– Midoryia, meu garoto – All Might cumprimentou assim que a porta se fechou, olhando para Izuku – Não conversamos desde antes dos estágios quand...
– Quando eu fui ver minha mãe – Deku confirmou – Como tem estado, All Might?
– O poder está se esvaindo aos poucos, mas ainda posso atuar por três horas por dia, o que é muito pouco – O loiro apertou o punho, mas então sorriu abertamente – Mas tudo bem. Porque você conseguiu. Você disse ao mundo: Eu estou aqui! E eu vou ser o pilar que vocês esperam!
– O mínimo que eu devia fazer como seu sucessor – Izuku deu um sorriso pequeno, encolhido em si mesmo – Eu preciso alcançar o topo o mais rápido possível, antes que você não tenha tempo algum.
– Você irá, meu garoto. Você já conseguiu isso. Não há ninguém no Japão que não conheça o nome Izuku Midoryia, o mais jovem herói promissor da U.A. Em breve, todos irão clamar pelo nome Deku a ponto de All Might ser esquecido.
– All Might nunca será esquecido – Izuku arregalou os olhos – Mesmo que fosse, eu jamais deixaria isso acontecer.
– Para mim é o suficiente saber que estou inspirando a nova geração – All Might estufou o peito.
Que babaca.
– Mas eu não te chamei aqui para isso, e sim porque, com meu tempo diminuindo gradualmente, eu acho que chegou a hora de te contar a história do OFA. E sobre AFO.
– Ah, na verdade eu já sei. Os portadores me contaram no dia seguinte a USJ, eles desconfiaram que o Nomu era de AFO.
Midoryia se segurou para não rolar os olhos. Uma peculiaridade que vinha de brinde com um super vilão, isso deveria ser contado antes mesmo dele recebê-la, mas Toshinori é um tapado. De qualquer modo, a essa altura ele não precisava de uma aula chata de história, principalmente vinda de um herói.
Ele conhecia a verdade agora, sem todas as distorções que o vencedor colocou em cima de si mesmo para ser o único e inegável lado certo. Porque infelizmente a vida é assim. Chega a ser engraçado o absurdo.
Tudo se baseia nos vencedores. Heróis ou vilões, certo e errado. Se eu sou o errado na narrativa, é porque eu sou o perdedor.
AFO. Hisashi Shigaraki. O que ninguém contou foi que antes de ser chamado de bicho papão, ele era conhecido por outro nome: Unpro. Um dos primeiros heróis que surgiram na sociedade, antes mesmo de se tornar uma profissão, capaz de unificar os usuários de quirk sob suas asas em prol de proteger a sociedade, evitando que a destruição se espalhasse e o mundo de tornasse caos com o novo status quo que estava mudando.
Ninguém contou que ele, que queria evitar a guerra, foi morto pela primeira vez por um agente do governo americano da época, com uma bala na cabeça que nenhuma quirk que possuía em seu arsenal do momento podia detectar ou impedir. Ninguém além dele e seu pai sabem quantas vezes ele foi morto porque algum governo idiota estava visando usar as quirks que ele protegia em benefício próprio. Nem mesmo Hisashi conseguia dizer quantas vezes ele foi um herói antes de decidir que, se o povo o queria como vilão, então ele deveria ser um vilão.
Porque tudo que importava era que o vencedor o colocou como bicho papão, então ele abraçou esse título e fez jus a ele.
Sua história não era diferente. Traído por heróis.
– Isso poupa tempo e trabalho – Toshinori suspirou, satisfeito de não ter que falar tanto.
– Ah, sim, isso me lembra, senhor Torino me pediu para perguntar por que não visitou o tumulo de Nana-sensei no dia.
– Que dia?
– O dia de sua morte?
– Ah. Bem, eu sou uma pessoa ocupada. Eu meio que esqueci, novamente – O mais velho sussurrou a última parte. Ninguém precisava saber que ele também estava evitando seu mentor.
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Izuku sabia que tinha pouco menos de um mês com sua rotina habitual. Não que fosse mudar drasticamente, mas ainda era uma alteração.
Atualmente, ele se deitava as dez da noite, para então se levantar as quatro da manhã. Ele corria por quarenta minutos, antes de subir os prédios fazer alguns exercícios e parkour até que Hawks o encontrasse – o que estava sendo diário – para voarem juntos um pouco. As sete ele estava em casa novamente, para tomar um banho e comer alguma coisa. As sete e quarenta ele pegava o trem, chegando em quinze minutos na U.A, indo direto para a sala de Nedzu.
De lá sua manhã era definida, ou ele teria alguma aula especifica com o diretor, ou então apenas entregava as atualizações de suas tarefas e pegava alguma informação importante para si ou para a turma, nesse caso ele chegaria junto a Aizawa na sala, oito e vinte da manhã. Os dez minutos antes da aula eram usados para anúncios ou interações, onde ele fazia questão de dar atenção a todos, mesmo que Kaminari, Uraraka e Yuga fossem os mais próximos de si no momento.
No horário de almoço ele almoçava com a 1-A reunida, como acordaram de fazer desde a morte de Iida, e um dia ou outro tirava um tempo do seu intervalo para ir até Shinsou, o arrastando para sua tarde quando podia.
No período vespertino ele treinava, como deveria. Embora o que ele treinava especificamente também variasse. Se a 1-A tinha algum exercício em grupo ou algum aluno pedisse sua ajuda, ele praticaria com eles, caso contrário ele preferia estar sozinho ou com Nedzu.
A maioria das tardes eram gastas na academia, entre os aparelhos conversando por mensagens com Yulian, Yoarashi e Hawks. Ele já tinha total domínio sobre suas habilidades, não havia o que treinar nesse aspecto. O que ele precisava era continuar melhorando seu corpo. Esperançosamente ele conseguiria suportar 100% até o sequestro no acampamento.
Três vezes na semana, após a escola, um grupo o seguia até sua casa para o encontro de estudos, onde ele ajudava com os conteúdos que ele já dominava. Vantagens de ter feito o ensino médio tantas vezes.
Nos dias que ele não tinha nada após a escola, ele ia até seu pai e a liga, auxiliando Stain em sua contagem de mortos que crescia a cada dia. Em quase 100% das vezes, ele também acabava na cama com Dabi.
Ele não gostava disso, mas era melhor do que ir até algum bar aleatório do outro lado do globo para conseguir uma foda como estava fazendo antes. E não é como se Dabi se importasse que ele pensasse em outro enquanto transavam, ele sequer sabia, não ligava. O que lhe fez escolher Dabi era isso, ele não se apegava, não questionava, a única coisa em sua mente era sua vingança, o que ele vivia antes disso era apenas um momento sem significado.
Mas ele odiava. Ele odiava que não fosse Keigo. Odiava que sua saída para a carga emocional de suas vidas anteriores fosse se deitar com alguém, mas ele não podia contar com Hawks se apaixonando por ele, porque mesmo que acontecesse, pelo seu histórico, nada aconteceria antes de seus dezoito anos.
Até mesmo em sua primeira vida longa, a primeira vez que ele passou da guerra com vida, foram cinco anos antes de qualquer coisa se iniciar entre eles.
Embora ele não pudesse reclamar, foi um desenvolvimento lindo. Ainda se lembrava vividamente.
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Onde foi que eu errei?
Fiksi PenggemarOs vilões são realmente os vilões? Izuku se perguntou isso desde sua vigésima volta. Agora ele tinha certeza de uma coisa: se o importante era o fim, o caos do processo era necessário