Um pedido entre distâncias 🍂

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“Difícil não é pedir perdão, difícil é ser perdoado”
— William Shakespeare



Henry Blackwood

Acordei com um peso na cabeça que parecia querer partir meu crânio ao meio. A luz do dia invadia o quarto sem piedade, e meu corpo latejava de cansaço e torpor. Tentei me sentar, mas o mundo girou ao meu redor, e fui obrigado a deitar novamente, pressionando os olhos com as mãos na tentativa de afastar aquela dor lancinante.

O que, em nome de Deus, eu havia feito na noite anterior?

Lembranças nebulosas começaram a invadir minha mente, como sombras difusas espreitando pelos cantos. Eu estava em um bordel — claro, onde mais estaria? — cercado de risos vulgares e rostos desfocados. O cheiro de vinho barato e perfumes pesados ainda pairava em meu nariz, uma mistura tão familiar quanto repulsiva. Mas havia algo mais, algo que não se encaixa.

E então a visão me atingiu como um soco: Catherine. Eu a vi, não, eu a senti, seus olhos furando através da bruma da embriaguez que me dominava. A expressão dela… aquele olhar de incredulidade, de desapontamento. O que diabos ela fazia ali? E por que eu estava tão bêbado? Minhas lembranças eram confusas, como se alguém tivesse jogado tinta sobre uma pintura que eu tentava desesperadamente decifrar.

Lorde Harrington estava ao lado dela. O miserável sempre parecia estar um passo à frente, como se o próprio diabo o guiasse. Lembrava-me de seu rosto satisfeito, como um gato que acabara de devorar o canário. Ele parecia se deleitar com a visão da minha desgraça, apreciando cada segundo da expressão de Catherine enquanto ela me observava no meio da devassidão, perdido na bebida e na companhia degradante.

Se ao menos eu pudesse me lembrar das palavras. Talvez houvesse apenas um ruído dissonante de risadas e murmúrios, e o brilho desesperado nos olhos de Catherine, como se ela quisesse me entender, me decifrar, mas ao mesmo tempo, quisesse fugir dali o mais rápido possível. O que Lady Pembroke pensaria de mim? Oh, eu sabia bem demais o que ela pensaria: que eu não passava de um libertino decadente, entregue aos próprios vícios, sem redenção ou propósito. E talvez, por uma vez, ela estivesse certa.

Eu deveria ter ido atrás dela, deveria ter lhe explicado que aquela cena — por mais horrível que parecesse — não era o que ela pensava. Mas como? Eu estava tão bêbado que mal conseguia me manter em pé. Uma onda de náusea se formava em meu estômago, mas não sei se era o álcool ou a vergonha que agora me consumia.

A culpa começou a se arrastar por minhas veias como um veneno amargo. Eu, Henry Blackwood, que sempre fizera um jogo de todas as minhas conquistas, me vi acorrentado por algo que jamais imaginei: o remorso. O rosto de Catherine não saía de minha mente, seus olhos cravados em mim, repletos de uma dor que eu não estava preparado para enfrentar. Que tolo fui, em pensar que poderia me aproximar dela sem carregar as consequências dos meus atos.

O Libertino e a Dama Indomável Onde histórias criam vida. Descubra agora