Aquele canalha me deixou furiosa, quem ele pensava que era para me destratar daquela maneira? E ainda pisar na Yoko como se ela fosse uma criança? Eu não permitiria que ninguém fizesse isso, não comigo ao seu lado.
Não me importei com os xingamentos e a cara de nojo, na verdade já tinha me acostumado embora não devesse estar, ele trouxe o meu lado mais frio a situação.
Quando ele foi embora e cuspiu em mim, pensei em agredi-lo, mas acreditei que a Yoko desejasse fazer o mesmo, então foi melhor segura-la, ela com certeza se arrependeria disso depois.
Após esse visitante ir embora, a Marissa, a Rebecca e a Freen vieram me ajudar, pedi a Freen que buscasse qualquer informação no nome dele, ela quis saber o porquê e eu expliquei os meus motivos:
- Você acha que ele está atrás da Yoko por causa do dinheiro? – Freen perguntou.
- Sim, a Yoko ganhou uma excelente quantia com a venda dos quadros e ela também herdou a casa.
- Faye, é impossível ele receber qualquer coisa que venha da avó da sua namorada – Ela foi direta – Antes de falecer, redigi o testamento dela após os médicos verificarem o seu estado mental e tem mais...
- O que?
- Já tem mais de dez anos que os dois são separados e está casa foi doada a Yoko em vida.
- Mesmo assim eu me preocupo, você não viu o tipo de homem que ele é.
- Faye – Yoko chamou da porta – As meninas trouxeram lanches, vamos comer?
- Já estamos indo – Respondi observando-a.
- Estamos esperando vocês – Dizendo isso ela saiu.
- Ela te ama muito – Freen notou.
- E eu a amo – Confessei – Nunca me vi tão envolvida com alguém como estou com ela, a Yoko é tudo pra mim.
A organização durou poucas horas e quando as meninas se foram, a Yoko e eu nos deitamos em seu minúsculo sofá, ela sobre mim, aquele contato era tudo que precisávamos, ficamos trocando carinhos e conversando amenidades, não sei em qual momento ela cochilou, mas eu a abracei firmemente, então fechei os olhos e recordei as palavras daquele homem “... Essa vadia ao seu lado te desencaminhou, te fez agir como um macho, essa sapatão nojenta”, se existia um tipo de pessoa que eu não suportava era esse... Preconceituoso, vigarista e homofóbico!
Yoko se remexeu e ficou me encarando assim que abriu os olhos, eu a olhei e sorri e ela como sempre retribuiu o meu sorriso e me deu um beijo, em seguida se levantou e foi ao banheiro.
Quando retornou, me contou que havia decidido doar todas as roupas e objetos que pertenciam a senhora Patthama, eu gostei da atitude dela, me levantei do sofá e fomos pegar as coisas no quarto, colocamos diversas sacolas no meu carro e ela sugeriu que fôssemos a um lar para idosos.
Depois que compartilhamos os pertences, levei-a para um restaurante e acabamos comendo como duas famintas, com certeza teria que fazer exercícios extras para eliminar todas aquelas calorias, porém foi bastante agradável e vê-la tranquila e em paz consigo mesma já rendia todo o peso que ganhei.
...
- Doutora, desculpa interromper a reunião – Uma atendente chamou a porta – Tem um senhor na recepção querendo falar com a doutora Yoko.
- Ele se identificou? – Perguntei já imaginando quem era.
- Sim, falou que era avô dela.
- Traga-o aqui – Falei calmamente.
Assim que a atendente saiu, dispensei todos os estagiários e liguei pra Freen, passei rapidamente a situação pra ela e combinamos dela escutar toda a conversa em silêncio, Yoko continuou na sala comigo.
Quando o homem entrou, o seu rosto demonstrava raiva e nojo por me ver ali, ele olhou pra neta e sorriu de uma forma que me deu calafrios:
- Quero conversar contigo e de preferência a sós – Foi direto.
- Pode falar, não tenho nada pra esconder da Faye – Ela se limitou a responder.
- Estou vendo que essa mulher já está te controlando – Ironizou.
- Ela não é você!
- Tanto faz – Ele se sentou em uma das cadeiras que estava distante da minha mesa – Eu soube da exposição que a minha falecida mulher fez e consultei um advogado, ele disse que eu tenho direito a metade do valor, andei pesquisando e a quantia da venda foi alta.
- E...
- E também tenho direito sobre a casa, você vai vende-la para dar a minha parte.
- Mais alguma coisa? – Yoko perguntou friamente.
- Sim, o meu advogado disse que se você tivesse vendido os quadros depois do falecimento da minha esposa eles valeriam o dobro, porque você não esperou? Poderíamos ter lucrado muito!
- É sério isso? – Yoko riu debochada e me encarou, eu acenei positivamente, ela respirou profundamente pra conter os xingamentos que provavelmente estavam em sua mente assim como na minha – Olha bem meu senhor... Que diz ser o meu avô...
- Eu sou o seu avô! – Ele a interrompeu.
- Que seja – Ela deu de ombros – Eu até poderia lhe dar uma parte de tudo que era da minha avó, se o senhor tivesse vindo aqui de boa vontade, se tivesse mostrado arrependimento ou remorso por tudo que fez no passado, se tivesse sido mais tolerante e menos preconceituoso... Eu poderia...
- Menos preconceituoso? – Ele a encarou trincando o maxilar enquanto eu fiquei em alerta – Voltei depois de anos longe e encontrei você com essa daqui – Apontou pra mim – Duas mulheres juntas? Isso é nojento, não é natural... Deus não aceita esse tipo de relação Yoko, você se tornou uma aberração! – Ele vociferou.
- Quem é o senhor pra falar em Deus? – Ela respondeu segurando a minha mão, havia uma tranquilidade nela que me fez acreditar que ela daria conta da situação – O senhor não honrou o teu lar, não honrou a tua ex-esposa, não honra nem o que carrega nas calças e vem me falar de Deus? Ele é amor, sabia? – Ela sorriu – Não, o senhor não sabe, não é? Nunca amou ninguém senão só a ti mesmo.
- Yoko – Ele tentou repreende-la.
- Vou simplificar o nosso assunto, eu não te devo nada, o que era da minha avó, sua ex-esposa, só pertence a mim... Inclusive, toda essa nossa conversa está sendo gravada e a minha advogada que está na linha ouvindo tudo já me orientou sobre os meus e os seus direitos e o senhor não tem direito a nada!
- O quê? – Ele se levantou assustado olhando para o meu celular – Você tem autorização pra fazer isso?
- E o senhor não pode me cobrar ou me perseguir, ou ofender a minha namorada!
- Eu sou o seu avô – Ele gritou.
- Se você não sumir das nossas vidas como já fez uma vez – Ela se manteve firme – Eu vou processa-lo... LGBTfobia é crime!
- Você não teria essa coragem – Ele a desafiou.
- Experimenta continuar...
- Só para conhecimento, a sentença para esse tipo de crime é de um a cinco anos de reclusão, além da multa, pois existe a lei n° 10.948/01 que agregada sobre essa acusação – Freen falou.
- Vai continuar? – Yoko perguntou se levantando.
- Sua desgraçada – O homem foi em sua direção, mas eu me levantei e tomei a frente – Experimenta encostar um dedo nela pra ver o que lhe acontece – Ameacei.
- A lei n ° 11.340/2006 – Freen falou – Pune o agressor de seis meses a dois anos de reclusão, além de medidas restritivas.
- Filhas da puta – Ele gritou se afastando.
Quando ele saiu, agradeci a Freen e desliguei a chamada, depois abracei a Yoko orgulhosa por sua ação, ela respirou aliviada em meus braços e eu a beijei com ternura.
Finalmente estávamos livres para viver as nossas vidas!
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A PESSOA CERTA
FanfictionFaye é uma mulher rica e bonita e uma profissional competente que sempre está se aprimorando, contudo mesmo sendo bem sucedida nesta área, ela carrega no coração um espaço cheio de medo e dúvidas, marcada pela lembrança de um amor que perdeu e que a...