“Ó conspiração, não pretendes mostrar tua perigosa fronte à noite. Quando os males são mais livres?”
— William ShakespeareLorde George Harrington
Como já suspeitava, Henry Blackwood está mais uma vez a rondar Catherine, tentando enfeitiçá-la com suas maneiras levianas e seus sorrisos dúbios. Aquele tolo ainda não compreendeu que nada que ocorre em Londres envolvendo minha noiva me passa despercebido. Cada movimento, cada passo de Catherine está sob meus olhos atentos, e claro que o encontro entre os dois, naquela noite, num mercado deserto, chegou aos meus ouvidos antes mesmo do amanhecer.
Logo ao romper do dia, fui até a casa de Catherine. Decidi que um passeio era o melhor modo de avaliar seus pensamentos, então, levando-a a bordo de minha carruagem, seguimos pelas ruas movimentadas. Fiz questão de traçar um caminho que, de forma muito proposital, nos levasse até os arredores da residência dos Blackwood. A aproximação estratégica já me fez vislumbrar a mansão imponente do libertino. Ao passar pela rua estreita que margeava os jardins, inclinei-me ligeiramente para Catherine, deixando no ar a insinuação de um beijo. Eu sabia que Henry, aquele homem desprezível, estaria observando cada movimento. A vitória me pareceu tão próxima quanto o hálito de Lady Pembroke, que senti ao virar meu rosto para ela.
Como de costume, Catherine não perdeu a oportunidade de lançar seus comentários sarcásticos. Contudo, desta vez, suas palavras vieram de forma velada, quase imperceptíveis, tal como um espinho oculto entre pétalas de uma rosa. Apesar disso, passei um longo tempo a falar-lhe sobre tudo que ela ganharia como minha esposa – propriedades, riquezas, influência – como se tal esplendor fosse capaz de encher o coração de qualquer mulher de desejos. Todavia, o entusiasmo de Catherine era evidentemente falso. A jovem Pembroke não era, infelizmente, como minhas esposas anteriores, facilmente seduzidas pelo brilho de joias ou pela promessa de status. Havia uma resistência teimosa nela, algo que eu precisaria quebrar.
Depois de deixá-la à porta de sua casa, envolta em seu manto de dignidade e ironia, segui diretamente para meu escritório, a fim de pôr em prática o próximo passo de meu plano. Ao chegar, retirei minhas luvas de couro com certa impaciência e chamei pelo meu criado de confiança, um homem de meia-idade que já há muitos anos servia à minha família. Seu nome era Elliot, mas seu papel em minha vida ia muito além do que sua simples posição sugeria. Ele conhecia os segredos mais obscuros de Londres, e era hábil em arrancar confissões até mesmo de homens cuja honra era considerada inquebrável.
Quando ele entrou, fiz sinal para que trancasse a porta atrás de si. Eu não desejava que nenhum dos meus outros empregados, por mais leais que fossem, ouvissem o teor de nossa conversa.
— Elliot — comecei, cruzando as pernas e recostando-me na poltrona de couro escuro —, preciso que investigue Henry Blackwood. Quero saber tudo o que aquele patife já fez, tudo que esconde em sua vida repleta de devassidão. Não poupe esforços. Cada pecado, cada falha, cada dívida de jogo ou de cama, tudo deve ser trazido a mim.
Elliot, como sempre, manteve sua expressão impassível, mas percebi o brilho no olhar que denunciava sua prontidão para executar o trabalho. Ele assentiu silenciosamente, enquanto eu continuava a traçar meus planos.
— Esse homem tem tentado aproximar-se de minha noiva — acrescentei, estreitando os olhos ao lembrar da noite anterior. — E eu pretendo afastá-lo dela a qualquer custo. Não hesitarei em expô-lo como o canalha que é, ainda que isso exija uma campanha suja e demorada. Se algum delito maior já manchou seu nome, eu saberei e farei com que o mundo também saiba.
— Certamente, milorde. O senhor deseja um relatório detalhado? — Elliot inquiriu calmamente, sempre profissional.
— Sim, detalhado e preciso. Quero datas, nomes e locais. Deixe-me saber de cada escândalo ao qual ele já esteve ligado. E se houver algo recente, melhor ainda. — Inclinei-me para frente, o tom de minha voz mais baixo, quase um sussurro, como se os próprios móveis ao redor pudessem escutar meus planos. — Se Blackwood tentar interferir com Catherine novamente, ele verá sua reputação arruinada. E isso, caro Elliot, será o fim de qualquer esperança que ele tenha de seduzi-la.
Elliot curvou a cabeça em uma leve reverência, pronto para iniciar sua investigação. Era um homem meticuloso, e eu sabia que o dossiê que ele traria revelaria tudo o que eu precisava. Afinal, por mais que Henry Blackwood se ocultasse atrás de sua herança e seu ar de nobreza, ele era, em essência, um libertino vulgar. E como todo homem de sua laia, teria algo a esconder. Algo que eu usaria contra ele sem o menor remorso.
— Considera-o feito, milorde. Começarei imediatamente — respondeu Elliot com sua típica eficiência.
Assenti, observando enquanto ele saía do escritório, deixando-me a sós com meus pensamentos. Eu sabia que a investigação traria resultados, e quando o fizesse, Henry Blackwood não seria mais uma ameaça.
Enquanto encarava as chamas da lareira à minha frente, senti um sorriso frio se formar em meus lábios. Catherine Pembroke poderia ainda não entender o que o destino lhe reservava como minha esposa, mas isso pouco importava. Ela seria minha, e Henry seria apenas uma memória distante e humilhada.Eu já tinha planos para a pobre Catherine, planos que não eram nada bons para ela, mas eram certamente necessários para mim. E quanto a Henry Blackwood? Ele descobriria, mais cedo ou mais tarde, que brincar com os desejos de um homem como eu tinha um preço. E eu estava disposto a pagá-lo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Libertino e a Dama Indomável
RomanceSinopse 🍂 Na Inglaterra de 1797, onde as convenções sociais determinam os destinos das mulheres, Catherine Pembroke, uma jovem inteligente e de espírito livre, se vê encurralada por sua família para um casamento indesejado com um homem muito mais v...