A ameaça 🍂

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“Tem mais do que mostras,fala menos do que sabes”
— William Shakespeare

Lorde George Harrington

O retorno de Henry Blackwood a Londres chegou a mim como um sussurro indesejado, mas inevitável. Era apenas uma questão de tempo até que sua sombra se alongasse sobre tudo o que venho construindo. Eu sabia que Catherine, com toda sua tolice, certamente ouviria sobre ele, e pior, poderia desejar vê-lo. A mera ideia de que Blackwood pudesse cruzar o caminho dela enchia-me de inquietação.

Catherine é minha noiva, e Henry… Henry é uma ameaça.
Ele é um perigo não apenas por ser um libertino infame, mas por saber como usar esse maldido charme para iludir os que o cercam. Catherine é jovem, impressionável, e eu não permitiria  que Blackwood se colocasse entre nós. Ele deveria saber que havia limites. E hoje, eu me asseguraria de lembrá-lo disso.

Sem perder tempo, comecei minha busca nos lugares mais prováveis. Bordéis, tavernas, aqueles antros de perdição onde Henry sempre fora visto com frequência. Por algum motivo, ele conseguia encontrar diversão nesses lugares deploráveis, onde a reputação de um homem nada significava. Mas, apesar de meus esforços, nenhuma pista de seu paradeiro foi encontrada. As cortesãs dos estabelecimentos apenas balançavam a cabeça, como se soubessem de algo que eu não sabia.

Com os meus recursos esgotados e a paciência se esvaindo, restava-me apenas uma alternativa: sua mansão. Talvez fosse minha última opção, mas era a mais segura. E, ao me aproximar da imponente construção dos Blackwood, senti uma sensação de satisfação ao saber que, ali, eu o encontraria.

 E, ao me aproximar da imponente construção dos Blackwood, senti uma sensação de satisfação ao saber que, ali, eu o encontraria

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Ao chegar, fui recebido por um criado, que prontamente me conduziu à biblioteca, Blackwood estava lá, como eu esperava. Sentado com um livro aberto sobre o colo, ele parecia mais despreocupado do que qualquer homem deveria se sentir diante da ameaça que eu trazia comigo.

— Henry, — comecei, meu tom direto e desprovido de cerimônias.

Ele ergueu o olhar, e um sorriso largo se formou em seu rosto, como se a mera visão de minha figura lhe proporcionasse algum tipo de entretenimento perverso.

— Lorde Harrington. Que prazer inesperado, — disse ele, fechando o livro com um leve  estalo  — A que devo a honra de sua visita? Imagino que não seja para discutir literatura.

— Certamente não é, — respondi, cruzando os braços — Ouvi dizer que está de volta à cidade, Blackwood. E confesso que fiquei surpreso por não tê-lo encontrado nos locais que costuma frequentar. O que o trouxe de volta, afinal? Ou devo supor que minha noiva tenha algo a ver com isso?

O sorriso de Henry não vacilou. Ele se levantou, caminhando despreocupadamente até a lareira, onde o fogo crepitava em brasa.

— Catherine, é claro, sempre foi uma criatura interessante. Mas creio que você a subestima, Harrington. Ela possui mais espírito do que você imagina. 

— Não subestimo Catherine, — retruquei, aproximando-me um pouco mais — Mas a conheço bem o suficiente para saber que a sua influência sobre ela não será benéfica, Você não a merece.

Ele riu baixo, e o som ecoou pela sala, um misto de diversão e desprezo.

— Merecer? Desde quando casamentos são sobre merecimento? Pensei que você soubesse como funciona o mundo, Harrington. Não estamos aqui discutindo merecimento, mas conveniência. O que exatamente você veio me dizer?

— Vim oferecer um aviso, — declarei, a voz mais firme — Mantenha-se longe de Catherine. Ela é minha noiva, e eu não toleraria interferências. Londres pode ser uma cidade grande, mas eu não permitirei que você vague por ela com a ideia de que pode ter o que é meu.

Henry se voltou para mim, seus olhos brilhando com aquela provocação irritante que tornava insuportável.

— Sua noiva? Diga-me, Harrington, ela já lhe disse isso? Ou você apenas a vê como uma de suas posses, assim como o título que carrega? Talvez esteja com medo de que ela possa escolher diferente, se tiver a chance.

Eu me aproximei ainda mais, sentindo a raiva subir.

— Esta é sua última advertência, Blackwood. Se eu ouvir que você sequer respirou na direção dela, haverá consequências. Não subestime o poder de minha influência.

Ele sorriu mais uma vez, mas desta vez havia algo mais sombrio em seus olhos.

— Consequências, diz você? O, Harrington, você me subestima. Tenho pouco a perder. Mas você? Seu nome, sua reputação… esses, sim, são frágeis como vidro. Tenho certeza de que não gostaria que fossem manchados por um pequeno… incidente.

Eu sabia o que ele insinuava. Henry sempre fora capaz de manipular situações, criar histórias e espalhar rumores. Sua palavra, apesar de seu comportamento escandaloso, ainda tinha peso entre a alta sociedade.

— Considere-se avisado, — murmurei, forçando-me a manter o controle — E lembre-se de que alguns segredos não devem ser revelados.

Henry riu novamente, balançando a cabeça em descrença.

— Eu realmente gosto de você, Harrington. Tão formal, tão honrado. Mas devo lhe dizer… Catherine merece mais do que um casamento arranjado por conveniência. Se eu fosse você, começaria a tratá-la como uma mulher e não como uma peça em seu tabuleiro de jogos.

Engoli em seco, sentindo meu estômago revirar com a audácia dele. Sem dizer mais nada, virei-me abruptamente, deixando-o para trás. Henry Blackwood poderia ser perigoso, mas ele descobriria em breve que eu não era um homem que recuava diante de uma ameaça.

O Libertino e a Dama Indomável Onde histórias criam vida. Descubra agora