Recomeços

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Leo e Fjor já estavam prontos quando as portas do galpão se abriram. Duas mulheres entraram, altas e de pele ainda mais escura que a deles. Pareciam-se pelos rostos, por um certo jeito de andar, certo jeito de chegar pedindo licença, aconchegando o ar em volta.

--- Oi. --- Disse uma delas, que vestia uma longa capa preta e prendia o cabelo num rabo de cavalo apertado. --- Meu nome é Jura, e essa é a Pâmela... M-mas todo mundo chama a gente de Ju e Lala.

--- Ju e Lala. --- Repetiu Fjor, concordando lentamente. Trocou olhares com o irmão antes de, sem jeito, dar o primeiro passo para uma série de apertos de mão entre os quatro.

--- Então os seus... Antigos membros... Fugiram? --- Perguntou Pâmela, cujos cabelos encaracolados soltos arrastavam-se pelos ombros cobertos com uma larga blusa marrom.

--- Sim. --- Respondeu Leo. --- Esses são... Eram... Os instrumentos deles.

Perderam-se por um tempo olhando a guitarra vermelha e o conjunto de bateria.

--- Espero que não seja... Estranho, se... A gente usar eles. Foi o que disseram para a gente fazer. Desculpa.

Leo engoliu em seco. Sabia qual resposta era obrigado a dar.

--- Não. --- Adiantou-se Fjor. --- Sem problema.

***

A rotina deles era um ciclo diário de coleção de comida, preparação de comida e festas noturnas que iam até horas altas da madrugada envolvendo música e comida.

Aquele era o terceiro dia que passavam com eles. Assistiam, escorados numa árvore, um grupo sair em direção a Dun-u-dengo: aparentemente muitas pessoas gostavam de rock modenal --- e pagavam pelas apresentações musicais que garantiriam dinheiro o bastante para abastecê-los com algumas coisas que não conseguiriam facilmente, de carnes e utensílios a minérios de cura e roupas.

--- O que você quer fazer, Beni?

Olhou para ela em resposta.

--- Eu queria voltar para Novo-u-joss e começar tudo de novo.

--- Não dá... --- Reagiu Leila, balançando a cabeça. --- Essa é a nossa escolha mais óbvia... Eles vão procurar pela gente lá.

--- Será?

--- Eu não quero apostar que não...

--- Então... De que outra cidade você gosta?

Leila, que tinha passado a olhar para o espaço entre os próprios pés, voltou-se para a frente. Brincava com as unhas das mãos, com os dedos; chegou a espremer os olhos para visualizar todas as possibilidades.

--- Eu não sei... Eu não conheço quase nada do mundo.

Beni limitou-se a concordar.

Anraig, o homem que os apresentou ao grupo, aproximava-se deles com um andar manco e um sorriso no rosto. Carregava no corpo uma manta escura que combinava pouquíssimo com a temperatura nada baixa daquele dia em particular.

--- Olá, Leila. Olá, Beneditt.

--- Oi. --- Responderam eles, não mais tão sem jeito ao sorrirem de volta.

--- Sei que há uns dias viemos ajudando vocês. --- Disse ele, fazendo uma pausa para, com dificuldade, se agachar em frente aos dois. --- E nós nos sentimos muito felizes com isso, de verdade, e não queremos forçá-los a nada que vocês não queiram... Mas... Se vocês quiserem se juntar a nós na roda de hoje... Seria um prazer para todos.

Beni sabia que Leila não se sentira à vontade no grupo --- ou, pelo menos, naquela "roda"; desde o primeiro dia, evitava ativamente o que quer que se contasse e se cantasse ali.

A Guerra da UniãoOnde histórias criam vida. Descubra agora