Capítulo 23

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Abdiel narrando

Ellie tocou no meu ombro me fazendo olha-la, levantou o celular em minha direção. Entendi que era para tirar uma selfie, para lembramos desse dia.
Até sem selfie eu me lembraria desse dia; o dia em que eu quase beijei minha amiga.
Olhei em  direção ao celular e sorri, Ellie chegou para o lado, para ficar mais próxima de mim e deitou a cabeça no meu ombro. Saí na foto olhando para ela.

- Pera aí, tira outra. Não olhei para a foto. - Falei apressadamente.

- Pronto? - Ela segurava o celular no alto.

- Vai! - Falei e sorri. Olhando para o celular, tentando controlar as batidas involuntárias do meu coração. Por que raios ele foi disparar agora? Coração doido. Decidi pegar o celular da mão dela e mudar a posição, quem sabe assim ela pelo menos levanta a cabeça do meu ombro. - Me dê aqui, acho que a luz está melhor desse lado. - Peguei o celular e coloquei do lado oposto, fazendo Ellie levantar a cabeça do meu ombro. Pra minha surpresa... Ela entrelaçou os dedos dela nos meus. Olhei para frente com os olhos arregalados. Era tudo o que eu temia.

- O que foi? Está passando mal? - Ela inclinou a cabeça para me olhar.

- Não é isso. É o contato físico. - Fui sincero.

- Desculpe, desculpe, desculpe. Eu tenho que controlar esse meu jeito. - Ela soltou minha mão apressadamente.

- Não precisa se desculpar. É só me perguntar, está bem? - Respirei aliviado.

- Está bem. - Ellie abaixou a cabeça sem graça, seus olhos ficaram rasos de lágrimas.

- Não precisa ficar assim, vou te filmar. - Apertei para começar a filmar. - Olha sua cara de chorona, olha aqui. - Sorria enquanto falava.

- Estou assim porque não posso tocar no senhor intocável. - Ela riu e uma lágrima escorreu em seu rosto. Se ela soubesse o que seu toque causava em mim...

- Para de ser chorona. Só não estou acostumado, ok? Quando eu ficar um grude, aí você vai reclamar.

- Até parece! Você não quer ser tocado, pois bem. Vou deixar você implorar para eu te tocar. - Ela sorriu e limpou as lágrimas com as mãos. Aquilo me deu uma certa dor no peito. Não senti-la tocando em mim? Eu também não sei o que  quero, pareço estar ficando doido. Tirei o celular da câmera.

- Vem, deita aqui. - Bati no ombro. - Desculpe!

- Agora não vou. Não quero mais. - Ela sorriu e cruzou os braços.

- Olha a pirraça, heim! - Sorri de volta. Não é que ela não deitou mesmo? Ah, mas eu não ia implorar, não faz meu tipo ficar pedindo as coisas. Por enquanto estou sendo forte.

Ela seguiu a viagem olhando para fora, pelo o vidro da janela. Eu olhava para fora através  do vidro da janela do lado que ela estava sentada, na esperança dela olhar em minha direção. Disfarçando para olhar Ellie.

- Chegamos. - Falou o motorista.

- Vai ser pago no cartão, ok? - Falei.

- Ok. Precisa de ajuda?

- Não. Muito obrigado. - Desci, peguei as muletas no portas malas e abri a porta para Ellie sair. Ela se apoiou nas muletas e foi caminhando em direção ao portão de sua casa. Abri o portão e fiquei segurando para ela entrar.

- Obrigada. - Ellie passou por mim. Corri na frente para abrir a porta de sua casa.

- Cuidado com o tapete. - Puxei com o pé para o lado.

- Você é muito cuidadoso. - Ela sentou no sofá. - Obrigada.

- Vai ter volta. Você acha que estou fazendo isso porque sou bonzinho?

- Ah, então tem interesse por trás. Eu sabia. - Ela sorriu.

- Acertou na mosca. - Pisquei um dos olhos para ela.

- Senta aqui do meu lado. - Ela bateu no sofá. Sentei e meu coração começou a acelerar. O perfume de Ellie grudou no meu nariz, parece que meus sentidos estão todos aguçados. Como se controla as batidas do coração?

- Vou ter que sair agora. - Meu coração estava tão acelerado que estava audível. Que raios é isso?

- Mas assim, derrepente?

- Sim. - Falei, ameaçando levantar do sofá.

- E se eu não deixar você ir? - Ela segurou meu braço e sorriu. Se eu continuasse ali eu não ia conseguir me segurar, se fosse doce ela não deixaria eu sair. Tive que ser seco.

- O que eu já falei com você? - Ela arregalou os olhos e me soltou. - Não me toque sem a minha permissão. - Minha vontade era de agarra-la.

Era melhor Ellie ter me xingando ou falado algo.
Ela levantou do sofá, pegou as bengalas e foi caminhando para o quarto dela. Antes de fechar a porta ela falou, quase não deu para ouvir sua voz:

- Obrigada por hoje, se cuida, volte com cuidado. - Minha moto estava no quintal da casa dela. Ela deixou a porta do quarto entre aberta e entrou.

Ótimo! O que eu fiz?
Passei a mão no rosto e respirei fundo, eu não podia ir atrás de Ellie. Se fosse atrás dela eu não aguentaria, ia acabar passando dos limites.
Talvez eu tenha que deixar de ser amigo dela, está difícil controlar meus impulsos, daí tenho que ser grosso com ela.
Ellie não merece isso.
Sai e fechei a porta, caminhei vagarosamente até a moto. O tal carro estava parado do outro lado da rua, deve ser de algum morador.

Enquanto ia para casa, pensava em um jeito de me desculpar com Ellie.
Mas pensava em um jeito de me afastar dela, terei que fazer um teste pra ver se consigo ficar longe.
Logo agora que ela está debilitada, como vou ser covarde nesse nível?
Entrei em casa e em joguei no sofá, peguei uma almofada e coloquei no rosto. Gritei o mais alto que pude, com o rosto enfiado na almofada.
Fui para o banheiro e tirei a roupa, entrei embaixo do chuveiro e apoiei as mãos na parede. Deixei a água cair nas minhas costas.

Escutei a campainha tocar. Quem seria?
Me enrolei na toalha e fui olhar a câmera, para ver quem era. Corri e abri a porta.

- Surpresa! - Meus pais falaram uníssono, quando abri a porta.

- Não acredito nisso. Quando chegaram?

- Chegamos hoje, nos hospedamos em um hotel perto daqui. - Meu pai falou.

- Pensei que vocês iriam ficar aqui em casa.

- Temos algumas reuniões, por isso já viemos hoje mesmo. - Respondeu minha mãe.

- Entendi. - E eu pensando que eles estavam aqui por minha causa. - Entrem, vou me vestir.

Fui para meu quarto com a moral lá no chão. Crente, crente que eles vieram comemorar meu aniversário, ou passar alguns dias comigo.
Já sei até o final da história, vão me dar um presente caro e vai ficar por isso mesmo.
Trocaria os presentes pela presença deles.
Meus olhos estavam rasos de lágrimas, pior que acabei de magoar uma pessoa que se importa comigo.
Como faço para não deixar meu desespero emocional me dominar?


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