"O amor é muito jovem para saber o que é consciência"
- William Shakespeare
Catherine Pembroke
O silêncio da madrugada envolvia o quarto como um manto espesso e reconfortante, mas algo estava fora do lugar. Acordei com a sensação de que o ambiente ao meu redor não era o familiar conforto de meus aposentos. A tapeçaria no teto era estranha, os móveis possuíam um ar masculino, e o perfume que impregnava o ar era forte e amadeirado. Pisquei algumas vezes, e então a memória da noite anterior me atingiu como um relâmpago. Eu havia me entregado a Henry Blackwood.
Ele estava ao meu lado, sua respiração profunda e tranquila, alheio ao turbilhão de emoções que pulsavam em meu peito. Meu corpo estava dolorido de uma forma que jamais imaginei, mas não era uma dor desagradável. Pelo contrário, havia uma felicidade latente, estranha e, no entanto, envolvente. Um sorriso discreto curvou meus lábios enquanto o observava dormindo, seu rosto em paz, como se o peso do mundo não fosse capaz de alcançá-lo naquele momento.
Eu deveria me levantar, sair dali sem ser vista, mas ao tentar mover-me, um gemido escapou dos meus lábios. Meu corpo, ainda frágil dos acontecimentos da noite, protestava. Foi o suficiente para que Henry despertasse. Seus olhos se abriram lentamente, um sorriso suave aparecendo enquanto ele se virava para mim.
— Catherine — ele murmurou, com a voz rouca de sono. — O que pensa que está fazendo?
Tentei me recompor, sentindo o calor subir pelo meu rosto.
— Preciso ir. Não posso permanecer aqui...
Antes que eu pudesse completar a frase, ele se moveu, apoiando-se sobre um braço enquanto me observava com uma expressão afetuosa, mas determinada.
— Não se esforce — ele disse, com a voz baixa e suave, mas cheia de autoridade. — Venha, deixe-me cuidar de você.
Antes que eu pudesse protestar, ele me envolveu em seus braços fortes, me levantando com uma facilidade que me surpreendeu. O calor de seu corpo ao redor do meu me trouxe uma sensação de segurança inesperada, e por um momento, deixei-me ser carregada como se nada mais importasse.
— Henry, eu posso... — tentei murmurar enquanto ele me levava para outra parte do quarto, onde uma grande banheira nos esperava, cheia de água morna.
— Pode, claro — ele respondeu com um sorriso, sem me deixar terminar. — Mas não vai.
Gentilmente, ele me colocou na beira da banheira e, com uma paciência surpreendente, começou a me ajudar a despir-me. Cada movimento era feito com cuidado, como se ele estivesse lidando com algo precioso, o que apenas aumentava a estranha sensação de felicidade que se espalhava por mim. Eu sabia que isso era errado, que jamais deveria ter me permitido cair em seus braços da forma que caí, mas naquele momento, nada mais parecia importar.
Henry cuidou de mim como se fosse a coisa mais natural do mundo. Ele me ajudou no banho, suas mãos eram cuidadosas, e seus olhos, apesar da intensidade habitual, estavam cheios de uma ternura inesperada.
— Você não deveria se preocupar tanto — murmurei, tentando esconder o quanto estava sendo afetada por sua gentileza.
— Claro que deveria — ele respondeu com um pequeno sorriso. — E você deveria me deixar cuidar de você mais vezes.
Após o banho, ele me entregou uma de suas camisas, o tecido macio e levemente perfumado pelo aroma que era unicamente dele. Mesmo eu protestando, dizendo que não precisava, ele insistiu que eu comesse algo leve antes de ir embora.
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O Libertino e a Dama Indomável
RomanceSinopse 🍂 Na Inglaterra de 1797, onde as convenções sociais determinam os destinos das mulheres, Catherine Pembroke, uma jovem inteligente e de espírito livre, se vê encurralada por sua família para um casamento indesejado com um homem muito mais v...