Capítulo 49

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Mikey caminhava pelos corredores do presídio com a expressão mais serena que alguém como ele poderia ostentar. Ser escoltado por três guardas armados até os dentes já era rotina, mas dessa vez, algo nele parecia diferente. Talvez fosse o banho decente que finalmente conseguiu tomar, ou talvez fosse o fato de que Ran não estava ali, tagarelando e irritando-o como uma mosca persistente.

Não, Ran tinha uma missão importante: vigiar Angel e os policiais corruptos que fariam a mágica da fuga acontecer no dia seguinte. Não podia haver margem para erros. Não quando a liberdade estava tão perto que ele quase conseguia senti-la. Além disso, ele precisava de um momento de tranquilidade — ou pelo menos, o mais próximo disso que se pode conseguir em uma prisão cheia de assassinos e ladrões.

Pensar no Haitani lhe trouxe uma surpresa, ele não sentia mais a mesma raiva que o consumia antes. Nos primeiros dias, encarcerados na delegacia, discutir com Ran era o evento principal de sua rotina, como um programa de auditório com insultos ao vivo. Mas agora... Agora ele sentia algo estranhamente parecido com paz. Ele pensou nas desculpas trocadas na noite anterior, um momento tão surreal que, honestamente, poderia ter sido um sonho. A ideia de que eles poderiam, talvez, quem sabe, voltar a confiar um no outro parecia possível.

O que deveria ser ridículo!

Mas claro, essa paz durou o que? Uns dois minutos? Porque logo o rosto de Sanzu apareceu em sua mente. Não o Sanzu caótico, o agente do caos que Manjiro conhecia tão bem. Não, esse era o Sanzu de antes, quando sua lealdade e confiança em Mikey eram inabaláveis. O rosto dele em sua cabeça parecia estar manchado pela decepção, e isso fazia o peito de Mikey apertar de um jeito que nenhuma briga ou ferida física poderia explicar. Ele suspirou, os olhos fixos no chão, enquanto tentava afastar o peso dessa culpa.

Tão perdido em seus pensamentos, Mikey mal notou que os guardas não estavam o levando ao pátio para a recreação, como de costume. Quando ele finalmente se deu conta, ergueu os olhos para perceber que o caminho parecia um pouco errado. Ele parou abruptamente, fazendo os guardas trocarem olhares irritados.

— Ei, para onde estamos indo? — Ele perguntou, sua voz carregando aquele tom levemente desafiador, mas ainda controlado.

Os guardas, em um grande exemplo de profissionalismo, ignoraram completamente a pergunta. Eles continuaram andando, e um deles até empurrou o Sano pelas costas com um gesto rude.

As sobrancelhas de Mikey se franziram em irritação, se os desgraçados não estivessem com tantas armas ao alcance ele teria os derrubado com chutes.

Seu desconforto crescia. Aqueles caras estavam sendo mais hostis do que o normal. Não que Mikey estivesse acostumado a sorrisos ou gestos de gentileza, mas ser tratado como um saco de batatas prestes a ser jogado no lixo era definitivamente novo.

Quando chegaram a uma porta de metal no fim do corredor, Manjiro parou novamente. Um dos guardas abriu a porta com um estalo seco e, sem qualquer aviso, empurrou Mikey com força para dentro. O gesto foi tão brusco que ele tropeçou para frente, quase perdendo o equilíbrio. O Sano se virou imediatamente, os olhos arregalados em choque.

— Que porra é essa?! — Ele exclamou, tentando não soar como alguém que estava genuinamente começando a se preocupar.

A porta se fechou com um estrondo antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, deixando-o sozinho. Mikey piscou algumas vezes enquanto seus olhos ajustavam-se ao ambiente. Ele encarou os arredores e soltou um suspiro irritado ao perceber onde estava. Era a lavanderia.

O ambiente era espaçoso, com chão de concreto e uma fileira de máquinas industriais alinhadas como soldados em formação. O ar era quente e abafado, com aquele leve aroma de roupa molhada que só melhorava graças às clarabóias no teto, que despejavam um pouco da luz do sol.

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