O medo revela

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Byron jogou os olhos para cima sem mexer o pescoço para olhar a entrada mansa, de braços cruzados, de Tornero na sala.

--- Como está ele? --- Perguntou Tornero.

--- Preso. --- Respondeu Byron, sentado à escrivaninha, terminando de assinar os papeis que levara longo tempo para ler.

--- Por que não o mata logo?

O mestre bomin tirou os óculos com a mão direita, substituindo o rosto de Tornero por um borrão. Segurou as hastes finas entre os dedos, analisando resignado o quanto sentia falta de andar livremente em Neborum, onde não precisava usá-los.

--- Ainda tenho informações a serem obtidas.

--- E por que ainda não obteve?

--- Está me interrogando, Tornero?

--- A presença dele é um incômodo completamente dispensável, mestre, se o senhor...

--- Eu decido o que é dispensável dentro dessa casa, Tornero. --- Interrompeu Byron, colocando os óculos de volta. --- Ele ainda não acha que tem algo a perder, então resiste. É só uma questão de tempo.

Tornero concordou com a cabeça.

--- Eu achei os parlamentares fugidos.

--- Onde?

--- Em uma jir do Sul.

--- Muito bem. Encarregue-se disso.

Levantou-se e começou a pôr o casaco laranja, enganchado na parede à direita, sem ver que Tornero franzia a testa. Apostava num sorriso. Até cogitou adicionar à ordem um "eu sei que você vai gostar disso".

--- Esse é o seu cargo, mestre, não o meu.

Byron respirou fundo enquanto terminava de alinhar bem o casaco ao corpo; reprimiu o espasmo na espinha e deu três passos até chegar perto de Tornero o suficiente para forçá-lo, em tese, a dar um passo para trás.

Em tese, já que o passo não foi dado.

--- Você vai fazer o que eu mandar, Tornero.

--- O cargo é o de parlamentar, mestre. --- Respondeu Tornero entre os dentes. --- Já avisei o Parlamento e eles estão esperando o senhor para fazer planos.

Byron recuou, desviando do aprendiz rumo à porta.

***

--- A mensagem era de Kor-u-een. --- Explicou Frederico, depois de ler a primeira das cartas que o funcionário trouxe para a sala de reuniões. --- Pedia ajuda contra o Conselho.

Sem sentir que era necessário responder àquilo perante os outros, o mestre tirou de dentro de um envelope amarelo comum a segunda carta do dia. Estavam todos presentes, de Byron a Marco, passando pelo silêncio calculado de Alice, a impaciência petulante de Luca e a alegria exuberante de Ângela.

Mestre Frederico de Prima-u-jir,

Esta carta deve ser lida em silêncio por você apenas, no exercício de sua função, e imediatamente queimada após a leitura. Mensageiros, bem como demais parlamentares, funcionários, oficiais do exército ou policiais, assim como qualquer outra pessoa, não devem ter acesso direto ao conteúdo desta carta a partir deste parágrafo.

Suas ordens quanto à ação militar da cidade são resistir a quaisquer tentativas de invasão, além de passagem belicosa rumo à Cidade Arcaica através de seu território.

A cidade deve esperar por novas ordens e comunicar à Cidade Arcaica qualquer novo desenvolvimento quanto aos amigos e inimigos do Conselho dos Magos.

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