Tempestades & Arco-íris (Wenclair)

Chapter Thirty (Part One)

Wednesday Addams - Point Of View

Ao acordar no meio da madrugada, tive a impressão de que aquele dia estivesse sendo infinito para nós.

Não que houvessem reclamações sobre isso. O encontro com a minha garota estava sendo um mar de dálias negras, embora eu estivesse agonizando com todas suas provocações infundadas.

A luz do abajur iluminava os arredores parcialmente, certamente um incômodo para meus olhos. A ideia de estar imersa na completa escuridão, sem espaço nem mesmo para raios lunares, parecia perfeita. Com minha chegada à Nevermore Academy, e minha aceitação da importância de Enid Sinclair, passei a sempre permitir que a luz entrasse para priorizar seu conforto.

- W-wed... - Enid murmurou, remexendo-se.

Minha colega de quarto resmungou pela décima vez no mesmo minuto. Eram sempre palavras perdidas, expelidas em um fio de voz, como um ato desesperado para destravar a garganta.

Não pude deixar de notar que, de alguma forma, eu era a causa de sua inquietude em sonho. De repente, retornei a nossa estadia na barraca durante o acampamento.

Enid Sinclair gemia da mesma forma, quase dando-me uma amostra de exorcismo, tamanha era sua contorção. Agradecendo pela luz do abajur entre nós, pude constatar suas bochechas coradas e gotículas de suor acumuladas na testa.

Seu cabelo estava desgrenhado e a boca entreaberta, permitindo que os sussuros saíssem.

Engoli seco, enquanto dava uma boa olhada em cada caraterística sua. Assim que meu corpo apresentou reações contrárias e desrespeitosas, voltei à mim.

- Sinclair! - Chamei-a, em uma tentativa desesperada de acordá-la e sair do nosso transe sincronizado - Teve um pesadelo? Estava quase convulsionando.

Deixei que um suspiro de alívio escapasse da minha boca ao testemunhar seu despertar. Enid Sinclair havia acordado, e mesmo que minha garganta estivesse seca, passaria.

Estabelecemos um curto diálogo. Minha colega de quarto pareceu aérea e desconcertada, mas tive empatia o suficiente para não questionar.

Havia outro sonho erótico entre nós, mas de qualquer forma, eu não gostaria de interferir no curso natural das coisas. Levando em consideração suas interrupções abruptas sempre que iniciavámos contatos mais íntimos, Enid Sinclair não estava pronta para deixar que eu a reivindicasse outra vez e eu, sem dúvidas, respeitaria.

Estando certa de que não presenciaria seus sonhos questionáveis novamente, descansei os braços sobre o corpo e fechei os olhos.

Aos poucos, emergi em meu treinamento para o descanso eterno. Desejei que meus pesadelos fossem repletos de tortura psicológica, perseguição e tentativa de homicídio.

[...]

O despertar ocorreu em um piscar de olhos para mim, mesmo que houvesse se passado mais tempo.

Meus olhos se abriram imediatamente, mesmo que não existisse a necessidade de movimentos bruscos. Permaneci imóvel.

Dessa vez o abajur estava apagado, permitindo com que o quarto fosse tomado pela escuridão. Os tons da cortina eram escuros o suficiente para impedir que a luz da lua circulasse.

Fogo se alastrava por todo o meu corpo, fazendo com que cada órgão definhasse e que minhas terminações nervosas agonizassem, em um pedido de socorro silencioso.

Meu órgão responsável por bombear sangue palpitava com fervor, como se estivesse prestes a parar a qualquer instante. Era como experimentar a antecipação de um ataque cardíaco.