Alternativas

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Tadeu olhava para o chão; não sabia se teria coragem de dizer qualquer coisa que não fosse a verdade se olhasse para os pais. Galvino, sentado no sofá na sala em que o filho aprendia magia, olhava para ele com voracidade. Queria respostas, e respostas boas, ou prometia não responder por seus atos. Eva, encostada à parede à frente de um minério de luz, tinha expectativas silenciosas sobre o filho --- coisas que ele não ousava adivinhar, mas achava que se resumiam a obedecer ao imperativo moral que era a noção de não se pôr em perigo. Não havia fogo na lareira, e o silêncio fazia a respiração de Tadeu ser ainda mais pronunciada.

--- N-nós... Beijamos uma vez. --- Anabel queria um namoro, pensava ele; se pudesse encontrar um caminho do meio... --- E-ela não p-parecia ser ruim, o-ou ambiciosa, eu...

--- Você tem que deixar isso de lado, Tadeu. --- Respondeu Galvino como se tivesse a resposta pronta independente do que o filho dissesse. --- Ela agora já está, infelizmente, morta. É assim que deve considerá-la de agora em diante.

--- M-mas eu tenho que... Tenho que falar sobre ela, porque não é justo ela pagar pelo que não fez!

--- Como você sabe que ela não fez, Tadeu? De onde vem essa certeza estúpida? Por que ela resiste à invasão?

--- Porque ela não quer ser forçada a dizer o que não quer! --- Disse Tadeu, sentindo que aquilo deveria ser óbvio até mesmo para o pai.

--- E quem a forçaria a dizer o quê, Tadeu?

--- V-você mesmo disse que qualquer denúncia é o bastante.

--- Tadeu...--- Advertiu Galvino, cobrindo a testa com a mão.

--- Não é isso que é magia? Controle? E-e se alguém não gostasse dela e quisesse atingi-la?

--- Como o Alex, Tadeu?

Tadeu abriu a boca, olhando para o pai pela primeira vez naquela sala. Puxou ar, concatenando ideias.

--- E-eu conheci ela na mesma noite que ele tentou me atacar, e... Foi ela quem me defendeu!

Galvino riu pelas narinas, balançando a cabeça.

--- Não há mais razão para você se envolver nisso, filho. --- Disse Eva, saindo das sombras. --- Você não tem que se desgastar desse jeito, mas entendo que quer defendê-la. O problema é que... Nervoso como você está... Só vai causar mais problemas para ela e também para si mesmo.

Tadeu e Galvino torceram o rosto, sem ter certeza do destino daquela conversa.

--- Você fica aqui. --- Concluiu ela. --- Eu vou à polícia depor a favor dela. Dizer o que você acabou de me dizer.

--- Mãe...

--- Está decidido, Tadeu. --- Concluiu ela, encaminhando-se para sair da porta.

Tadeu deu uma última olhada em Neborum, procurando alguma pista para fazê-lo entender o que era aquilo.

Estaria o pai controlando ela? Estaria ela controlando o pai?

***

De malas minimalistas feitas, Gustavo observava com os braços cruzados Jorge encaixotar as últimas roupas do armário.

--- Ela está presa, mas ainda tentam descobrir quem ensinou magia preculga para ela. --- Disse o pai. --- Se é alguém daqui.

"Tenho que tirar Anabel daqui", pensava Gustavo. "Tenho que pensar em algo."

"E rápido."

--- A situação com Amanda foi resolvida?

Gustavo fez que sim com a cabeça.

A Guerra da UniãoOnde histórias criam vida. Descubra agora