Encontros

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Aquilo se parecia menos com um beijo e mais com algo que alguém completamente desprovido de contexto poderia descrever como uma colisão de lábios, seguida de um abraço forte demais. O verdadeiro beijo parecia aquele que a bochecha de um dava no ombro e no pescoço do outro.

Amanda saiu do abraço e pousou os polegares sobre o rosto de Tadeu.

--- Você está bem?

--- Não...

Tadeu disse que estava cansado e quis sentar-se. Puseram-se um de frente um para o outro, as saudades que os atormentavam dando lugar a uma impensada agonia.

Havia muito em jogo naquela conversa, mas aquele era um jogo que só se deixava descobrir ali, naquele momento que deveria envolver seus corpos muito mais que seus medos.

--- O que foi, Tadeu?

--- A Anabel. --- Amanda olhou para o lado num instante, vendo se conseguia lembrar de quem ele estava falando. --- Ela foi presa.

--- Presa? Por quê?

Amanda não tinha muita noção de como as prisões funcionavam em Al-u-ber, mas não imaginava que um mago pudesse ir parar numa delas muito facilmente.

--- Acusaram ela de usar magia preculga.

Tadeu desviou o olhar enquanto a companheira abria a boca, estupefata.

--- M-mas como, ela...

--- Não sei. --- Cortou ele.

--- Você falou com ela?

--- Minha mãe prometeu que vai tentar tirar ela de lá, mas... E-eu não sei se ela vai conseguir.

--- Sua mãe?

Tadeu acenou enquanto ponderava se era válido chamar aquilo de "promessa". Ele sequer quis saber o resultado da conversa dela com o delegado. Não sabia o que ela tinha ou não conseguido.

--- Eu não quero... Esquece isso... Aconteceu alguma coisa com você?

Amanda suspirou.

--- Hm... Foi o Gustavo também... --- Tadeu voltou-se alarmado para ela, assumindo que ela sabia de alguma coisa. Aparentemente foi só uma palavra em falso. --- Ele veio... Até minha casa, e... Me atacou.

Tadeu piscou.

--- Atacou como?

--- Em Neborum... Mas ele também... P-pegou meu cabelo depois que eu empurrei ele... O corpo dele, não o iaumo.

Tadeu respirou com a boca, perguntando-se como pôde tentar fazer com que ela se apaixonasse por aquele rapaz.

--- M-mas ele... Por que ele fez isso?

--- Ele... Achou que... --- Tadeu não gostava nada do jeito como ela media as palavras. --- Que eu tinha invadido ele. Algo assim.

--- Por quê?

--- Não sei, talvez alguém tenha invadido ele e ele pôs a culpa em mim. O que eu sei é que eu não fiz nada disso.

"Claro, ele te atacou justamente porque eu tentei fazer um se apaixonar pelo outro", lembrou Tadeu.

--- E-e o que você fez?

--- Meu pai chegou e me salvou...

Tadeu conhecia ela bem o bastante para saber que ela não estava nada bem com aquilo. Talvez em pouco tempo, logo depois daquela entortada de boca, ela explodisse em pranto.

Mas não; seus olhos ainda estavam avermelhados, e num primeiro momento desviou-os para baixo como se suas mãos fossem muito interessantes, só não o bastante para fazê-la sorrir. Amanda não tinha coragem de admitir o quanto se percebia como uma péssima maga --- por que conversaria com Tadeu sobre isso, de qualquer forma? Para que ele pudesse sugerir que desistissem daquilo tudo de uma vez?

A Guerra da UniãoOnde histórias criam vida. Descubra agora