“O amor é a única loucura de um sábio e a única sabedoria de um tolo”
— William ShakespeareHenry Blackwood
A conversa com Harrington havia sido, como sempre, uma diversão. O homem é praticamente previsível. Acreditava mesmo que com algumas palavras duras e ameaças veladas poderia me afastar de Catherine? Pobre diabo. Ele jamais entenderia que suas tentativas apenas inflamaram ainda mais minha determinação. Eu já estava decidido a tê-la, desde o primeiro momento que nossos olhos se cruzaram. A diferença agora era que Harrington havia me dado o empurrão final.
De fato, a pobre criatura não fazia ideia do tipo de mulher com quem estava lidando. Catherine Pembroke não era como as demais. Ela não se deixava domar com facilidade. Era inteligente, sagaz, e carregava em si uma vivacidade que a tornava irresistível. Harrington, com seu título e sua pompa, jamais seria o suficiente para uma dama como ela.
E eu, claro, não permitiria que ele tivesse o que, por direito, já era meu.Sentado à beira da lareira, um sorriso malicioso curvou meus lábios. A decisão estava tomada: Catherine seria minha. E o primeiro passo desse jogo seria dado agora. Para um homem como eu, conquistar uma dama exigia mais do que apenas charme. Era necessário astúcia, paciência e, acima de tudo, descrição.
Chamei Thomas, meu criado de confiança, com um breve toque na campainha. Ele apareceu rapidamente, sempre com a postura impecável e o semblante impassível. Thomas sabia de minhas intenções há muito tempo. Ele era um homem que compreendia o valor do silêncio e da lealdade.
— Thomas, vou precisar de seus serviços esta noite, — disse, entregando-lhe um pedaço de papel e uma pena — Escreva conforme eu dito.
Ele assentiu, a pena já em posição sobre o papel.
— Minha cara Catherine, — comecei. O som de seu nome em meus lábios me trouxe uma leve excitação — Não posso evitar o desejo de vê-la, ainda que em segredo. Encontre-me à meia-noite, no mercado de Spitalfields. Prometo que esta reunião será breve, mas de extrema importância. Saiba que ninguém mais estará lá além de mim. Confio em sua descrição, H.B.
Thomas escreveu com precisão e, em seguida, dobrou o papel, selando-o com cera.
— Agora, escute-me com atenção, — Falei, erguendo-me da poltrona e fitando-o nos olhos — Este bilhete deve ser entregue a Jane, a criada da senhorita Catherine. Mas é imperativo que ninguém mais saiba. Você será discreto, como sempre.
— Sim, senhor, — respondeu Thomas com uma leve reverência —Entregarei o bilhete com a máxima cautela.
— Ótimo. Vá agora, e não perca tempo.
Assim que ele deixou a sala, voltei a me sentar, observando o fogo crepitar na lareira. O bilhete estava em boas mãos, e eu confiava em Thomas para entregá-lo sem levantar suspeitas. Sabia que Jane faria o que fosse necessário para garantir que sua senhora recebesse a mensagem sem que ninguém soubesse.
O mercado de Spitalfields seria o local ideal para esse encontro clandestino. Situado nos limites de Londres, era um lugar onde as sombras dominavam à noite, e qualquer um que desejasse se encontrar longe dos olhos curiosos da sociedade poderia fazê-lo ali. As barracas estariam vazias, os mercadores já teriam partido, e apenas o silêncio da madrugada reinaria.
Enquanto esperava o retorno de Thomas, o tempo parecia se arrastar. Não que eu estivesse nervoso — Pelo contrário. A antecipação era doce, quase prazerosa. Catherine era diferente de todas as outras mulheres que eu já havia conhecido. Ela tinha um espírito indomável, um brilho nos olhos que desafiava o mundo. E era exatamente isso que a tornava irresistível. Harrington jamais poderia entender o que eu via nela, o que ele estava tão desesperado para manter sob controle.
Eu a libertaria. Não apenas das garras de Harrington, mas de todo o destino que lhe haviam imposto.
Quando os ponteiros do relógio marcaram onze horas, decidi que era hora de me preparar. Coloquei meu casaco negro, ajeitei minha cartola e sai de minha mansão. O ar da noite era fresco, e a lua cheia iluminava a cidade com uma luz suave e misteriosa.
A carruagem já me aguardava. Thomas não havia retornado ainda, mas eu confiava que ele estava cumprindo sua missão com perfeição. Enquanto subia na carruagem, deixei que um sorriso se formasse em meus lábios. A noite apenas começara.
O trajeto até o mercado de Spitalfields foi breve e silencioso. As ruas de Londres, naquela hora, estavam quase desertas, e os poucos que ainda perambulavam eram sombras passageiras, sem importância. Quando chegamos, desci da carruagem e caminhei pelo mercado vazio. As barracas estavam abandonadas, as mercadorias já recolhidas, e a única luz que restava vinha dos postes de rua, lançando sombras longas e ameaçadoras.
Era o lugar perfeito
Caminhei até um canto discreto, onde uma pequena lanterna iluminava fracamente o chão de pedra. Aquele era o tipo de encontro que eu gostava — o perigo, a clandestinidade, tudo contribuía para a emoção da conquista. E Catherine, sem dúvida, era uma conquista como nenhuma outra.
Enquanto aguardava, imaginei sua reação ao receber meu bilhete. Sabia que ela hesitaria, que seu orgulho a faria resistir por alguns momentos. Mas, no fundo, ela sabia. Sabia que eu era diferente de Harrington, que eu lhe oferecia mais do que uma vida de obediência e tédio. Comigo ela poderia ser livre.
Não demoraria muito para que ela percebesse isso.Ao longe, ouvi o som suave de passos ecoando no mercado vazio. Um sorriso lento se formou em meus lábios enquanto eu me virava para a escuridão. A noite estava apenas começando, e eu, Henry Blackwood, sempre soube como torná-la inesquecível.
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O Libertino e a Dama Indomável
RomanceSinopse 🍂 Na Inglaterra de 1797, onde as convenções sociais determinam os destinos das mulheres, Catherine Pembroke, uma jovem inteligente e de espírito livre, se vê encurralada por sua família para um casamento indesejado com um homem muito mais v...