Inglaterra, 1797
Catherine Pembroke
A tempestade que me envolvia não era apenas a que rugia nos céus, mas a que se desenrolava no meu coração. A chuva pesada se acumulava no meu vestido de seda, tornando cada passo mais difícil enquanto eu corria, desesperada para escapar das paredes de uma casa que se tornara uma prisão. As lágrimas misturavam-se com a água que me encharcava, e o pensamento de ser entregue a um homem com o dobro da minha idade era insuportável.
Foi nesse estado de desespero que esbarrei em alguém, um obstáculo inesperado que me fez perder o equilíbrio. A mão firme que agarrou meu braço impediu minha queda, e quando levantei os olhos para me desculpar, encontrei um par de olhos negros que revelavam uma curiosidade insolente. O homem diante de mim estava tão ensopado quanto eu, mas seu sorriso era desafiador e divertido.
— Está fugindo de uma tempestade ou de algo mais perigoso? — perguntou ele, a voz cheia de escárnio, com um sotaque refinado que parecia desprezar a gravidade da situação.
Puxei meu braço de sua mão, sentindo a indignação crescer em mim. Meu tom saiu frio, apesar do calor que subia para minhas bochechas, não por vergonha, mas pela audácia de um estranho se dirigir a mim dessa forma.
— Fugindo de algo que o senhor provavelmente não compreenderia.
O sorriso dele se ampliou, como se eu acabasse de lhe contar um segredo engraçado. Ele me analisou dos pés à cabeça, sem qualquer disfarce, o olhar tão desafiador quanto sua atitude.
— Talvez eu entenda mais do que pensa, minha cara. Afinal, sou um mestre em fugir de problemas.
— Fugir, senhor? — retruquei, não resistindo ao impulso de devolver o desaforo. — Ou causar problemas? A julgar por sua aparência e modos, parece mais ser o segundo caso.
Ele riu de verdade, uma risada solta e surpreendentemente agradável, como se eu acabasse de lhe contar a piada mais engenhosa do mundo. Fez uma reverência exagerada, molhando-se ainda mais no processo.
— Henry Blackwood, ao seu dispor, senhorita...?
— Catherine Pembroke, — respondi, com um aceno de cabeça, desafiadora. — E, ao contrário do senhor, não sou conhecida por fugir de problemas, mas por enfrentá-los.
— Catherine Pembroke, então. — Repetiu meu nome, como se estivesse saboreando a sonoridade. — Uma dama que enfrenta problemas e não tem medo de falar o que pensa. Isso é raro, especialmente por aqui.
— E o que há de raro em não gostar de ser tratada como uma criança ou uma posse? — retruquei, minha frustração evidente. — Ou talvez seja raro apenas para os senhores que vivem uma vida de prazeres sem consequências.
Ele sorriu novamente, mas havia algo diferente nos seus olhos agora, um brilho menos brincalhão e mais afiado.
— Talvez você tenha razão. — Admitiu, um pouco mais sério. — Mas garanto-lhe, minha vida não é sem consequências. Apenas aprendi a lidar com elas de uma forma... particular.
Enquanto o vento continuava a soprar e o frio penetrava meus ossos, percebi que havia mais naquele homem do que um simples libertino. Sua presença, embora um desafio à ordem, trouxe um tipo diferente de calor, algo perigoso e intrigante.
— Então, senhor Blackwood, se é de sua natureza lidar com as consequências de forma peculiar, talvez devesse se afastar e me deixar em paz, — disse, cruzando os braços e erguendo o queixo.
Ele inclinou a cabeça, um brilho malicioso nos olhos.
— Talvez. Mas onde estaria a diversão nisso, senhorita Pembroke?
Enquanto a tempestade continuava sua fúria ao nosso redor, dentro daquele pequeno espaço de encontro, uma nova e tumultuada conexão começava a se formar, prometendo complicar ainda mais nossos destinos entrelaçados.
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O Libertino e a Dama Indomável
RomanceSinopse 🍂 Na Inglaterra de 1797, onde as convenções sociais determinam os destinos das mulheres, Catherine Pembroke, uma jovem inteligente e de espírito livre, se vê encurralada por sua família para um casamento indesejado com um homem muito mais v...