Chegada

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Diferente do Parlamento de Al-u-een, um marco no mapa da cidade, o Parlamento de Al-u-ber era bem escondido. Como a jir central da cidade era como um grande organismo, era preciso entrar em um castelo que concentrava várias passarelas para construções vizinhas e então, através de uma passagem em geral bem guardada, entrar já pelo terceiro andar num prédio com jardins ocultos por detrás de muros sem portões.

Embora ali estivessem as salas dos parlamentares, entre outras salas úteis para o funcionamento da cidade, a verdadeira sala de reuniões ficava ainda em outro castelo, mais adiante, ao qual se chegava por uma passagem subterrânea através da sala de mapas --- lugar que já podia suscitar suspeitas de que era mais importante do que aparentava pelo tamanho desproporcional ao seu uso, o que não era problema: a sala de reuniões era pouco acessível, mas não precisava ser secreta.

Os filinorfos tinham hora marcada com o Parlamento, e embora tivessem usado seus próprios nomes, criaram títulos e histórias de vida que tinham muito menos chance de causar prisão ou morte imediatas.

Representavam --- ou melhor, como queriam ser aos olhos dos interlocutores, eram --- uma comitiva de magos tradicionais de Roun-u-joss.

Todos usavam grossas capas por cima de vestes leves, prezando pelo simplismo da uniformidade. Joana vestia laranja, na ponta frontal da formação em losango, com seu usual cabelo loiro cortado de um lado e jogado para o outro. André, negro alto de rápidos olhos escuros, vestia o mesmo azul escuro que Luana ao seu lado, que tinha uma pele um pouco mais clara e ossos bem mais expostos. Atrás dos três, na outra ponta, Gabriel vestia um verde que combinava com seu rosto imperial. Como se recusou a se separar da espada, dois policiais acompanharam o grupo desde a sala dos mapas.

A mestra lançou um olhar verificador para os outros parlamentares. Vestia uma longa e escura capa azul de gola vertical alta, que na dobra redonda encostava no pescoço. Emoldurava com pompa seu rosto caramelo, suas rugas símias e seu cabelo dourado levantado num coque.

--- Vamos começar a reunião de hoje. --- Disse ela. --- Esta é a primeira sessão ordinária do dia 52 de inasi-u-sana, e aqui está uma comitiva de magos de Roun-u-joss que requisitou uma conversa conosco. --- Voltou-se para eles. --- Digam o que querem.

Joana deu um passo, com as mãos juntas à frente do corpo.

--- Bom dia a todos.

Passou a olhar para as fileiras retas de magos, pouco mais que quatro dúzias espalhadas pelos lados da sala que, embora não fosse exatamente grande, era alta. Suas janelas, limpíssimas e bem emolduradas em ouro, deixavam-se atravessar por raios de sol a partir de um recuo no solo. Não havia bancadas, apenas amplas cadeiras acolchoadas no limite de cada patamar, com pequenas mesas quadradas à direita de cada uma.

Voltou seu olhar à mestra.

--- Viemos aqui como representantes dos magos de Roun-u-joss. Viemos porque precisamos da ajuda de vocês.

Se a visão periférica já não indicasse o desconforto que atingiu os parlamentares, o burburinho o teria feito.

--- Vocês, magos de Al-u-ber, têm sorte. Não são caçados ou perseguidos. A polícia e o exército não estão contra vocês, estão debaixo das botas de vocês. Vocês fizeram com essa cidade o que nós nunca conseguimos fazer lá.

Joana girou brevemente nos calcanhares e foi para a esquerda, passando a olhar para os rostos sérios nas cadeiras.

--- Queremos nos fortalecer. Queremos formalizar uma frente de apoio e planejamento para melhor integrar os magos das duas cidades.

Os ouvintes começavam a falar entre si. Joana os deixou digerir o começo enquanto caminhava para o outro lado por detrás dos companheiros, que continuavam olhando para a maga no topo à frente deles.

A Guerra da UniãoOnde histórias criam vida. Descubra agora