CAP. 17 - Doce Inocência

1.1K 148 38
                                    

Presente:

Quando me lembro de tudo o que aconteceu, sinto uma imensa vontade de apagar algumas partes de minha memória.

Mas, que culpa eu teria se nunca tive contato com o mundo afora, se minha convivência maior era em meu casco de árvore, lendo livros tão antiquados e antigos quanto Morgana.

Claro que todas essas idéias primordiais foram retiradas de mim em pouco tempo, mas jamais pensei que fossem embora de minha mente de modo tão rápido...

Algo que preservei de forma confidencial por tantos anos, a inocência, tão preciosa... Foi quebrada em mais pedaços do que a minha própria alma.

.....

Passado:

Afasto-me da porta, após tudo ficar no mais puro silêncio... Minha respiração estava afoita enquanto enfaixava o meu busto outra vez, refazendo a minha blusa.

Meu corpo já havia secado com toda aquela correria nas escadas abaixo... Foi a situação mais vergonhosa que já passei, de forma constante.

Fui interrompida em meu banho, por um grande aproveitador. Subi até aqui de forma irritada, sem nem vestir-me novamente... Se este era o primeiro dia aqui, não queria nem pensar como seriam os outros.

Caminhando até a sacada, amarrando a minha saia, com a esperança de alguma hora ter forças para voar novamente...

Ao menos ele havia me deixado em paz, até mesmo achei que iria arrombar a porta. Era apenas isto o que queria, distância daquela coisa de cabelos azuis.

Olho para fora, tentando achar um limite para a altura de onde estávamos... Mesmo tentando encarar o chão, ele não existia, as nuvens encobriam qualquer vestígio de terra.

Até mesmo tento bater minhas asas, em aflição, mas a mesma puxava os meus nervos pelo machucado, impedindo-me de ir a qualquer lugar...

Encostava minhas mãos no corrimão da varanda, sentindo algo em meu interior ficar cada vez mais forte pela minha raiva contida.

Um tipo de fluído verde, o mesmo daquela noite, começa a sair de minhas mãos, fazendo as plantas ao meu redor flutuarem quando são atingidas por ele.

Sinto uma mão passar pelo meu rosto por trás de mim, tampando até o meu nariz, liberando uma névoa azul que me faz cair no mesmo instante, fraca...

- Devemos ir com mais calma, coisinha. O que acha?

As mãos de Candy me carregam do chão, enquanto estava totalmente zonza, parecendo estar dentro de um sonho...

- .... Não me toque...

- Ou o quê? Irá me pedir em casamento outra vez?

Sou colocada sobre a cama, com um edredom caindo sobre mim, enquanto minhas pálpebras pesadas fecham-se sem rumo, fazendo-me apagar...

- Sorte a sua que eu ainda estou sendo bonzinho! - Aquilo ecoou em minha mente...

...

Outra vez acordando aqui, com as pequenas réstias de sol entrando pelos vidros translúcidos por trás da cama, enquanto a brisa batia nas plantas dependuradas sobre a mármore...

- Pensei que iria dormir por mais um dia, até mesmo achei que exagerei na dose.

Sua voz estava vindo do meu lado, de forma limpa, mas um tanto alterada... Tinha que colocar minha mente em ordem...

- .. O que aconteceu...?

- Você ia explodir metade do meu santuário, levadinha.

- ... Me sinto tão anestesiada... E fraca...

- É, tive que aumentar a dose em caso de emergência.

Viro-me para o lado, seguindo a sua voz... Assim que arrumo o meu corpo, fico cara a cara com Candy, enquanto ele estava deitado com seus braços atrás de sua cabeça.

- Se quiser, pode tocar! - Ele diz piscando para mim.

- Tentador, mas não...

Passo minha mãos pelos meus olhos, não acreditando que ele realmente ficou aqui do meu lado...

- Concordo, deve ser realmente tentador. Uma pena que você é inocente demais, nada que eu não possa dar um jeitinho!

- ... Não acho que o problema esteja em eu ser inocente... Mas sim em você ser um imenso sem noção e aproveitador...

Estava quase prestes a dormir novamente, até sentir uma de suas mãos agarrar minhas bochechas, amassando meus lábios.

- Dorme não, quero conversar um pouquinho.

- Não sei se consigo levar alguma conversa a sério agora...

- Consegue sim!

Candy agarra o meu corpo, puxando-me para mais perto dele, abraçando-me de forma invasiva.

- Estamos muito perto... Não gostei disso...

- Shhhh! Preste atenção. - Ele diz colocando seu dedo em frente aos meus lábios.

- Percebi que suas ideias são bem enraizadas e antiquadas, me deu até um pouco de dó.

- Sou uma criatura que leva as coisas a sério...

- Ah, sim, eu também!

Mas em sua fala ele apenas ria...

- Sabe, deve aprender que nem todos pensam igual a você. Tipo eu, eu não sou uma fadinha da floresta.

- ... Sério? Não tinha percebido...

- Shhhh!

Sou calada outra vez por seu dedo do tamanho do meu rosto...

- O que quero dizer é que casamento é algo muito, muito, muito além de um beijo. Eu penso que isso é uma forma de te conhecer melhor, não de criar um grande vínculo e comprometimento.

- ... Mas beijar é algo tão único e precioso... Não acho que deve ser oferecido a qualquer um...

- Que bom, pois eu não sou qualquer um!

- Olha... Eu entendo a sua forma de pensar... Não querer nenhum compromisso sério com nada... Mas não é assim que fui ensinada.

Sento em meio aos lençóis, livrando-me de seus braços que me cercavam.

- E foi ensinada por quem? Por um livro velho e por ninfas mais velhas ainda que nunca foram tocadas pelo sexo oposto? Dá um tempo!

- De certa forma você tem razão... Mas a minha ideia sobre ter sentimentos por alguém antes de beijar não me parece errada.

- Então concorda que não é necessário casar por causa de um mero beijo?

- Não sei... Tenho que pensar... Acho que ainda é algo bem sério.

- Ah, vamos lá... Quero mostrar a você novos olhares sobre o mundo. Esquece isso de casamento!

- Pare de ser tão insistente, Candy... Apenas me dê um tempo para processar tudo o que aconteceu...

- Ótimo! Precisando de mim, para qualquer coisa, basta apenas chamar pelo meu nome em alto e bom som.

Candy Pop - Além da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora