O almoço indigesto 🍂

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"Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente."
- William Shakespeare

"- William Shakespeare

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Catherine Pembroke

O cheiro de carne assada e ervas frescas invadiu a sala de jantar assim que os criados trouxeram os pratos. Estava sentada à mesa, fitando a porcelana imaculada, mas meus pensamentos estavam distantes. Não que estivesse alheia ao que acontecia ao meu redor; pelo contrário, o silêncio inquietante que permeava o ambiente era um sinal claro de que algo desagradável estava para ser dito. Minha mãe, Lady Eleanor Pembroke, mantinha o olhar fixo em seu prato, cortando delicadamente a carne, mas sem realmente comer.

Meu irmão, Richard, estava mais atento que o usual, os olhos vagando entre mim e nosso pai, Sir Edward Pembroke, que finalmente decidiu quebrar o silêncio, limpando a garganta.

- Bem, Catherine, - começou ele, o tom austero típico de um homem que acreditava na ordem das coisas. - Há um assunto que precisamos discutir.

Levantei meu olhar, encontrando o dele. Seus olhos azuis eram frios, calculistas. Não eram como os de Richard, vibrantes e cheios de vida, mas antes, rígidos e implacáveis. Já era possível sentir o peso de suas palavras antes mesmo de serem ditas.

- Espero que seja um assunto importante para justificar a melancolia desse almoço, - respondi, mantendo meu tom leve e sarcástico. Lady Eleanor olhou para mim com olhos reprovadores, como sempre fazia quando eu falava sem pensar duas vezes.

- Isso não é uma brincadeira, Catherine, - ele continuou, ignorando o comentário. - Eu tomei uma decisão que será do melhor interesse de nossa família.

Deixei os talheres de lado, percebendo que o que quer que viesse a seguir, não traria nada de bom.

- E o que exatamente seria de 'melhor interesse' desta vez, papai?

Sir Edward respirou fundo, como se estivesse prestes a pronunciar uma sentença.

- Arranjei um casamento para você.

Por um momento, a sala pareceu congelar. Podia ouvir o tilintar de um garfo caindo no prato de Richard, o movimento hesitante da mão de minha mãe levando a taça aos lábios. Meu próprio coração pareceu parar antes de começar a bater furiosamente. A palavra "casamento" ecoava em meus ouvidos, como um badalar de sino fúnebre.

- Você... o quê? - As palavras saíram antes que eu pudesse contê-las. - Com quem? E por que não fui consultada sobre isso?

Sir Edward recostou-se na cadeira, cruzando as mãos sobre a mesa, como quem preparava um discurso ensaiado.

- É um casamento vantajoso. Lorde Harrington, um homem de grande respeito e posses. Este acordo beneficiará nossa família, especialmente depois dos últimos meses de dificuldades financeiras.

Lorde Harrington. O nome soava distante, mas não desconhecido. Um homem nos seus cinquenta anos, viúvo duas vezes. Ele era tudo que eu não poderia desejar.

- Um homem que poderia ser meu pai, - retruquei, sentindo a bile subir. - E quem disse que estou interessada em me casar, ainda mais com um velho que mal conheço? Isto é um ultraje!

- Catherine, controle-se! - A voz de minha mãe cortou o ar como uma faca. Ela raramente se envolvia em discussões, preferindo o papel da mulher submissa que evitava confrontos. No entanto, hoje, havia um pingo de desespero em seu olhar.

- Não, - continuei, minha voz ficando mais alta. - Não vou me casar com um homem que não amo, e certamente não com alguém que tem a idade de meu avô! Isso é ridículo, mesmo para você, papai.

- Ridículo? - Os olhos de Sir Edward estreitaram-se, o azul de seu olhar ganhando uma sombra perigosa. - Você se atreve a me desafiar, filha? Sempre foi rebelde, sempre ignorou suas obrigações como dama. Mas isso termina hoje. Você se casará com Lorde Harrington, e essa é minha última palavra.

- Não sou um peão no seu jogo de alianças, pai! - Levantei-me abruptamente, empurrando a cadeira para trás com um rangido. - Tenho o direito de escolher meu próprio caminho!

- Direito? - Ele riu, mas não havia humor em seu tom. - O direito que você tem é de obedecer à sua família e garantir o futuro que estamos construindo. E se recusar, saiba que não há lugar para desobediência debaixo deste teto.

Senti meus olhos arderem, mas recusei-me a chorar. Não na frente dele. Não diante do homem que acreditava que meu valor era medido por alianças e dotes. Olhei para minha mãe, buscando algum sinal de apoio, mas ela permanecia imóvel, uma estátua de resignação.

- Se isso é o que você considera amor paternal, prefiro não ser sua filha, - sibilei, virando-me para sair. - Não me casarei com Lorde Harrington, nem hoje, nem nunca.

- Volte aqui, Catherine! - Sir Edward gritou, mas eu já estava na porta, minhas saias roçando o chão com a pressa de minha fuga. - Se sair dessa casa, não volte mais!

Mas eu já estava decidida. O ar lá fora seria mais respirável do que a atmosfera opressiva daquele salão de jantar. Sentia-me sufocada, como se a liberdade estivesse se esvaindo como areia entre meus dedos. As palavras de meu pai ainda ecoavam em meus ouvidos enquanto eu cruzava os jardins, tentando ignorar o nó que se formava em minha garganta. Seria este o destino de toda mulher? Submeter-se aos desejos de homens que não enxergam nada além de poder e status?

A chuva começou a cair enquanto eu atravessava os portões, os pingos gelados batendo no meu rosto como pequenas bofetadas. Naquele momento, tudo o que eu queria era fugir para bem longe, para um lugar onde ninguém pudesse me forçar a ser o que eu não queria ser.

 Naquele momento, tudo o que eu queria era fugir para bem longe, para um lugar onde ninguém pudesse me forçar a ser o que eu não queria ser

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E foi ali, na beira do caminho enlameado, que eu encontrei Henry Blackwood pela primeira vez.

E foi ali, na beira do caminho enlameado, que eu encontrei Henry Blackwood pela primeira vez

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