Capítulo 53

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Ellie narrando

Abdiel é um cara estilo bad boy, é conhecido como o senhor intocável. Tem até um segurança que impede as pessoas de tocarem nele.
O estudei enquanto o observava jogar.
No final do jogo ele olhou em minha direção e congelou no meio do campo. Parecia estar vendo um fantasma.

O acompanhei durante todo o trajeto, até o hospital. Fiquei do lado de fora, esperando ele acordar.
Fiquei com dó em vê-lo em um quarto sozinho. Esperei até ele acordar, para dar sua refeição.

A enfermeira me chamou ao sair do quarto, pediu para eu entrar com a nutrição dele.
Abdiel estava de lado, parecia querer pegar uma bolsa pendurada na parede.
Ao ouvir minha voz, ele meio que congelou novamente.

- Ellie? - Como ele sabia meu nome? Eu estava com a mão apoiada em  seu peito. O impedindo de levantar. Por um momento esqueci que ele era o senhor intocável, eu não podia tocar  nele. Seus batimentos aceleraram tanto que ele começou a dar crise. Será que foi por que toquei nele?

Os médicos entraram e deram alguns medicamentos em Abdiel, ele logo adormeceu.
Pediram para eu sentar e ficar ali perto. Assim eu fiz.
Entregaram uma refeição para mim e fiquei ali, esperando ele acordar.
Me aproximei dele e observei, seu rosto é perfeitamente esculpido. Tive vontade de toca-lo, mas recuei logo em seguida. Se ele acordasse poderia perder meu emprego.
Sentei e fiquei o esperando acordar.

Ele acordou querendo arrancar as coisas, parecia que queria sair correndo dali. Coloquei minha mão em seu peito novamente e tentei acalma-lo.
Agora em uma breve conversar, Abdiel caiu em prantos. Falava coisas sem nexo, pelo menos para mim. Talvez seja o efeito do remédio.
O estranho foi ele pedir para eu ficar, ainda segurou por cima da minha mão.
Os médicos aplicaram um líquido no soro e ele  dormiu novamente.

- O que está havendo com ele? Será que é minha presença que está causando isso? - Perguntei curiosa com medo de ser porque toquei nele.

- Abdiel já teve uma depressão profunda e já tentou suicídio diversas vezes. Talvez o remédio que ele toma esteja afetando em alguma coisa. Ele também não come comida de qualquer pessoa, sabe se lá quando foi sua última refeição. Por isso está com desnutrição e hipoglicemia. - O médico foi sincero comigo.

- Entendi. Ontem eu fiz a comida para ele, ele se alimentou.

- Sério? Isso é muito bom. Se ele gostou da sua comida, se prepare. - O médico sorriu.

- Já sou a nutricionista oficial dele, comecei hoje. - Eu não era muito de sorrir, mas o médico estava com um sorriso escancarado.

- Bem-vinda ao intensivão. - Ele estendeu a mão para eu apertar. - Agora você não vai ter mais vida social. Eu sou o médico do time. Me chamo Dereck. - Tinha outros médicos em volta de Abdiel, mas logo saíram.

- Muito prazer, me chamo Ellie. - Dei um sorriso fino.

- Tenho que a atender outros pacientes por aqui, tenho dois do time lesionados, mas se precisar de alguma coisa, me avisa. Essa poltrona ali vira cama, você pode deitar nela. - Ele apontou a poltrona no canto do quarto. - Tem cobertor dentro dos armários.

- Muito obrigada. Um bom plantão para o senhor.

- Obrigado. Se sentir fome, tem coisas para comer na geladeira. - Tinha um frigobar no quarto . - Agora ele vai até amanhã agora. - Se referiu a Abdiel.  - Descansa.

- Está bem. Obrigada, mais uma vez.

Ele saiu e eu fiquei ali, em pé. Observava Abdiel.
O que levou esse homem, tão lindo e rico a tentar suicídio? Olhei seu punho esquerdo, tinha cicatrizes, algumas mais antigas outras mais recentes. Passei o dedo ali, sentindo uma pontada de dor.  Em suas pernas tinham cicatrizes de alguns furos, parecia ter colocar ferro. No seu braço direito também tinha algumas cicatrizes de operação. Peguei o cobertor no armário e o cobri.
Tirei uma mecha de cabelo que estava caída em seu rosto, tirei o cabelo e ajeitei o travesseiro embaixo de sua cabeça.

- Ellie, não vá embora. Não me deixe sozinho. - Ele sussurro, estava com os olhos fechados. Talvez tenha medo de ficar sozinho no hospital.

- Eu vou ficar aqui, descansa. Quando você acordar, eu estarei aqui. Agora descanse. - Sussurei para ele.

Deitei na poltrona / cama e fiquei olhando Abdiel até meus olhos começarem a pesar. Dormi bem confortável.
Assim que o dia clareou, fui na cozinha do hospital. Preparei o café da manhã dele.
Juntei tudo em uma bandeja e levei para o quarto.

Abdiel narrando

Acordei e não vi Ellie no quarto. Tive medo de eu estar ficando maluco ou alucinando. Eu estava disposto a arrancar os acessos e ir atrás dela.
Quando pensei em fazer isso, a porta do quarto abriu.

- Olá, já está acordado? Trouxe seu café da manhã. Eu mesma fiz. - Aquela voz me acalmava. 

- Bom dia. Você pode pôr aqui no meu colo, por favor? - Relaxei.

- Sim. Vai precisar de ajuda para comer?

- Sim. Minhas mãos estão muito trêmulas. - Era verdade que estavam trêmulas, mas nada que me impedia de comer sozinho. Eu queria que ela ficasse agarrada em mim.

- Está bem. Esse aqui é um suco de pêra. - Ela colocou o canudo em minhas boca.

- Está delicioso, pêra é minha fruta preferida.

- Sério? Que bom que acertei. - Ela deu um sorriso fraco. Isso não era do seu feitio. Essa versão de Ellie era triste e não sorria com vontade.

- Ellie, me conte um pouco de você. Você se formou quando? - Estava curioso. Mas ainda tinha dúvidas se eu estava alucinando. Se dependesse de eu ficar louco para tê-la comigo, eu ficaria louco com prazer.

- Tem pouco menos de um ano.

- O que te levou a ser nutricionista? - Perguntei.

- Tenho tido um sonho, há quatro anos. No sonho eu tenho que me tornar nutricionista, para cuidar da alimentação de um jogador de futebol. No sonho,
ele é muito ruim de comer, daí eu tenho que cuidar dele. Mas sempre que tenho esse sonho, não consigo enxergar o rosto dele. - Ela acabou de falar e levou as duas mãos na boca.

- Então seu sonho acabou de se tornar realidade? - Falei enquanto comia, ela deu o pão para eu morder.

- Para você ver. Até parece que estou no sonho. Como isso pode acontecer? Pode deixar que vou cuidar direitinho de você, vou fazer sua comida para  não ter que ficar no hospital. Você vai ser bem tratado.

- Disso eu não tenho dúvidas. - Falei.

- Depois eu faço uma planilha com o que você gosta, daí vai ficar mais fácil.

- Se você me der pedra para comer, eu sou capaz de comer.

- Engraçado, parece que já ouvi você dizer uma coisa assim. - Ela parou um pouco e colocou a mão na testa.

- Djavu. - Falei e sorri.

- Oi? - Ela me olhou sem entender muito.

- Essa sensação de já ter vivido algo.

- Entendi. Deve ser isso. - Ela continuou dando o café da manhã na minha boca. Eu desfrutei cada segundo do momento. Ficar doente tem suas vantagens.

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