O bordel e a tempestade 🍂

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"Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos."
- William Shakespeare

"- William Shakespeare

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Henry Blackwood

A fumaça dos charutos pairava espessa sobre a sala, misturando-se ao perfume adocicado das moças que riam e cochichavam por todos os cantos. Eu me encontrava num canto escuro, meu copo de brandy na mão, observando o espetáculo que se desenrolava à minha frente. Era a mesma cena de sempre no Rose and Thorn, um dos poucos bordéis decentes de Londres que eu frequentava. As risadas estridentes, as promessas sussurradas, as negociações furtivas por trás de cortinas vermelhas. Um verdadeiro teatro da luxúria. E, por Deus, como eu amava.

Meio bêbado, meio entediado, deixava meus olhos passearem pelo salão enquanto jogava o líquido âmbar contra o cristal do copo. Já havia visto a maioria das moças por ali mais vezes do que conseguia contar; seu valor para mim estava mais na familiaridade que no mistério. Eu apreciava a constância de suas companhias, algo raro para alguém como eu. Conhecia cada canto do lugar como a palma da minha mão - os sofás de veludo desgastado, o som das moedas tilintando no balcão, o cheiro doce e um pouco enjoativo de lilases e tabaco. Cada detalhe fazia parte de um mundo onde eu me sentia em casa, longe das expectativas e responsabilidades que a sociedade esperava de um herdeiro como eu.

- Henry, você está se afundando de novo, não está? - Uma voz familiar e provocativa soou ao meu lado. Olhei para Sarah, uma das garotas que mais conhecia. Seus olhos eram como safiras afiadas, penetrando-me com um misto de diversão e julgamento.

- Afundando, minha querida? - sorri de volta, levando o copo aos lábios. - Eu diria que estou exatamente onde quero estar.

Ela riu, mas o som não era de alegria.

- Sempre se escondendo nas sombras e bebidas, Henry. Isso um dia vai te morder de volta.

Eu apenas ergui uma sobrancelha, mas antes que pudesse responder, um homem que nunca havia visto antes passou a mão pela cintura de Sarah, puxando-a para perto.

- Esta aqui é minha esta noite, Blackwood. Vai procurar outra.

- Então você deve ser novo por aqui, - respondi, um sorriso lento se formando. - Porque se fosse um homem de respeito, saberia que as damas aqui têm a liberdade de escolher com quem querem estar.

O rosto do homem se contorceu de raiva. Era maior que eu, mais robusto, com o cheiro de suor e vinho misturando-se à atmosfera opressiva.

- Está me chamando de desrespeitoso, canalha?

Eu ri, um riso curto, quase silencioso, que só fez atiçar sua fúria.

- Se a carapuça serve...- murmurei, mas ele já estava sobre mim antes que eu pudesse terminar a frase. O impacto foi forte o suficiente para me derrubar da cadeira, meu copo de brandy voando longe, estilhaçando-se no chão.

A briga que se seguiu foi rápida e caótica. Ele me acertou um soco no queixo que me fez ver estrelas, mas eu já estava acostumado a esse tipo de confronto. Segurei-o pelo colarinho e o empurrei contra a mesa, derrubando copos e pratos. Os gritos das garotas e dos outros homens ao redor cresceram, uma mistura de excitação e pânico, enquanto trocávamos golpes. Acertei alguns bons socos no estômago dele, mas ele tinha o peso a seu favor, e em minutos eu fui empurrado para fora da porta da frente, cambaleando pela rua enquanto os gritos e risadas ecoavam atrás de mim.

- Volte aqui se tiver coragem! - O homem gritou de dentro do bordel. Mas ele sabia tão bem quanto eu que era um convite vazio.

- E não volte até aprender a manter a boca fechada, Blackwood! - gritou o dono do Rose and Thorn, um homem corpulento e com uma barba grossa, que já havia me visto causar problemas mais vezes do que gostaria.

- Eu acho que preciso de uma casa nova, então, - murmurei para mim mesmo, levantando-me com dificuldade.

A chuva começou a cair enquanto eu sacudia o casaco, sentindo o gosto de sangue em minha boca e o gosto da humilhação ainda mais forte. Minhas costelas doíam e meu orgulho estava um tanto ferido, mas não era a primeira vez que eu era jogado na rua e, certamente, não seria a última.

Andei pela rua, o céu cinzento refletindo meu humor. Nunca fui um homem de arrependimentos, mas havia uma pontada incômoda naquela tarde que não conseguia ignorar. Os bordéis e bares de Londres eram meu refúgio, meu escape da monotonia de uma vida fácil demais para ser vivida com responsabilidade. Talvez Sarah estivesse certa: eu estava me afundando, mas, no fundo, o abismo sempre me pareceu mais interessante do que qualquer caminho pavimentado. Era uma queda livre que eu conhecia bem, mas o que fazer quando a única coisa que você deseja é a sensação do vento cortando o rosto, sem pensar na queda iminente?

As ruas de Londres, escuras e molhadas pela chuva, estavam desertas, exceto por alguns pobres coitados correndo para se abrigar. O som das gotas batendo contra o calçamento de pedra era quase hipnótico, um lembrete constante de que eu estava, de alguma forma, completamente só. Não que a solidão me incomodasse - eu sempre preferi minha própria companhia a enfrentar as expectativas de um mundo que jamais compreenderia minha natureza.

Foi quando ouvi passos apressados e vi uma figura se aproximando, correndo pela rua estreita. A jovem vinha em minha direção sem notar minha presença. Ela parecia desesperada, seu vestido grudado ao corpo pela chuva torrencial, e seus cabelos castanhos e ensopados moldavam-se ao rosto pálido. Antes que eu pudesse me afastar ou chamá-la, ela esbarrou em mim com força, o impacto me fazendo dar um passo para trás.

Ela arfou de surpresa, seus olhos se arregalando ao perceber em quem havia trombado.

- Você está tentando fugir de uma tempestade ou de algo mais perigoso? - perguntei, meu sorriso malicioso surgindo instantaneamente. Mas quando nossos olhos se encontraram, algo mudou. Havia um fogo intenso neles, um desafio silencioso que raramente se vê em jovens damas de boa família.

Ela me olhou fixamente por um instante, como se tentasse decidir se eu era uma ameaça ou apenas um obstáculo temporário

E foi ali, naquela rua enlameada e sob a tempestade, que meu destino cruzou com o de Catherine Pembroke pela primeira vez

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E foi ali, naquela rua enlameada e sob a tempestade, que meu destino cruzou com o de Catherine Pembroke pela primeira vez.

E foi ali, naquela rua enlameada e sob a tempestade, que meu destino cruzou com o de Catherine Pembroke pela primeira vez

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