, hoje estou implorando. Bem que ela me falou um dia, que eu iria implorar para ela me abraçar e tocar em mim, esse dia chegou.

- Sim, claro. - Ela estendeu a mão para mim e eu entrelacei meus dedos nos dela. Uma crise de choro veio logo atrás. Como é bom sentir o toque de Ellie. - O que foi? Está tendo aquela crise novamente? - Ela parou de frente para mim. - O que eu faço? - Ela estava visivelmente nervosa.

- Você pode me abraçar?

- Abraçar? Como assim?

- Assim. - A puxei para um abraço. - Só me deixa aqui por alguns minutos, eu já te peço desculpas por isso. - A envolvi nos meus braços e chorei tudo o que pude. Ela estava com a cabeça apoiada no meu tórax.

- Posso te abraçar? - A voz dela era gentil.

- Por favor, faça isso. - Ela envolveu os braços na minha cintura e ficamos ali por alguns longos minutos. Ao nos separar Ellie limpou o nariz com as costas da mão.

- Desculpe, eu nem sei porque estou chorando. - Ela limpou os olhos com os dedos.

- Eu que te peço desculpas. Vou pedir um carro no aplicativo, me diz qual o seu endereço.

- Não precisa. Eu estou de carro.

- Como você amadureceu. - Eu a olhava.

- Não entendi. - Ela ficou meio sem entender.

- Deixa pra lá. - Sorri. - Estou sob o efeito dos remédios ainda.

- Você tem certeza que quer ir comigo? Não prefere que eu te leve para seu apartamento?

- Vou estar melhor com você. No caminho eu ligo para o meu técnico. Vamos? - Estendi a mão para ela.

- Vamos. - Ela segurou minha mão e fomos caminhando em direção ao seu carro. - Você prefere ir na frente ou na parte de trás?

- Quero ir do seu lado. Não estou bem psicologicamente, preciso ter alguém ao meu lado. Como você é brasileira, igual a mim, eu fico mais confortável.

- Entendo. Põe o cinto, por favor. - Colocamos e ela começou a dirigir. Ellie é muito atenciosa no trânsito. - Se quiser ir em algum lugar, é só falar. Conheço bastante lugares por aqui. - Ela fez uma pausa. - Você deve ter amigos para sair e estou aqui oferecendo minha companhia. - Ela balançou a cabeça de forma negativa.

- Acabei de falar que eu preciso de uma pessoa para conversar, não tenho ninguém e estou a vontade com você. Eu não sou de fazer amizades. Não gosto de noitada e nem dá minha casa cheia.

- Entendi. Então se precisar de algo, é  só falar.

- Está bem. Só de não ficar sozinho, já é muita coisa.

Chegamos em frente ao prédio onde ficava o apartamento dela. Ellie digitou a senha do seu portão e eu fiquei surpreso ao ver, tinha um portão e um escada, a senha era a data do meu aniversário, o dia em que começamos a namorar.

- O que foi? - Ela me olhou com os olhos surpresos.

- Desculpe, acabei vendo sua senha. É é a data do meu aniversário.

- Sério? - Ela ficou pensativa. - Desde que acordei, esse número fica martelando na minha cabeça, até pensei que fosse a data do meu aniversário. Quando olhei na minha identidade, vi que não era. Parece até que temos algum tipo de ligação.

- Pois é. - Eu queria dizer que eu era seu noivo, mas estava morrendo de medo dela sair correndo. Eu tinha que controlar minhas emoções. Minha impulsividade ia ser controlada na marra.

Subimos e paramos em frente ao seu apartamento. Ela digitou a mesma senha e nós entramos.

- Pode ficar a vontade. Vou tomar um banho e pegar algumas peças de roupas para deixar no carro. Tenho comida no freezer, depois que eu tomar banho vou por para você. Testei algumas comidas coreanas.

- Estou louco para experimentar. - Sorri com os olhos.

- Fique a vontade. - Ellie colocou a bolsa em cima da mesa e caminhou em direção ao quarto. Entrei no banheiro e observei as coisas, o perfume dela estava lá. Espremi na direção do meu colarinho, assim eu poderia sentir o cheiro. Voltei para as sala e sentei no sofá, puxei a blusa até a altura do meu nariz. Aquele cheiro me fazia dormir em paz durante a noite. Deitei no sofá e fiquei observando a decoração da casa dela. Tudo muito bem organizado e muito claro. Me senti tão acolhido e protegido, me encolhi um pouco deitado no sofá. Acabei adormecendo ali mesmo, sentindo o cheiro dela na minha blusa.

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