O monstro que pulsa!

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Três dias, esse é o tempo que estou no porão brincando com meus companheiros de luta. Os ratos que ajudaram os alemães a obterem informações junto da traidora.

Confesso que estava com saudades de ver sangue em minhas mãos, do cheiro, da faca deslizando pela carne, enquanto eles gritam de dor. Nem me importei em subir para comer, era sempre assim, se durassem dias eu ficaria aqui, imerso nesse horror tão delicioso.

Lembro da primeira vez que brinquei assim, tinha doze anos quando cortei o primeiro corpo. Raj Guptar, um filho da puta que merecia cada corte em seu corpo. Mesmo que minha mãe tenha morrido por isso, mas não me arrependo, ela escolheu seu caminho e sua morte foi uma consequência.

Ela foi a primeira mulher que partiu meu coração, a primeira que me abandonou, me mandando até o filho da puta que me jogou naquela vala!

...

- Não, por favor Raj! - ouvi ela gritar agoniada.

- Cale a boca sua puta! - o homem rosnou.

Ouço os sons abafados dentro do quarto e o grito de dor que ela dá, é igual da outra vez. Vou até a porta, com meu pequeno corpo tremendo, com medo dele matá-la e olho pela fresta da madeira.

Meus olhos arregalam ao ver o que ele faz com ela novamente, ela grita e chora agoniada, enquanto ele enfia a mão dentro da bunda dela e vejo sangue quando ele a retira. Sinto meus olhos úmidos e soluço baixo, vendo como o corpo dela fica imóvel, tendo a certeza que ele a matou dessa vez.

Ao ver que minha mãe não se meche, não consigo segurar o soluço que escapa da minha boca e seus olhos vidrados encontram os meus e temo que ele vá me pegar então corro para fora.

O homem me persegue e rosna me ordenando que pare, mas eu sei que não devo parar, ele vai me espancar igual da última vez ou pior, talvez faça comigo o que fez com ela! Então eu corro pela rua vazia o mais rápido que minhas pequenas pernas conseguiam.

O homem grita para que eu pare e continua a me perseguir, e por duas vezes ele quase me alcança. Consigo despistá-lo entre as pessoas e entro em um beco e me escondo entre alguns sacos de lixo, sei que devo ficar aqui ate de manhã, é o que mamãe me fala, então como um garoto obediente eu fico, mesmo que o frio faça meus ossos doerem.

De manhã sinto como se tivesse sido espancado, igual da última vez quando ele me alcançou na rua, me levou de volta para a casa e me espancou até eu desmaiar. Mamãe me levou para o hospital, mas eu não podia dizer o que tinha acontecido, era segredo, ninguém podia saber sobre ele, ou nós dois estariamos mortos, e eu não quero que minha mamãe morra, mesmo que as vezes eu peça isso, quando ele a espanca.

Saí de debaixo das caixas, que me aqueceram do frio e me estiquei tentando fazer meu corpo parar de doer. Senti meus olhos inchados e doendo, devido ao choro de ontem, quando vi minha mãe morta e sei que dessa vez eu estou sozinho. Minha mamãe é a única que tenho, além da Dabby, mas a Dabby não é minha mamãe. Quem vai me contar histórias felizes para mim? Quem vai cuidar dos meus machucados? Só a mamãe sabe como gosto do meu mingau.

Limpo as lágrimas e saio do beco devagar, observando se ele não está a vista, como mamãe me ensinou. Quando vejo que ele não está, ando a passos ligeiros de volta para a casa velha de madeira, onde eu, mamãe, Dabby e outras mulheres, vivemos. A porta está trancada, como é o costume, quando não há homens dentro, então vou até a porta secreta e entro dentro, indo para o quarto da mamãe.

Abro a porta devagarzinho e a vejo deitada de bruços. Vou até ela e sinto alívio quando a vejo respirando. Vou até o armario, onde ficam nossas roupas e pego meu uniforme da escola e vou para o banheiro. Tenho sete anos e Mamãe me falou que já sou homem grande e preciso fazer as coisas sozinho, ser independente. Então entro no banheiro, tomo um banho, escovo os dentes e me visto.

Consigliere - Renda-se ao Prazer...Onde histórias criam vida. Descubra agora