Passado. Vigésima terceira vida de Izuku.
— Cara, como a gente chegou aqui? — Deku se deixou cair na areia sentindo os grãos colarem em seu corpo e roupa molhada.
— A gente não pode entrar em batalha por causa do seu namoradinho, então pulamos no mar — Tempestade caiu ao lado do amigo.
— Se eu fosse você tomava cuidado, ele não é o único que tem o namorado feito de refém — Geten tremeu quando o vento bateu em seu corpo — Odeio ficar molhado.
— Venham aqui — Dabi acendeu uma chama em sua mão ao se sentar.
— Você é o melhor Dabi — Mustard se aproximou correndo — Depois do senhor Deku, é claro.
— Sim, sempre ele — Stain cuspiu para o lado enquanto torcia seu cachecol.
— Falando assim até parece que não gosta do Deku — AFO riu, o que causou estranheza em todos.
— Ainda é tão estranho ver o mestre descontraído assim — Toga se abraçou e sorriu — É tão assustador.
— É, muito estranho — Tomura rosnou.
— Não começa com a birra Tomura. Ninguém aqui está com paciência pra aguentar chilique de um adulto — Overhaul avisou.
— E vai fazer o que sobre isso? Usar sua quirk em mim? — Tomura sorriu zomboso — Ah é, você está sem as mãos.
— Tomura — AFO avisou, interrompendo a gargalhada do sucessor.
— Será que a mamagiri vai voltar? — Deku questionou após um tempo em silencio, com a voz baixa.
— Eraserhead e o detetive conseguiram um bom avanço despertando a consciência de Oboro, não tenho garantia de que ele voltará — Tempestade suspirou.
— Não acho que, mesmo que consigam trazer a consciência de Oboro de volta, Mamagiri irá nos abandonar — Geten disse com convicção — Veja, Mamagiri pode ter sido criada através do corpo de Oboro, mas no final ainda foi desenvolvido com outra peculiaridade que lhe deu uma personalidade e vida próprias.
— O que ele está tentando dizer é que, no final, ele se tornou um de nós. E ele era quem mais valorizava a LOV, por mais que ela não exista mais em nome — Dabi concordou.
— Você me entende tão bem — Dabi e Geten deram a língua um para o outro infantilmente.
— O correto é dizer que Oboro não existe mais. Não por seu corpo já ter sido morto, mas porque após todo esse tempo, Oboro e Riagi já se fundiram — AFO se sentou ao lado do filho, colocando a mão em sua cabeça — Seja lá o que os heróis conseguiram, não é o que acham. É impossível separar Kurogiri.
— Ele ainda pode escolher ficar ao lado dos heróis, afinal ele é o único de nós que não tem uma história por trás que justifique seus atos. Ele apenas foi criado para isso — Stain mordeu a língua ao ver o semblante de Deku ficar ainda mais triste.
— O senhor Stain está certo — Toga concordou com animação — Quer dizer, eu fui por causa da minha peculiaridade, então é a menos leve daqui. Geten foi tratado como escravo até que foi preso. Senhor Stain tentou mudar o mundo podre dos heróis. Mustard viu sua mãe e irmã mais nova serem estupradas e mortas por heróis no seu país natal. Compress teve todo o lance com o magico que roubou suas técnicas antes de quase o matar com uma sabotagem. Tempestade e suas mães tinham que pagar para heróis apenas para eles mesmos não os matarem. Dabi nasceu de uma família filha da puta. Overhaul viveu no lixão e heróis tentaram matar ele por diversão antes que o pai adotivo o encontrasse e levasse para a yakuza. Tomura ninguém sabe além do mestre e do Deku, mas ninguém se importa com esse zumbi. Deku foi traído e abandonado depois de ser usado por anos. E o mestre... Eu não sei, na verdade.
Todos olharam para AFO esperando alguma coisa, mas ele se manteve em silencio. Foi preciso pouco tempo para que todos engatassem em uma conversa aleatória, sabendo que não obteriam resposta do rei do submundo. Izuku, em meio ao clima que aos poucos se tornava um pouco mais leve, apenas abaixou a cabeça, enterrando-a entre os joelhos enquanto sentia seu pai enroscar os dedos em seus cabelos ondulados em um carinho suave.
Era tanta coisa para assimilar. Quer dizer. Ele não era mais um pirralho, tinha 50 e alguns anos – perdeu as contas realmente de quantos já que não era sua primeira vida – e uma história pesada para se carregar nos ombros. Mas não conseguia, quando estava sozinho em meio aquelas pessoas que agora eram sua família, não agir como um adolescente. Como não pode fazer na idade apropriada, já que o fardo que possuía nessa época era demais para que agisse como um garoto de sua idade.
Nunca pode realmente. Após os quatro anos e ser oficializado como sem quirk todos os dias tinha que se preocupar em chegar em casa vivo para que não colocasse ainda mais fardo em sua mãe. Então, depois dos primeiros suicídios aos 14 anos, tinha o dever de ser o sucessor do símbolo da paz que estava se esgotando cada vez mais rápido. O mundo não sobreviveria sem All Might e ele, que havia herdado seu poder, não podia se dar ao luxo de perder qualquer tempo em outra coisa que não se aprimorar mais e mais.
Como se ser perfeito não fosse um objetivo grande demais para ele, ainda surgiu AFO e LOV com quem tinha que lidar obrigatoriamente como um portador do OFA. Uma guerra de anos levou qualquer sentimento bom que tinha, mas se mantinha por seu amor e seus amigos. Por seu mestre, ídolo e professor. Pelas pessoas que tinha que salvar.
Mas, quando a guerra finalmente se encerrou tantos e tantos anos depois, com a LOV inteira presa e não sendo mais uma ameaça. Com o herói Deku sendo ovacionado pelos civis como o símbolo da esperança, como o herói que nunca desiste, um segredo que nem mesmo ele conhecia sobre si foi exposto.
Não era grande coisa, né? Tipo, Deku lutou por anos a fio contra vilões e mais vilões. Chegou a ser o único no campo de batalha por semanas enquanto os outros descansavam por estarem exaustos. Passou dias sem comer ou beber, trocando golpes com oponentes mais poderosos do que imaginava enquanto o mundo apenas assistia suas lutas. Todos viram que ele entregou a si mesmo pelo bem da humanidade, então não deveria ser um problema quem era seu genitor.
Ou não deveria ser.
Riagi foi a outra peculiaridade usada para criar Kurogiri.
A história de AFO vai ser abordada.
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Onde foi que eu errei?
Fiksi PenggemarOs vilões são realmente os vilões? Izuku se perguntou isso desde sua vigésima volta. Agora ele tinha certeza de uma coisa: se o importante era o fim, o caos do processo era necessário