Mairaden trouxe um copo d'água para Narion. Não vestia a armadura, que fora guardada numa enorme mala junto com a alabarda. Mesmo assim sentia calor, já que o sol batia na varanda do segundo andar da casa em que estavam, e ambos vestiam grossas roupas de cores fracas --- segundo a razão de que qualquer proteção era melhor que nenhuma.
--- Obrigado. --- Disse Narion, quanto à água.
Na noite da Batalha de Enr-u-jir o general de Inasi-u-een voltou, junto aos companheiros, para um local secreto na floresta por onde chegaram ainda enquanto batalhão. Ali haviam deixado provisões, instrumentos, armas e malas. Trouxeram Narion, que concordara em ajudá-los e em ser ajudado. Dele aproveitaram o dinheiro acumulado --- que ele usaria para o mesmo objetivo de qualquer forma --- e uma charrete. Mairaden pensava que as duas coisas eram provavelmente frutos de roubos mas, com a pilhagem que haviam feito em Rirn-u-jir dias antes, não faria a menor cerimônia. Acharia difícil encontrar entre os ricos alguém disposto a ajudá-lo.
Sob disfarce e com sorte, chegaram à Cidade Arcaica. Arranjaram-se de início nas jirs mais afastadas, que nem por isso deixavam de ser alvo de vigilância por parte do exército, e começaram os arranjos para a investigação. Não eram bem vindos, então em tudo que faziam punham sigilo e segredo; Nariomono ia mais à cidade e os guerreiros do Norte tentavam parecer menores aos olhos dos locais desconfiados.
--- É a primeira vez que dirige uma palavra para mim que não seja sobre estratégia desde que nossos caminhos se cruzaram.
Mairaden sentou-se em outro banco de madeira na varanda reta e campestre, comprimindo o olhar sob a luz forte da manhã. Nuvens escuras se aproximavam pelo leste, mas não deveria chover até que conseguissem pelo menos seguir a primeira parte do plano.
Narion parou de beber, olhando para o general enquanto os lábios secavam a umidade que ficou para trás.
--- Desculpe.
--- Não é preciso. Mas sinto que podemos nos entender melhor se soubermos exatamente o que queremos.
Narion olhou para Mairaden como se ele já soubesse a resposta para aquilo.
--- Meu objetivo não é matar Desmodes. --- Mairaden balançou a cabeça ao voltar-se para os pedaços de horizonte que as casas do outro lado da rua não obstruíam. --- Pode envolver matá-lo, mas é maior que isso.
--- Maior como?
--- Minha família é treinada há gerações para o surgimento de um novo governor. O objetivo é evitar que Heelum sofra novamente nas mãos de um.
--- Um governor é um mago muito forte, não é?
--- Sim. E sempre, com um deles, veio uma guerra. Dessa vez não pode ser diferente.
--- E como saber se Desmodes é um governor ou não?
Mairaden levantou as sobrancelhas.
--- Há histórias... De que Roun não nasce por um dia quando o governor atinge o ápice de seu poder... Que isso seria o sinal de que um governor existe.
--- Mas isso não aconteceu ainda.
Mairaden confirmou.
--- Dentre duas possibilidades, aquela em que eu acredito é a de que Desmodes ainda não chegou em seu melhor. Não conquistou o que precisa conquistar para chegar ao máximo.
--- E a outra possibilidade?
--- ... É a de que não há governor. E nesse caso esta é uma guerra inventada por todos os magos, coletivamente.
Nariomono olhou para o copo quase vazio.
--- Desmodes é muito poderoso.
--- Quão poderoso? --- Indagou Mairaden.
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A Guerra da União
FantasyNa série Controlados, a magia está em todo lugar. Os magos podem alterar os seus sentimentos, os seus pensamentos ou as suas atitudes. Não se pode confiar em ninguém. No segundo volume da série, A Guerra da União, Desmodes é o novo mago-rei e seu ob...