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Passei a noite em claro, remoendo tudo o que a Ayara me contou. Eu estava furioso com o meu amigo e decidido a acertar as contas com ele, de homem para homem. Ele ia ter que me escutar e se explicar.

Eu já estava arrumado para o trabalho, vestindo um terno preto comum, uma gravata vermelha que contrastava com a camisa branca, e o meu relógio de pulso prateado, quando entrei na cozinha e vi a mesa do café posta. Havia pães, frutas, suco, café, leite, queijo e presunto. Tudo arrumado com capricho.

Puxei uma cadeira e me sentei à mesa, e enchi uma xícara de café bem forte e amargo, do jeito que eu gostava, para começar o dia. O aroma do café invadiu as minhas narinas, me despertando. Não demorou muito e a babá entrou na cozinha com a minha filha, que já estava uniformizada para o colégio. Ela usava uma saia xadrez vermelha e uma blusa branca, com o emblema da escola. Seus cabelos castanhos escuros estavam presos em duas tranças, e ela carregava a mochila rosa nas costas.

— Bom dia, papai! — Ana Clara disse, vindo me dar um beijo, e eu a abracei com carinho.

— Bom dia, minha princesinha, você dormiu bem? — eu perguntei, sorrindo. Eu a olhei nos olhos, que eram azuis como os meus, e por um momento havia me esquecido que estava bravo com tudo aquela situação da Ayara e o Sebastian.

— Sim, papai, mas você não me colocou para dormir. Onde você foi que não me levou? — ela protestou, fazendo um biquinho. Ela adorava quando eu a colocava na cama e lia uma história para ela. Era o nosso momento especial.

— Ah, o papai precisou sair com a Ayara, ela está um pouquinho triste e eu queria deixá-la feliz. Mas hoje o papai promete que vai te colocar na cama e vou ler uma história bem legal, o que você acha? — eu disse, tentando compensá-la.

— Sim, papai, mas eu quero que me leve para sair também. Quero ir ao cinema ver o filme de princesa e depois tomar sorvete e comer pizza — ela disse, cruzando os bracinhos. Eu sabia que ela gostava da Ayara, mas às vezes tinha ciúmes dela.

— Tudo bem, mandona. Eu levo você para sair, mas vai ter que prometer que vai se comportar no colégio — eu disse, fazendo um acordo com ela.

— Tá bom, papai, mas a titia Bárbara precisa ir com a gente! — ela disse, animada.

Eu sorri, sentindo uma onda de felicidade me invadir. Estava com muitas saudades da Bárbara, que estava longe de mim há dias, com tanta correria: tanto ela com a faculdade, quanto eu no trabalho. Quase não tínhamos tempo de nos ver. Talvez fosse uma boa ideia promover um momento em família entre nós, para nos aproximarmos ainda mais. Estava contente por ver que minha filha estava se acostumando com a ideia de ter a Bárbara por perto. Esperava que elas se tornassem amigas e que a Bárbara se sentisse parte da nossa família.

Rosa colocou a minha filha em seu lugar e serviu a ela o café da manhã. Ela colocou um prato com pão, queijo e presunto, uma tigela com frutas picadas, um copo de suco de laranja e uma xícara de leite com chocolate. Ela era uma ótima babá, e cuidava da minha filha como se fosse sua. Ela logo depois se retirou da cozinha, me deixando a sós com a minha filha. Eu aproveitei para conversar com ela sobre o seu dia, e sobre o que ela estava aprendendo na escola. Eu queria estar presente na sua vida, e saber de tudo o que ela fazia.

No meio da nossa conversa, Ayara entrou na cozinha, arrastando os pés. Ela ainda tinha os olhos inchados de tanto chorar, mas estava bem arrumada, como se quisesse disfarçar sua tristeza. Seus cabelos castanhos estavam penteados, soltos sobre os ombros, realçando seu rosto delicado. Ela não usava maquiagem, e dava para notar seu rosto abatido e pálido. E estava bem-vestida, com uma calça jeans azul e uma blusa branca de manga curta, que combinava com seus pequenos saltos pretos. Ela carregava consigo sua bolsa marrom. Ela parecia cansada e desanimada.

— Bom dia! — ela disse, triste, puxando uma cadeira e se sentando à mesa, e se serviu de um copo de suco de uva.

— Bom dia, Ayara. O papai vai me levar para sair. — Ana Clara contou a novidade, animada.

Ayara olhou para a minha filha e abriu um sorriso triste e sem vida. Ela tentou parecer feliz por ela, mas não conseguiu.

— Legal, Ana Clara. E, onde vocês vão? — ela perguntou, sem interesse.

— Nós vamos ao cinema, ver um filme de princesas. E depois vamos tomar sorvete e comer pizza. — Ana Clara disse, empolgada.

Eu estudei a Ayara por longos minutos pensando aonde ela iria logo pela manhã.

— Vai sair? — perguntei, com a voz um pouco rouca.

Eu só esperava que ela não estivesse pensando em ir atrás do Sebastian, porque eu não ia admitir. Eu não ia deixar que ele a fizesse sofrer de novo, ou que ela se humilhasse para ele.

— Sim. Eu recebi uma notificação da faculdade, os resultados das provas já saíram, combinei com a Bárbara e com o restante do pessoal de nós encontramos para ver o resultado. — Ela comentou, com a voz triste demais para um momento tão cheio de expectativas, se servindo de um pedaço de bolo de chocolate.

— Ótimo! — Eu disse, firme. — Porque a partir de hoje você está de castigo. Só vai sair de casa com o motorista para lugares necessários, e eu quero o cartão de crédito de volta. — Eu disse, esticando a mão em sua direção.

Ela olhou para mim e depois para a minha mão e soltou um suspiro e levantou os olhos na minha direção com indignação.

— Mas o que é isso, Miguel? Eu estou sofrendo, tá? Não era para eu estar sendo punida e sim o Sebastian. Ele me magoou e me enganou. O que foi tudo o que você fez por mim ontem? Era só um momento feliz para depois você me punir como um sádico, me deixando de castigo e impedindo de fazer as coisas que gosto? — ela reclamou, revoltada.

— Ayara, você me escondeu coisas importantes e não pense que vou deixá-la impune só porque está sofrendo. Eu deixei bem claro que não achava o seu relacionamento com o Sebastian saudável, mas você quis insistir. Agora vai arcar com as consequências junto com ele. E eu não quero que você se meta em problemas com esse tal de Derek — eu disse, sério. — Vamos me dê o cartão!

Ela me olhou com a feição confusa por um momento. Talvez não soubesse que eu conhecia o Derek.

— Você o conhece? — ela perguntou, surpresa.

Abriu bolsa emburrada e pegou sua carteira, tirou de lá o cartão de crédito e colocou em cima da mesa.

— Sim, e não é o tipo de homem que eu quero perto de você — eu disse, sem rodeios.

Peguei o cartão e o guardei no meu bolso do paletó.

— Mas Miguel, ele foi um cavalheiro comigo, ele... — ela tentou se defender, mas eu a cortei.

— Não importa o que ele foi ou deixou de ser! — Eu disse, elevando a voz. — Eu conheço o Derek e não tenho nada contra ele, mas não gosto dessa ideia de saber que outro homem velho está atrás de você. Ele tem trinta e três anos. E, você só tem vinte anos, Ayara, e precisa se relacionar com pessoas da sua idade. Já basta todo esse problema que você se envolveu com o Sebastian. Eu já disse, enquanto estiver sob os meus cuidados, as coisas vão ser do meu jeito! — eu disse, autoritário.

Ela não disse nada, apenas colocou os cotovelos sobre a mesa e tapou os olhos, soluçando. Eu vi quando uma lágrima escorreu e ela secou rapidamente. Eu sei que estava sendo duro com ela, mas precisava ser firme. Ayara era uma garota muito ingênua, e precisava aprender como a vida funcionava e a mente de alguns homens também. Ela precisava crescer e amadurecer.

Terminei de tomar o meu café e me levantei da mesa. Eu precisava ir até o meu escritório. Antes de ir para o trabalho, eu ia fazer uma visitinha na casa do Sebastian, mas eu precisava pegar uma coisa que só pensei que usaria quando Ana Clara viesse me apresentar o primeiro namorado.

Abri meu cofre e peguei uma arma que eu tinha, ninguém sabia sobre ela, e eu a mantinha em segredo. Era uma pistola preta, de calibre 38, que eu tinha comprado há alguns anos, para me defender de possíveis ameaças. Eu não gostava de violência, mas estava disposto a usar a arma se fosse preciso. Eu não ia atirar no Sebastian, só queria me certificar de que ele não voltaria a se aproximar da Ayara. Eu não ia deixar que o Sebastian escapasse impune, depois de tudo o que ele fez com ela. Ele ia se arrepender de ter mexido com a minha filha.

Entre Segredos e Paixões 2 - Laços do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora