Yoko

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(Por Yoko)

- Eu não tenho culpa de estar doente! – Patthama gritou da porta esvaindo-se em lágrimas enquanto abraçava a pequena Yoko.

- Sei que você não tem culpa – O homem respondeu sem nenhum pingo de emoção enquanto enfiava a mala no carro – Como eu também sei que não sou obrigado a passar por isso!

- Isso não é justo!

- Patthama, a vida nunca foi justa pra ninguém! – Após falar isso, o homem entrou no carro e sumiu.

Patthama caiu no chão, uma mistura de dor e raiva, também sentiu medo por ela e pela pequena que naquele momento a abraçava ainda mais firme afirmando que nunca a deixaria.

...

Então eu acordei, os cabelos úmidos de suor, a pele fria, não foi a primeira vez que tive este sonho e nem seria a última, na verdade eu sabia que era uma recordação do dia em que o meu avô foi embora.

Durante muitos anos a minha avó e eu sobrevivemos do auxílio do governo, também das vendas de doces que fazia no farol.

Eu acordava e ia pra escola, a tarde saía pra vender e a noite nós duas cuidávamos uma da outra, porém havia dias que não funcionava desse jeito, dias ruins em que a minha avó tinha crises, perdendo-se em suas alucinações e psicoses.

A medida que fui crescendo continuei zelando por minha avó, era a minha família mais próxima e eu a amava demais, os remédios e as consultas ajudavam-na e isso aliviava a tensão.

Quando tive idade suficiente pra trabalhar, arrumei um emprego de ajudante junior de meio período em uma fábrica e isso contribuiu para que o orçamento da casa melhorasse.

Minha avó, mesmo doente, insistiu que eu nunca deixasse de estudar, ela queria me ver formada e pediu que eu buscasse um homem que valorizasse a família acima de tudo.

Ela não tinha raiva do meu avô, mas eu notava muita mágoa quando ela falava dele.

Eu perdi a minha infância no instante que ele se foi, não culpo a minha avó por nada disso, nós não escolhemos quando e como ficar doentes, infelizmente é algo que acontece.

Levantei da cama e fui até o quarto dela, percebi que ela dormia tranquilamente, então tomei um copo de água na cozinha e voltei pro meu quarto, logo adormeci.

...

Depois de tanto estudar consegui uma bolsa parcial em uma das melhores faculdades de psicologia, era a profissão que passei a gostar, era a profissão ideal pra continuar cuidando da minha avó.

Marissa, minha amiga desde o primário, às vezes me ajudava ficando algumas horas em casa quando eu não podia, ela adorava ouvir as histórias da minha família.

Na primeira semana de curso eu conheci um rapaz e me apaixonei por ele, namoramos por quase um ano, quando transamos da primeira vez lembro que senti dor e depois nada além de um incômodo, pois logo que ele se satisfez perguntou se eu também estava, não quis falar a verdade, então apenas disse sim, ele sorriu se vangloriando e pediu que eu tomasse um banho antes de dormir.

Ficamos mais algumas vezes, porém ele não conseguia me dar prazer, acreditei que o problema estava em mim e quando falei com a Marissa sobre isso, ela riu e me tranquilizou:

- Fica em paz Yoko, não é todo cara que sabe fazer!

- Então o que eu faço? Falo pra ele?

- Também não é todo cara que gostaria de ouvir que é um fracasso na cama!

Dias depois fui fazer uma surpresa pra ele chegando sem avisar em sua casa, notei que a porta estava aberta e entrei, não precisei chegar ao seu quarto, pois flagrei o meu namorado com outra menina nus no sofá da sala, aquilo doeu fundo, segurei as minhas lágrimas e fui embora, ele vestiu uma cueca e correu atrás de mim pedindo desculpas, falando que nunca tinha me traído e que aquele momento foi apenas um deslize.

Eu não acreditei.

Liguei pra Marissa e pedi que ela fosse me encontrar, passei o endereço de um bar próximo da faculdade e me dirigi pra lá.

No meu coração não tinha tristeza, eu estava irritada, precisava beber pra esquecer a imagem deles na minha cabeça.

Fiquei sentada em uma mesa nos fundos do bar, esperando a minha amiga enquanto bebia a terceira garrafa de cerveja, foi neste instante que eu a vi, rodeada por outras mulheres, entrando no lugar que eu estava, ela nem olhou para os lados, sem entender o porquê, fui tomada por uma vontade de me aproximar dela, “Que mulher linda!” pensei comigo e fiquei admirando-a, era como se ela fosse um ímã me puxando enquanto eu tentava me manter no lugar. Marissa chegou logo em seguida e percebeu o quão distraída eu estava:

- O que você tanto olha, Yoko? – Ela se virou para olhar.

- Aquelas mulheres parecem tão felizes – Afirmei .

- Você sabe quem elas são? – Ela me encarou.

- Não.

- Aquela com cara de poucos amigos eu não sei quem é, as outras três são Ploy, Ice e Faye – Apesar de não estudar na mesma faculdade, minha amiga possuía bons contatos.

- A mais bonita é qual delas? – Quis saber.

- A Faye, mas porque a pergunta? Por acaso vai trocar o seu namorado por ela? – Perguntou irônica – Não pensei que você gostasse de mulher.

- Não gosto de mulher Marissa, porém ela tem uma coisa que...

- Te deixa com tesão – Completou.

- Não, claro que não – Virei a garrafa de cerveja – Como você sabe o nome delas?

- Informações é tudo nesta vida! – Disse entusiasmada – Se você tivesse interesse pela Faye, eu diria para você tomar cuidado, pois ela ficou com tantas garotas que é impossível contar nos dedos.

- Ela não parece alguém assim – Fiquei encabulada com os meus próprios pensamentos, no entanto nada falei.

- Mas me conta... O que aconteceu pra me chamar com urgência?

Desabafei.

No final de tudo, Marissa me deu um abraço forte e seu apoio incondicional, ela ligou para a Rebecca e juntas, fomos para uma boate onde elas me ajudaram a esquecer do meu ex.

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