- Alô – Acordei com o celular tocando, o quarto ainda escuro, provavelmente nem era seis horas.
- Bom dia, Faye! – Freen me cumprimentou toda feliz – Você vai ter plantão hoje?
- Freen... – Bocejei ainda com sono – Tem ideia que horas são?
- Sim, 5:30 – Ela respondeu ignorando o meu resmungo.
- 5:30 – Repeti baixinho – Isso não é hora de ligar pra alguém que estudou até às 2 da madrugada!
- Faye, larga de ser ranzinza, depois vão falar que você aprendeu comigo – Ela riu – Vai ou não trabalhar hoje?
- Você sabe que eu só trabalho de terça a sexta e hoje não é o terceiro sábado pra eu ir pra clínica, então porque você está perguntando isso? – Estava começando a me irritar.
- Daqui uma hora eu chego aí e te explico, tá bom, toma um banho bem quentinho e separa a sua jaqueta porque vamos sair.
- Como assim? Sair pra onde logo cedo?
- Só faz o que te pedi Faye, vista algo casual e não se preocupa com o café da manhã, vou levar algumas coisas pra sua casa... Te vejo em breve – Antes que eu pudesse protestar a Freen desligou.
Esse comportamento dela foi bastante estranho, ela não era impulsiva e quase nunca acordava bem humorada, se ela pediu pra eu vestir uma jaqueta era sinal de que viria de moto.
Espreguicei-me e lentamente fui em direção ao banheiro pra fazer a minha higiene, tomei banho e voltei ao quarto, peguei uma camiseta larga preta e calça jeans, uma bota de cano curto com salto médio.
Depois de pentear os meus cabelos, amarrei-os num rabo de cavalo, faria uma maquiagem leve depois de tomar café e escovar os dentes.
Enquanto aguardava a minha amiga, reli alguns e-mails da faculdade e revisei dois trabalhos.
Geralmente usava os sábados pra dormir até mais tarde e continuar os estudos, neste dia os planos seriam outros, agora quais? Não fazia ideia!
O interfone tocou e ao atender ouvi a voz da Freen me pedindo liberação na entrada do prédio. Cinco minutos depois ela apareceu na minha porta com algumas sacolas e um sorriso tão grande que mal dava pra ver os seus olhos.
Percebi que ela estava bastante bonita, os cabelos presos, uma calça jeans bem apertada nos quadris, blusinha branca, tênis:
- Oi Faye, depois é melhor você trocar essas botas por um tênis – Ela recomendou enquanto entrava no meu apartamento.
- É sério que você vai me fazer andar? – Olhei pra ela incrédula enquanto a mesma se dirigia até a mesinha na cozinha.
- Vou, mas você vai gostar!
Dizendo isso, Freen foi esvaziando as sacolas, ela comprara dois copos de café croissant, uma garrafa de suco de laranja e algumas maçãs. Quando abri a boca pra falar do seu exagero, ela fez sinal pra que eu sentasse e comesse sem critica-la.
Abri a tampa do copo de café e senti o aroma forte da bebida, Freen sabia o quanto eu sou apaixonada por café forte e sem muito doce pela manhã.
Terminamos a refeição e eu voltei para o quarto pra me ajeitar.
Pegamos a estrada às sete horas.
...
- Vamos mais rápido Faye – Freen falou enquanto caminhava a minha frente – Estamos quase chegando.
- Até agora você não me falou pra onde estamos indo e essa caminhada está durando mais de uma hora.
- Nossa Faye, pára de reclamar e curta a paisagem, não entendo como você consegue ser tão gostosa e ser tão sedentária.
- Isso se chama genética e uma alimentação saudável e balanceada, deveria experimentar – Rebati.
Andamos de moto por alguns quilômetros, saindo da capital sentido o interior do estado, o clima estava quente outra vez, mas o calor era cortado pelo vento.
Freen só parou a moto pra abastecer e passar pelos pedágios. Está viagem estava durando mais do que tinha imaginado.
Ela guardou a moto num estacionamento de uma cidadezinha pacata e comprou numa vendinha alguns suplementos e garrafas de água, guardou tudo em uma mochila grande.
Embrenhamos por uma trilha, no começo feita por blocos de paralelepípedos, com a distância o chão de pedra foi substituído por terra e em alguns trechos por mato.
O caminho ia ficando estreito e parecia sem fim. E em algum trecho já não estávamos mais andando reto e sim subindo.
Dava pra ouvir os pássaros, outros animais e insetos... E além dos sons dos animais eu ouvia o meu coração acelerado com a atividade física.
Então a Freen parou de repente e me olhou sorrindo, a testa seca ao contrário da minha... Suada:
- O que foi Freen? – Questionei-a.
- Shhh – Ela pediu silêncio e olhou ao redor – Fecha os olhos Faye e me fala o que você escutar.
Relatei todos os bichos que ouvi... Cada canto, cada coaxar, tudo e então ouvi o som da água corrente e percebi que estávamos perto de um rio.
Ela me pediu pra segui-la um pouco mais e eu fui e em uma virada brusca na trilha eu vi uma enorme cachoeira, o arco íris criado pelas gotículas da água enfeitando a nossa visão e um rio cristalino e cheio de pedras e peixes:
- Faye – Freen me chamou de repente tirando-me do transe – Eu sei que pra você foi bem sacrificante fazer essa trilha comigo, mas acha que não valeu a pena?
- Sim, valeu a pena – Respondi ainda maravilhada com o lugar.
- Assim é a vida minha amiga, se a gente não luta não conseguimos nada, se a gente se tranca ao medo, o que dará sentido ao nosso dia a dia? – Ela falou, respirou o ar limpo da floresta e prosseguiu – Tenho notado que ultimamente você está mais fechada Faye, as meninas também perceberam, por isso resolvi dividir contigo uma coisa que eu amo fazer, ainda mais quando estou preocupada ou triste.
Enquanto falou-me isso, Freen se aproximou de mim e me abraçou:
- Eu sei que você é forte, eu te conheço, sei que está guardando muita dor ainda, precisa soltar isso pra fora e eu, sou apenas uma pessoa que te ama, se quiser desabafar comigo essas preocupações estarei do seu lado te escutando, se quiser apenas curtir o passeio, vamos curtir juntas.
As palavras dela foram ecoando em minha mente e toda a máscara que até ali eu usava caiu, abracei a Freen com força e chorei em seu ombro, ela não disse mais nada naquele momento, apenas me segurou.
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A PESSOA CERTA
FanfictionFaye é uma mulher rica e bonita e uma profissional competente que sempre está se aprimorando, contudo mesmo sendo bem sucedida nesta área, ela carrega no coração um espaço cheio de medo e dúvidas, marcada pela lembrança de um amor que perdeu e que a...