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Aquele foi mais um sábado que perdi trancado no escritório da FAST, trabalhando até tarde. Por um lado, era bom poder manter a mente ocupada com o trabalho, assim eu não me sentia tão mal com tudo o que aconteceu nas últimas semanas, principalmente a conversa que o Miguel teve comigo e a imposição de distância que ele colocou entre nós.

Enviei um último e-mail para a minha secretária com o levantamento do último mês e pedi que ela imprimisse para a próxima reunião extraordinária que teríamos na segunda-feira, onde nós iríamos decidir se abriríamos ou não o capital da empresa. Em seguida, desliguei o notebook na intenção de finalmente poder ir para casa.

Mas, ao olhar para a porta, vi Sabrina entrar na minha sala. Ela vestia um elegante vestido preto que ia até os joelhos e um colar longo que realçava o seu pescoço. Eu vinha fugindo dela desde o dia da festa, quando ela armou aquele flagrante para que Ayara me pegasse com Paola. No fundo, eu sabia que ela estava certa em tudo o que tinha feito, mas aquilo estava me custando muito caro.

Ela caminhou em silêncio até as poltronas e se sentou, com a coluna reta e cruzando os braços na frente do peito. Seu rosto expressava uma falsa inocência.

— Vai continuar sem falar comigo, Sebastian? — ela perguntou, querendo fazer as pazes.

— Eu não tenho nada para falar com você; já disse! — eu respondi seco, fechando o notebook com força.

Comecei a reunir algumas folhas soltas que estavam sobre a mesa, sem encará-la.

— Ah, por favor! O que eu fiz nem foi tão grave! E você deve estar com raiva da Paola, se ela não tivesse voltado, nada disso teria acontecido — falou com cinismo.

Por um lado, eu reconhecia que ela tinha razão: a Paola tinha virado a minha vida de cabeça para baixo quando reapareceu, trazendo de volta lembranças e sentimentos que eu achava que tinha superado. Mas o pior de tudo foi a forma como eu agi com a Ayara, iludindo-a e magoando-a sem consideração pelos seus sentimentos. Eu sabia que tinha sido um canalha com ela, mas eu não tinha coragem de admitir isso nem para mim mesmo.

— Não! A culpa é sua por ter...

— Por ter o quê? Hum? — ela disse desafiadoramente, me calando e encarando. — Por não ter deixado você brincar com a pobre apaixonada da Ayara?

Eu me calei por um momento. Ela estava certa, mas isso ainda não lhe dava o direito de se intrometer na minha vida.

— Sim, e por sua culpa, o Miguel me proibiu de ver a Ayara, e você também! — esbravejei, com raiva e frustração na voz ao me lembrar da conversa que Miguel e eu tivemos.

Ela ficou em silêncio, chocada com a notícia.

— O quê? Mas o Miguel não pode fazer isso! — ela protestou, com a voz trêmula.

— Sim, ele pode e fez! Ele é o responsável legal dela, tem o poder de escolher quem pode ou não se aproximar dela. E ele me deixou bem claro que não quer você nem eu por perto, entendeu?! — expliquei, com frieza.

— Mas tudo o que eu fiz foi pensando no bem dela, Sebastian. Não é justo que ele me afaste dela também. Eu gosto tanto dela!

Cínica!

— Você gosta é da ideia de ter a fortuna dela disponível para nossa família — retruquei, irritado.

— Oh! — ela fez um gesto dramático, pondo a mão no peito. — Como tem coragem de falar isso, Sebastian? Eu gosto da Ayara porque ela é autêntica, romântica e, acima de tudo, ingênua!

Terminei de reunir as folhas e as grampeei. Coloquei-as na pasta e me levantei da cadeira.

— Sabe de uma coisa, Sabrina? — falei, olhando firme para ela. — Eu acho que sua vida deve ser muito sem graça. E você não tem nada melhor para fazer além de ficar se metendo na minha vida e na dos outros. — Virei de costas para ela.

Peguei a chave do meu carro e coloquei a minha mochila nas costas, saindo da sala e deixando-a sozinha. Ela ficou me olhando com uma expressão de súplica, mas eu não me importei. Caminhei pelos corredores da empresa, que estavam quase desertos. As luzes estavam apagadas e só se ouvia o som do ar-condicionado. Era sábado e a maioria dos funcionários devia estar aproveitando o fim de semana com suas famílias ou amigos, coisa que eu deveria estar fazendo também se não estivesse tão enrolado.

Assim que entrei no elevador, o meu celular tocou. Olhei no visor e vi que era o Felipe. Ele estava me ligando pelo WhatsApp, provavelmente para me convidar para sair.

Atendi, curioso para saber o que ele queria.

— Fala, Brother — ele disse, com um tom saudoso. Eu podia ouvir a música alta e as risadas ao fundo. Ele devia estar em algum bar ou festa.

— E aí, Felipe? — eu disse, sem entusiasmo, mas tentando parecer animado.

— O que você vai fazer de bom hoje à noite?

— Nada de muito interessante — respondi, desanimado.

— O Miguel me contou o que rolou com a Ayara — ele disse, mudando de assunto. Droga, ele já sabia.

— Já vi que as fofocas correm soltas, né?! — resmunguei, irritado. Eu não queria falar sobre isso, ainda mais com o Felipe, que era o maior galinha que eu conhecia.

— Olha... sinceramente, é uma pena, mas veja pelo lado bom, meu amigo. Agora você pode ir ao bar ou àquela boate de stripper que nós íamos, em vez de ir ao McDonald's comer o McLanche Feliz com a sua namoradinha — ele zombou, provocando-me. Idiota! Ele sabia que eu odiava quando ele chamava a Ayara de namoradinha.

— Felipe, vai se fod... — comecei a xingá-lo, mas ele me interrompeu.

— Calma, meu amigo — ele disse, rindo. Ele achava que era tudo uma grande piada. — Era só brincadeira. Eu estou aqui no bar e o clima está ótimo, muita mulher gostosa, daquelas suculentas que você gosta, e como eu sei que você está na pista.

— Eu não sei, Felipe, estou sem cabeça para mulher — resmunguei.

— Não é nada sério, Sebastian, é só curtição. No dia seguinte você nem vai se lembrar delas — tentou me convencer. Felipe era um cretino mesmo.

Soltei um suspiro, sem ânimo para beber, curtir ou sair com outras mulheres. Mas talvez um pouco de álcool pudesse me fazer esquecer os problemas por um instante, ou pelo menos aliviar a dor que eu sentia no peito.

— Tá bom, mas eu não quero mulher, só bebidas — concordei, sem muita convicção.

— É assim que se fala, meu amigo! — ele comemorou.

Não estava com vontade de sair, mas também não queria passar a minha noite de sábado sozinho em casa. Combinei com o meu amigo o local onde nos encontraríamos e desliguei o celular.

A porta do elevador se abriu no subsolo e segui em direção ao estacionamento, já sabendo onde seria a minha parada naquela noite. Não tinha planos de voltar para casa tão cedo.

Destravei o meu Audi e antes de entrar nele, retirei o paletó do terno cinza e a gravata vermelha, que me davam um ar formal demais. Desabotoei os dois primeiros botões da camisa branca e dobrei as mangas até os cotovelos, deixando à mostra o meu relógio de pulso. Passei as mãos nos cabelos, bagunçando-os um pouco, para ficar com um visual mais despojado.

Entrei no carro, com o destino traçado, acelerando pela avenida, rumo à noite que me esperava.

Entre Segredos e Paixões 2 - Laços do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora