A Batalha de Enr-u-jir

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O guerreiro encostou a tocha acesa à corda, relutante. A chama consumiu rápido o fio, acendendo a fogueira ao chegar no topo da magra torre improvisada.

Olhou para trás, e pelo fino visor do elmo pôde ver, algum tempo depois, a segunda torre ser acesa. O alerta seguiria sua rota do posto de observação na jir mais distante, o seu, até o centro de Enr-u-jir, e uma charrete viria buscar mais informações para organizar as defesas. Quando ela chegasse, o mensageiro teria que escolher bem as palavras para descrever o que os pesadelos mais criativos teriam medo de sugerir: aproximava-se, quase camuflado nas rotas tortas da floresta, o borrão azul e metálico de guerreiros de Inasi-u-een.

***

Mesmo se as tropas de Inasi-u-een não tivessem avançado rápido pelas jirs do Oeste, fazendo pouco dos poucos deixados para tentar atrasá-los, a cidade estaria quieta. Havia algo na falta absoluta de civis naquelas noites de guerra que todo soldado apreciava, fossem eles de Imiorina, de Rirn-u-jir ou os que sempre viveram ali; o espaço que respiravam à noite, iluminado pela abundância de minérios ao invés de pelo sol, era o mesmo da manhã --- e ao mesmo tempo, não era.

Naquela noite os cidadãos, já acostumados com a noção de que o fogo nas torres mais altas em qualquer direção indicava inimigos, dormiam com medo ou fingiam que dormiam, impedidos de fazê-lo pelo receio de não conseguirem fugir se algo desse errado.

O general das forças da cidade aproximava-se de uma pequena praça no cruzamento entre quatro largas ruas. Nela não havia árvores; só bancos e grama. Do lado oeste, ocupando tudo até confundir horizonte e cabeças, os largos guerreiros de Inasi-u-een. Vestiam armaduras que, refletindo as cores dos minérios pendurados ao longo da via, quase não deixavam ver o tecido azul que vazava por um ou outro espaço entre as placas de aço.

Do lado leste, os defensores de Enr-u-jir compactavam-se de forma parecida na parte de trás da formação. Os melhores e mais bem protegidos soldados, com armaduras mais comparáveis e espadas mais invejáveis, ocupavam os flancos do início da rua, ao lado de um grupo constantemente vigiado de yutsis de guerra. No fim da formação, bem visível para os inimigos, uma catapulta bem centralizada.

Mairaden caminhou até a praça no cruzamento. Tirou a mão direita da alabarda por um momento para levantar a viseira do elmo; olhou para baixo para fitar o general da cidade, cujo elmo aberto tornava seu rosto redondo, bem como seus protuberantes dentes da frente, visível por completo.

--- Nós falamos em nome do Conselho dos Magos. Temos nesta cidade mais que quatro vezes o número de soldados, e ordens para utilizá-los. Temos yutsis, temos arqueiros, temos artilharia pesada. Coisas que vocês não têm. Se resolverem lutar, é possível que estejam mortos antes que possam fazer um acordo e se tornarem prisioneiros. Por isso... --- Fez uma pausa; apesar de confiante, falava como se não dormisse há dias. --- Peço que se rendam imediatamente, entregando as armas e as armaduras, e colaborando com qualquer informação pertinente.

Mairaden observou os yutsis a meia avenida de distância.

--- Voltarei para minha tropa... --- Começou ele, absorto. --- E assim que chegar começaremos a fazer o que viemos fazer aqui. Vocês tentarão nos impedir.

Com um movimento ligeiro da cabeça o visor encaixou-se de volta, fazendo do aço exclamado a última palavra do general.

O comandante da cidade franziu o cenho, retornando para perto da própria tropa o mais rápido que conseguia sem parecer estar correndo.

--- Metade pelo sul. --- Disse ele ao mensageiro desarmado, que correria para dar o recado a outros grupos de soldados. --- O resto pode esperar na retaguarda. --- Assim que o mensageiro começou a correr, voltou-se para os soldados à frente. --- Podem soltar.

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