"Se amor é cego, nunca acerta o alvo"
- Romeu e JulietaCatherine Pembroke
Os salões abafados e os rostos falsamente sorridentes da minha casa estavam longe agora, substituídos pela vastidão de um campo escurecido pela chuva. Eu podia sentir o peso da água encharcando meu vestido, tornando cada passo mais difícil. Mas continuar correndo era a única opção. O vento chicoteava meu rosto, misturando minhas lágrimas com a chuva, enquanto meus pensamentos giravam em torno de um único fato: o casamento forçado. A ideia de ser entregue a um homem com o dobro da minha idade era insuportável.
Foi nesse estado de desespero que esbarrei em um obstáculo inesperado. Ou melhor, em alguém. A força do impacto me jogou para trás, quase me fazendo perder o equilíbrio. Uma mão firme agarrou meu braço, impedindo-me de cair, e eu olhei para cima, pronta para me desculpar ou, talvez, pedir socorro. Mas minhas palavras morreram na garganta ao encontrar olhos negros, cheios de uma curiosidade insolente. Ele estava tão ensopado quanto eu, mas seu sorriso era de alguém que estava se divertindo.
- Você está tentando fugir de uma tempestade ou de algo mais perigoso? - perguntou ele, a voz cheia de escárnio. O sotaque era refinado, mas o tom, decididamente desdenhoso.
- Fugindo de algo que o senhor provavelmente não entenderia - respondi, puxando meu braço de sua mão. Meu tom era frio, apesar do calor que subia para minhas bochechas. Não por vergonha, mas pela audácia de um completo estranho me dirigir a palavra dessa maneira.
O sorriso dele se ampliou, como se eu tivesse acabado de contar-lhe um segredo engraçado. Ele se afastou um pouco, analisando-me dos pés à cabeça, sem qualquer disfarce.
- Talvez eu entenda mais do que pensa, minha cara. Afinal, sou um mestre em fugir de problemas - disse ele, ajustando seu casaco molhado de uma forma casual que contrastava com a tempestade que caía ao nosso redor.
- Fugir, senhor? - perguntei, não resistindo à vontade de lhe dar uma resposta à altura. - Ou causar problemas? A julgar por sua aparência e modos, parece mais ser o segundo caso.
Ele riu de verdade, uma risada solta e surpreendentemente agradável, como se eu tivesse acabado de lhe contar a piada mais engenhosa do mundo. Ele fez uma reverência exagerada, molhando-se ainda mais no processo.
- Henry Blackwood, ao seu dispor, senhorita...?
- Catherine Pembroke. - Me apresentei com um aceno de cabeça. - E, ao contrário do senhor, não sou conhecida por fugir de problemas, mas por enfrentá-los.
- Catherine Pembroke, então. - Ele repetiu meu nome como se estivesse saboreando o som. - Uma dama que enfrenta problemas e não tem medo de falar o que pensa. Isso é raro, especialmente por aqui.
- E o que há de raro em não gostar de ser tratada como uma criança ou uma posse? - Retruquei. - Ou talvez seja raro apenas para os senhores que vivem uma vida de prazeres sem consequências.
Ele sorriu mais uma vez, mas havia um brilho diferente em seus olhos agora. Algo menos brincalhão, mais afiado.
- Talvez você tenha razão. - Ele admitiu, um pouco mais sério. - Mas garanto-lhe, minha vida não é sem consequências. Apenas aprendi a lidar com elas de uma forma... particular.
Olhei para ele, percebendo que havia mais nesse homem do que apenas um cretino libertino. O vento continuava a soprar, e eu podia sentir o frio até os ossos, mas, estranhamente, a presença dele parecia trazer um tipo diferente de calor. Algo perigoso, como ele mesmo havia dito.
- Então, senhor Blackwood, se é de sua natureza lidar com as consequências de uma forma particular, talvez devesse se afastar e me deixar em paz. - Eu disse, cruzando os braços e erguendo o queixo.
Ele inclinou a cabeça, um brilho malicioso em seus olhos.
- Talvez. Mas onde estaria a diversão nisso, senhorita Pembroke?
Eu soltei um suspiro frustrado, a chuva não dando trégua e o vento cortante fazendo com que meu corpo tremesse.
- Se não tem planos imediatos e se não deseja ficar ainda mais encharcado, posso sugerir que procuremos abrigo. - Ofereci, a voz um pouco mais suave, mas ainda carregada de um leve sarcasmo. - Não que eu espere que o senhor aceite uma proposta tão pragmática, mas, ao menos, não estarei lutando contra a tempestade sozinha.
Ele ergueu uma sobrancelha, e seu sorriso se tornou um pouco mais gentil, embora ainda mantivesse aquele toque de desprezo brincalhão.
- Muito bem, senhorita Pembroke. - Aceitou ele, estendendo a mão para mim. - Vamos procurar abrigo, então. Mas saiba que, se me surpreender com mais dessas observações, serei forçado a admirar sua habilidade em lidar com os problemas... e com os homens.
Eu sorri, sem poder evitar a leve sensação de alívio que a ideia de não estar sozinha trouxe. Juntos, começamos a caminhar pela tempestade, procurando um abrigo que nos oferecesse um pouco de refúgio e, quem sabe, um pouco de compreensão mútua.
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O Libertino e a Dama Indomável
RomanceSinopse 🍂 Na Inglaterra de 1797, onde as convenções sociais determinam os destinos das mulheres, Catherine Pembroke, uma jovem inteligente e de espírito livre, se vê encurralada por sua família para um casamento indesejado com um homem muito mais v...