Tomou seu assento na sala escura e baixa. Sempre teve raiva das reuniões na casa daquele espólico, que parecia ter construído uma residência para anões. Kenner, alto, batia na parte de cima das batentes das portas se não tomasse cuidado; em algumas salas, como aquela, chegava ao teto.
Arranjou os cabelos encaracolados e coçou o nariz, procurando identificar pelos trejeitos e pelos castelos quem mais estava ali. Eram poucos, e apenas os mais importantes ocupavam os lugares na mesa redonda ao centro. O resto, do qual ele próprio fazia parte, ficava com as cadeiras distribuídas pelas paredes.
--- Mais ninguém vai vir? --- Perguntou um dos magos à mesa.
--- Não. --- Respondeu outro deles, o dono da casa. --- Falei com todos que consegui e esses que não vieram disseram todos a mesma coisa. Que vão fazer o que for decidido, mas não queriam vir.
"Covardes", pensou Kenner, desviando de leve o rosto da conversa por um momento.
--- E o que viemos fazer aqui afinal? --- Questionou uma mulher de voz arranhada em cadeira oposta à do mago policial. --- Por que correr esse risco todo?
--- A batalha por Al-u-een é iminente. --- Explicou o anfitrião. --- E o exército já abandonou as jirs. Vão defender só o centro.
--- Alguém sabe quantos vêm do Norte? --- Perguntou a maga, sem obter resposta. --- As tropas de Roun-u-joss já chegaram, então se não usarem as esferas de bronze... pode não ser uma batalha fácil...
--- Vamos ter que participar. Onde está o meu ex-chefe de polícia favorito?
A sala irrompeu em risadas. Kenner levantou-se rápido, mastigando orgulho, e se esqueceu da altura do teto --- bateu o topo da cabeça e logo se curvou para frente, bufando.
--- Pelo menos eu estou aqui! --- Bradou ele, transformando o resto das risadas e dos comentários em silvos de desafio. --- Não sou como...
--- Cale a boca antes que entremos todos no seu castelo para te dar uma surra como a que você levou de Monji. --- Disse o dono da casa. --- Agora responda: onde estão os magos presos?
--- Não sei, ninguém na polícia do centro sabe. Só Dalki e alguns outros escolhidos a dedo, mas... De uma coisa eu fiquei sabendo. --- Mesmo quem o ouvia de costas virou-se um pouco. --- Dalki vai transferir os presos para o centro.
--- Mas isso é óbvio! --- Retorquiu a maga do outro lado da sala. --- Se não sobrou exército em nenhuma outra parte da cidade, é claro que eles vão ser trazidos para o centro!
--- Kenner... --- Chamou o espólico anfitrião. --- Descubra onde estão e liberte-os. Não. Falhe.
***
Rainha e Lenzo assistiam Dalki ir embora do lado de fora da porta. O delegado ocupava a charrete da retaguarda no comboio que levava os magos prisioneiros, e veio perguntar se eles iriam embora --- avisando-os de que as jirs ao norte eram provavelmente o lugar mais inseguro de Al-u-een para se estar naquele momento.
--- Você já dispensou os guardas... --- Constatou Lenzo.
--- Não poderia pedir que ficassem... Está tudo pronto?
Lenzo entrou no castelo para ter certeza de que não havia deixado nada ainda do lado de dentro. Rainha acabou entrando junto com ele, vagando pelo saguão de entrada sem rumo ou concentração.
--- Tem certeza que sua mãe vai me receber bem?
--- Sim... Sim. E-ela ficou magoada comigo. Acho que não vai me receber bem...
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A Guerra da União
FantasyNa série Controlados, a magia está em todo lugar. Os magos podem alterar os seus sentimentos, os seus pensamentos ou as suas atitudes. Não se pode confiar em ninguém. No segundo volume da série, A Guerra da União, Desmodes é o novo mago-rei e seu ob...