“Devagar! Quem mais corre, mais tropeça!”
— William ShakespeareLorde George Harrington
Eu a observava há meses. Catherine Pembroke, com sua teimosia encantadora, tentando escapar das redes que a vida lhe havia lançado. Sempre tão altiva, tão determinada a se manter longe de mim, como se realmente tivesse escolha. Ela não tinha.
Toda mulher, no fim das contas, sempre cede. E ela cederia também. Comigo, com Henry Blackwood, ou com qualquer outro canalha que ousasse se aproximar. Mas, agora, havia outro jogo em curso, um jogo que eu não havia previsto.
Blackwood.
O libertino de marca maior, que desfilava pelos salões de Londres como se fosse um rei sem coroa. Ele, com sua herança suja, conquistava a simpatia de todos com seu sorriso malicioso e seus modos desprezíveis. Mas comigo, ele foi longe demais.
No baile, ao vê-la dançando com ele, meu sangue ferveu. Era um insulto, um ato de traição que eu não deixaria passar. Ela é minha. E, quando a vi, à luz da lua, entrar pela porta lateral da casa dele ontem a noite, não tive mais dúvidas de que as coisas estavam saindo do controle. Ela o visitou... à noite. A minha noiva, se entregando nas sombras da noite a um homem como Henry Blackwood.
Mas foi o beijo que testemunhei entre eles no mercado que me deu a certeza de que precisava agir. Um instante de desprezo que ficou gravado em minha mente, e com isso, decidi que não podia me permitir ser cínico. Pedi a Eliot, meu fiel funcionário, que investigasse Blackwood. Não seria difícil encontrar podres no passado de um homem como ele.
Quando Eliot finalmente retornou, trouxe uma revelação que me deixou em estado de choque. Blackwood tinha algo mais enterrado em seu passado do que a devassidão. Ele havia tido um filho... com uma cortesã. Um filho que não sobreviveu. O tipo de escândalo que destruiria qualquer um na alta sociedade. E ele mantinha isso escondido, como uma ferida secreta, algo que tenta esquecer, mas que nunca o abandonará.
Sentei-me à beira da minha escrivaninha, meu olhar pousando no bilhete que havia mandado a ele mais cedo.
“Foi a última vez que tocou em minha noiva.”
Sorri, pensando em como Blackwood reagiria a isso. Ele é tolo se acha que pode me enfrentar. Eu sempre consigo o que quero. Sempre.
Enquanto me levantava, passando a mão pelo meu casaco, ouvi passos firmes no corredor. Antes que pudesse chamar, Eliot entrou, sua expressão preocupada. Algo estava errado.— Milorde — ele disse, com um leve tremor na voz, enquanto estendia um papel em minha direção. — Isto chegou há pouco.
Peguei o papel de sua mão, e enquanto o abria, percebi que o selo era de Blackwood. Ótimo.
Mas, conforme li as palavras rabiscadas, meu sorriso desapareceu. Ele ousava? Ele realmente ousava tentar me ameaçar?“Harrington, não toque em Catherine novamente. Ela não é sua. — H.”
A raiva começou a borbulhar dentro de mim. Como ele podia ser tão insolente? Blackwood havia passado dos limites. O que ele não sabia era que eu estava preparado para destruí-lo. Ele pensa que pode me desafiar e sair impune?
Eu me aproximei da lareira, observando as chamas dançarem. O calor irradiava, mas dentro de mim, tudo era gelo. As palavras no papel ainda ecoavam na minha mente, mas a decisão já estava tomada. Eu não permitiria que Catherine se envolvesse mais com ele. Ela seria minha.
— Eliot — chamei, com o olhar ainda fixo nas chamas. — Leve isso até o The Times. Quero que isso se espalhe antes que a semana termine. Quero que toda Londres saiba quem Henry Blackwood realmente é.
— Sim, milorde — ele respondeu, desaparecendo pela porta.
Sozinho no silêncio, caminhei de volta à escrivaninha e sentei-me. Blackwood não tinha ideia do que estava por vir. Ele pensava que podia brincar de sedução com minha noiva e sair impune? Tolo. Nenhum homem rouba de mim. Muito menos um canalha com um segredo tão sujo quanto o dele.
Eu sabia que Catherine estava apaixonada por ele, e isso me consumia por dentro. A maneira como ela o olhava, os sorrisos que trocavam, as palavras cheias de sarcasmo e provocações. Eu os observei de perto, sempre à espera do momento certo para agir. E agora, ela estava presa em uma ilusão. Uma ilusão que eu destruiria.
Catherine não sabia que Blackwood teve um filho. Não sabia da mulher que ele abandonou, uma pobre cortesã, desprezada e esquecida por ele, junto com a criança que morreu. Não, Catherine não sabia que o homem que ela pensava ser seu libertador era, na verdade, um destruidor de vidas.
E quando ela soubesse... Oh, como o amor dela por ele viraria cinzas. Ela me odiava agora, eu sabia disso. Mas, com o tempo, ela entenderia que fui eu quem a salvei. Blackwood não é digno dela, mas eu sou. E vou fazer com que ela veja isso, nem que precise quebrá-la no processo.
Peguei o cálice de vinho, agora quente ao toque, e bebi um gole longo. Henry Blackwood havia acabado. E Catherine... Bem, ela ainda não sabia, mas logo descobriria que seu destino estava selado. Ela me pertencia, e nenhum escândalo do passado a salvaria disso.
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O Libertino e a Dama Indomável
RomanceSinopse 🍂 Na Inglaterra de 1797, onde as convenções sociais determinam os destinos das mulheres, Catherine Pembroke, uma jovem inteligente e de espírito livre, se vê encurralada por sua família para um casamento indesejado com um homem muito mais v...