Passado. Decima nona vida de Izuku.
— Olá Aizawa-sensei — Izuku sorriu radiante para o professor, o olhando de cima enquanto o mais velho abria os olhos a contragosto.
— O que foi garoto problema?
— Estou apenas querendo avisar que estou saindo para o refeitório, e sou o último.
— Não ligo, me deixe dormir.
— Eu sei que não estava dormindo, Aizawa-sensei.
— Eu não sei o que acha que sabe e não me importa, saia.
— Eu sei que o senhor finge dormir quando o sinal bate, e que espera que todos os alunos saiam da sala, para garantir que ninguém pule o almoço.
— Eu não finjo dormir — Shouta se virou no saco de dormir, ficando assim de costas para Izuku. O esverdeado sorriu ainda mais, não que o mais velho pudesse ver o carinho que dançava em seus olhos.
— Finge sim, sensei. Sua respiração não é nem um pouco leve se comparar a quando está mesmo dormindo nas aulas. Mas tudo bem, eu não contei para ninguém as coisas que eu sei.
— Você está errado de qualquer modo, mas o que mais acha que sabe?
— Eu sei que o senhor costuma patrulhar próximo as agencias dos alunos quando estão nos estágios, e que faz rotas nos bairros dos alunos que estão aparentando ter algum problema fora da escola. Sei que decorou as alergias de cada um e garante que nada entre nos dormitórios se vai fazer mal a um aluno. Sei que não dorme no seu dormitório, mas no nosso, para ter certeza de que tudo está bem. E sei que possui orgulho da nossa classe, já que realmente expulsa quando acha que algum aluno não irá para frente.
— Está errado em quase tudo. Eu realmente expulso alunos sem talento.
— Sim. Eu devo estar errado. Também estou errado que você acredita em seus alunos até o fim e que fará qualquer coisa por eles?
— Errado. Eu não me importo tanto assim com vocês, garoto problema.
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Presente.
Izuku procurou em sua bolsa o caderno, vendo como venceu Iida e Uraraka pelo cansaço a irem na frente para o refeitório, satisfeito que mesmo no primeiro dia Aizawa estava demonstrando os hábitos que ele estava acostumado. Caminhou com passos inseguros e parou em frente ao saco amarelo chamativo, abriu a boca algumas vezes, apertou o caderno no peito, deu meia volta.
— Fale o que quer de uma vez, Midoriya — O esverdeado sorriu pequeno antes de voltar sua cara a preocupação e se virar ao mais velho.
— Desculpe Aizawa-sensei, não queria incomodá-lo — O aluno se curvou — Eu gostaria, se não for pedir muito, de um autografo do senhor.
— Autografo? — Aizawa se remexeu para sentar-se e saiu parcialmente do saco de dormir.
Izuku entendeu como um sim e abriu o caderno azul com um grande nove desenhado na capa, procurando por uma página específica. Em seguida a estendeu para as mãos do ancião. O moreno pegou a caneta e olhou para o caderno em conflito. Era a primeira vez que lhe pediam tal coisa, não devia ser tão difícil não é?
Como All Might faz isso mesmo? Ah, foda-se.
Não era grande coisa, bastava uma assinatura e estava livre. Se focou no papel procurando por onde assinar, então se deparou com algo que não tinha reparado ainda por causa de seus pensamentos: informações, suas. Nome de herói, de civil, idade, data de nascimento, alguns gostos, uniforme de herói com direito a um desenho detalhado, sua quirk e vários outros detalhes sobre lutas, movimentos, possibilidades. Uma analise quase perfeita para os dados, e alguns deles Aizawa tinha certeza de que não era conhecimento publico.
— Midoryia, isso é seu?
— Ah, sim, não foque nisso, sei que não está bom, esse é o número nove, então acabou não tendo muita qualidade — Izuku coçou a nuca sem graça — E me desculpe se é assustador, eu apenas... gosto... gostava?
— Se esse é o nove, quer dizer que existem outros oito desses? — Aizawa folheou vendo como tinham várias análises idênticas sobre outros heróis.
— Na verdade existem outros 16, sensei. Eu fazia um por ano desde meus quatro anos, mas aos 13 comecei a fazer sobre vilões também. Então são onze de heróis e seis de vilões. Mas não é nada profissional, apenas um hobbie — O menor corou — Se o senhor quiser posso arrancar as páginas, ou queimar. Eu não ficaria feliz, mas pelo menos estou autorizando dessa vez. E ainda gostaria do autografo, mesmo que não fosse aí.
— Alguém já arrancou uma página sem autorização por não gostar disso? — Claro, era um pouco assustador. Shouta admitia isso. Mas tanto quanto assustador, era brilhante. E mesmo assim, fazer algo sem a permissão do dono era um crime.
— Não. Ele não rasgou, mas achava meus rabiscos bobos e assustadores, e não gostou de saber que eu fiz uma página para ele, então o queimou e jogou no lago. Mas eu consegui recuperar, o dano foi bem pouco.
— Que merda de herói tem na cabeça...
— Não — Izuku balançou as mãos desesperado — Não foi um herói. Ao menos ele não é um herói ainda. E está tudo bem, eu não tenho nenhuma reclamação.
— Midoriya...
— Aizawa-sensei, pode assinar e colocar na minha bolsa? Uraraka-san está me ligando. Parece que o refeitório está muito cheio hoje.
— Se não é um herói ainda... — Aizawa murmurou vendo o aluno sair da sala com pressa. Ele olhou para a carteira de Bakugou — Posso ter uma noção de quem fez isso.
Aizawa folheou novamente o caderno, com um pouco mais de cuidado ao notar os nomes escritos. Talvez devesse levar isso a Nezu. Sabia que Izuku Midoriya era inteligente assim que o viu usar seu poder nos testes e conhecendo também que ele gabaritou o teste escrito, mas isso estava em um nível completamente acima do que ele esperava.
Se um talento assim fosse descoberto pelos vilões, se um caderno desse onde fraquezas estavam expostas... O aluno Midoriya era muito mais do que apenas poder, precisavam trabalhar com ele muito bem. E protegê-lo, os perigos que o aguardavam eram enormes.
Para quem tenha interesse: Aizawa não traiu Izuku, mas ele contra toda a população não era de ajuda nenhuma. Outras pessoas também acreditaram no Izuku, mas poucas e que, em maioria, "não tinha importância".
Izuku jogou verde nesse capítulo para colher maduro em alguns kkkk.
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Onde foi que eu errei?
FanfictionOs vilões são realmente os vilões? Izuku se perguntou isso desde sua vigésima volta. Agora ele tinha certeza de uma coisa: se o importante era o fim, o caos do processo era necessário