Boas ideias

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O calombo na cabeça de Caterina sentiu um pico diferente da parede salpicada quando ela a torceu, de leve, ao menor sinal de som. Sentada no chão, olhou para onde, conforme o que já tateara, achava que era a porta. Quando o silêncio era assim intenso e duradouro ela dormia tanto que, de muito sonhar que todo tipo de escuridão acabava --- a do mundo e a daquela sala --- não conseguia mais dizer se imaginara ou se ouvira mesmo o barulho; se alguém, para além do carcereiro que fazia a gentileza de alimentar com alguma coisa mole e sem muito gosto quem até merecia, e parecia condenada a, morrer, vinha enfim visitá-la.

A tranca cedeu, a porta se abriu, e o vento verde, não menos podre que o que já circulava por ali mas pelo menos mais novo, invadiu a cela. Uma silhueta de cabelos definitivamente não curtos entrou na sala.

Desde o dia em que fora presa não entrava em Neborum. Desde antes disso já não tinha mais vontade.

--- Está acordada? --- Disse ela, sem saber como encontraria a prisioneira.

Caterina riu pela boca, tossindo logo em seguida.

--- Você...?

Alice chegou mais perto, e Caterina achou bom pela primeira vez estar mergulhada em ausência de luz.

--- Não esperava por mim?

--- Você é... Asquerosa. E desprezível. --- Seus ombros tremiam e os olhos piscavam, frenéticos, mas continuou falando mesmo quando Alice ordenou que ficasse quieta. --- E você veio... Veio me dizer aquela vez que nós dizemos que vocês são maus, mas --- Riu um riso cansado. --- olhe esse lugar... Vocês reabriram a cadeia de Mosves... Como se fosse um prédio qualquer, vocês... Vocês riem da história de Prima-u-jir e dos monstros que se... Os monstros que as pessoas se tornaram por causa dele...

--- Terminou? --- Disse Alice. --- Você libertou cinco yutsis de guerra no centro de Prima-u-jir. Eu diria que, sozinha, você fez um estrago considerável. Não consegui contar quantas pessoas, incluindo crianças, que os yutsis pisotearam e atiraram para longe... Mas foram muitos, Caterina. E se você acha que eles só mataram os magos ou os ricos do centro, HA! --- Riu-se Alice, saindo da frente da porta aberta e vagando pela escuridão da sala. --- fique sabendo que eles se cansaram rápido dali e foram para outras jirs... E aí você pode imaginar o que aconteceu. Só encontraram o último hoje de manhã.

--- O que você quer, Alice? --- Chiou Caterina, subitamente tonta.

--- Sua colega teve mais coragem que você. Ela pediu para morrer.

--- MENTIROSA! --- Berrou Caterina, arrastando-se na direção da preculga. --- É MENTIRA!

--- Não é. --- Respondia ela, fazendo tremer o sorriso no canto sem sombra da boca.

--- Ela não queria MORRER, sua MALDITA! --- Caterina batia com os punhos no chão, descobrindo-se fraca demais para se levantar. --- Você veio me matar, então?

--- Não...

--- ... Me levar para a forca?

Alice meneou a cabeça até dizer que não de novo.

--- ... Então o quê?

--- Vim libertar você... Em troca de algumas coisas.

--- Mas... Por que você faz isso?

--- ... Faz o quê? --- Perguntou Alice, séria.

--- Você não... Você já fez isso uma vez. Por que você fica me salvando?

A Guerra da UniãoOnde histórias criam vida. Descubra agora