A dama ferida 🍂

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"Se vale a pena viver e se a morte faz parte da vida, então, morrer também vale a pena."
- Immanuel Kant

Catherine Pembroke

Quando regressei da loja de enxovais, a chuva parecia acompanhar minha alma, caindo incessante, espelhando as lágrimas que me recusei a derramar.

Meu coração, antes tomado por uma esperança insensata, agora se encontrava em ruínas. Henry Blackwood, o homem que em tão pouco tempo perturbou minha paz, revelou-se alguém que nunca imaginei. A história que se espalhara por toda Londres — dele ter abandonado um bebê à própria sorte — corroía meu espírito.

Ainda em Londres, logo que a notícia chegou aos meus ouvidos, mandei Jane à procura de Henry. Precisava confrontá-lo, ouvir de seus próprios lábios que tudo aquilo não passava de um engano. No entanto, para meu desespero, Jane retornou com más notícias.

Ela entrou no meu quarto naquela tarde, seus passos eram tão leves que não os percebi até ela estar ao meu lado.

— Milady — ela começou com a voz suave, enquanto eu encarava a lareira. — O Sr. Blackwood... Ele partiu às pressas. Ninguém sabe para onde foi.

Fitei Jane com olhos cansados, sentindo meu corpo estremecer levemente, não pelo frio, mas pela decepção.

— Partiu? — repeti, como se a palavra não fizesse sentido em meus lábios. — Sem deixar rastro? E tudo isso... verdade, então? Ele não... Ele não se importou nem com... — Minha voz falhou ao tentar pronunciar as palavras. A imagem do bebê sem pai, sem Henry, ecoava em minha mente como um sino de funeral.

Jane, com a sabedoria de quem me servia há anos, percebeu o abatimento que me tomava. Aproximou-se mais, ajoelhando-se ao lado de minha cadeira e tomando minha mão nas suas.

— Milady... Não deve acreditar em tudo que se ouve. — Seus olhos, carregados de preocupação, buscaram os meus. — Há muitas mentiras que circulam pelos salões de Londres. O Sr. Blackwood pode ter suas falhas, mas não acredito que seria capaz de algo tão cruel.

Suspirei, sentindo o peso das palavras de Jane, mas o tormento não me abandonava.

— Jane, e se for verdade? E se Henry... E se ele realmente for esse tipo de homem? Como posso... — Minha voz quebrou, e os soluços reprimidos finalmente se libertaram. — Como pude me enganar tanto?

Jane apertou minha mão, sua expressão triste.

— Não se pode julgar um homem apenas por boatos, Milady. Sei que sua dor é grande, mas... Precisa descansar, permitir que sua mente clareie antes de tomar qualquer decisão.

Mesmo tentando absorver suas palavras, a inquietude me dominava. Sem ter para onde ir, sem saber como processar aquela dor, decidi deixar Londres. Talvez o ambiente bucólico de Kent pudesse acalmar o tumulto em meu peito.

O Libertino e a Dama Indomável Onde histórias criam vida. Descubra agora