"O mal da grandeza é quando ela separa a consciência do poder"
- William ShakespeareLorde George Harrington
Eu, Lorde Harrington, chanceler da Câmara dos Lordes, sabia que minha presença no evento político desta semana seria de suma importância.
Não apenas pelo papel que desempenhava no governo, mas pela oportunidade de exibir ao mundo minha noiva, a encantadora e jovem Catherine Pembroke. A notícia da minha participação certamente sairia no The Times, o mais prestigiado jornal de nossa nação, e eu não poderia deixar escapar a chance de mostrar a todos a escolha que fiz.
Ao refletir sobre o impacto que essa exibição pública teria, vesti meu melhor traje de seda negra, ajustando o lenço de pescoço cuidadosamente no espelho. Meu mordomo, atento a todos os detalhes, entregou-me a bengala com o cabo de prata. Eu queria parecer impecável. Catherine, uma jovem de beleza estonteante, seria um acréscimo ao meu prestígio. Estava decidido: ela deveria estar ao meu lado.
Parti em minha carruagem em direção à residência dos Pembroke. Ao chegar, fui recebido pela governanta que, embora educada, revelou um traço de desconforto ao me ver tão cedo. Contudo, não era ela que eu queria ver, mas sim minha noiva.
Enquanto aguardava na sala de estar, observei os detalhes do ambiente, notando como a decoração era um tanto simplória, refletindo o gosto antiquado da mãe de Catherine. Não demorou muito até que ela entrasse na sala, trajando um vestido de linho azul claro que realçava seus olhos e seus cabelos cor de caramelo.
- Harrington, eu espero que tenha tido uma manhã agradável, - ela disse, com um tom moderado, curvando-se levemente.
- Lady Catherine, - respondi, direto ao ponto. - Há um evento de grande relevância para o qual minha presença é imprescindível esta tarde, e desejo que me acompanhe. Será uma oportunidade inestimável para apresentá-la como minha futura esposa.
Vi a hesitação em seus olhos, mas continuei, sem perder a compostura.
- O The Times estará lá para cobrir o evento. A presença de minha noiva ao meu lado certamente será mencionada. Portanto, desejo que esteja pronta ao meio-dia. Enviarei minha carruagem para buscá-la.
Ela fez uma pausa, quase imperceptível, antes de responder.
- Será uma honra, milorde, - disse, com uma inclinação de cabeça. Seu tom era polido, porém distante.
Era claro que seu espírito indomável se mantinha intacto, mas, por ora, ela sabia que a resistência seria inútil.
- Espero que compreenda a importância desta aparição, Catherine, - continuei. - É fundamental que Londres veja você ao meu lado, como deve ser.
Ela assentiu mais uma vez, mas pude sentir sua falta de entusiasmo. Não me importava. O que importava era a imagem que projetaríamos juntos - o poder que uma união como a nossa traria.
Ao meio-dia, como planejado, a carruagem chegou à residência dos Pembroke. Catherine estava impecável, trajando um vestido de seda verde que abraçava suas formas de modo a ressaltar sua figura de maneira adequada. Um sorriso educado estava em seus lábios, embora eu soubesse que era apenas uma máscara social.
O evento estava em pleno andamento quando chegamos. Dignitários e políticos de toda a Inglaterra se reuniam, discutindo os rumos da nação. Catherine caminhava ao meu lado, mantendo o olhar fixo à frente, o que a fazia parecer ainda mais altiva.
Apresentei-a aos senhores de renome, destacando sua linhagem nobre e suas virtudes, enquanto eles a observavam com olhares curiosos. Alguns faziam perguntas triviais, outros lhe dirigiam elogios. Ela respondia a todos com a graciosidade esperada, mas sua expressão permanecia controlada, um leve sorriso plantado no rosto.
Ao final da tarde, a matéria já estava nas mãos dos repórteres do The Times. O jornal, conhecido por sua influência, não perderia a chance de destacar a aparição de um homem de minha estirpe com uma jovem tão promissora. O título do artigo seria algo como: Lorde Harrington Apresenta Sua Noiva ao Mundo: A Jovem Catherine Pembroke Acompanha o Chanceler em Evento Político.
Senti-me satisfeito. A sociedade saberia agora que Catherine Pembroke era minha, que nossa união estava próxima, e que, acima de tudo, ela era digna de minha posição. Ela sabia o seu lugar, mesmo que seu coração rebelde a levasse a questioná-lo.
No caminho de volta, observei-a. Seus olhos fitavam a paisagem através da janela da carruagem, um tanto distantes. O silêncio entre nós era pesado, mas eu sabia que, em breve, ela se adaptaria ao seu novo papel. As vontades de uma jovem mulher não se comparam às necessidades de um homem em minha posição.
- Você se saiu bem hoje, - declarei, quebrando o silêncio.
Ela voltou o olhar para mim, seu sorriso era tão enigmático quanto frustrante.
- Agradeço, milorde, - respondeu.
E com isso, a carruagem seguiu em frente, rumo à mansão Pembroke.
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O Libertino e a Dama Indomável
RomanceSinopse 🍂 Na Inglaterra de 1797, onde as convenções sociais determinam os destinos das mulheres, Catherine Pembroke, uma jovem inteligente e de espírito livre, se vê encurralada por sua família para um casamento indesejado com um homem muito mais v...