Rotina

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Fjor encostou a cabeça na parede acima da cama no quarto do irmão. De peito nu no calor que se alastrava pela cidade, olhava para o vazio com a mesma raiva entediada dos últimos dois ou três dias.

Leo sentava-se com os pés na ponta da cama. A cadeira não era confortável, mas já havia se acostumado. Lia um livro sobre música tradicional que, depois de muita súplica por alguma distração escrita, Seimor não tinha conseguido para ele --- teve que pegar emprestado de um vizinho.

--- Eu quero sair desse hotel... --- Murmurou Fjor.

Leo fechou o livro tão rápido que nem pareceu ter prestado atenção ao que lera nas últimas páginas. Jogou-o do lado dos pés e admirou, agoniado, a luz murcha que as cortinas filtravam.

--- Eu acho que vou ver a Leila. --- Disse Leo, ainda voltado para as cortinas.

--- Você já teve coragem para falar com ela?

Leo balançou a cabeça.

--- Não... Desde aquela briga e... --- Limitou-se a continuar negando com o corpo.

Foi a ver de Fjor balançar a cabeça, mais singelo.

--- Vai lá falar com ela... --- Disse, arranjando o travesseiro pastel para se deitar de novo.

Leila sabia que não era Seimor. Seimor tinha uma chave.

Abriu a porta, seu velho vestido vermelho surpreendendo Leo.

--- Faz... Tempo que você não usa isso. --- Comentou ele, sorrindo.

Ela deu de ombros, tentando sorrir de volta.

--- Posso entrar?

--- Uhum.

Leo sentou-se à cama, sem saber o que dizer. Leila passou por ele e foi até a cadeira, posta na mesma posição que no quarto dele. Levantou os pés, e o espaço do assento permitia que os guardasse atrás da coxa direita. Apoiou os antebraços nos braços da mobília, jogando um olhar quieto sobre a mesinha de canto bege logo ao lado.

--- Você tem falado com o Beni?

Sua primeira reação foi engolir em silêncio, e Leo achou que aquilo podia reviver a última briga entre os dois.

--- Não. --- Respondeu ela, simples. --- Desde aquele dia.

--- O da... Do anúncio da guerra?

Ela fez que sim, rápida.

Leo deixou os ombros caírem, cansados daquela situação grudenta. Não sabia bem o que esperava. Aquele era o jeito dela de dizer que eles estavam bem?

--- Você está tão quieta... --- Comentou ele, terminando a isca com uma risadinha.

--- Você também... --- Respondeu ela, sem tirar os olhos da mesinha.

--- Leila, nós... Estamos bem?

Ela fez que sim, devagar, cada vez mais um novelo que ele não conseguia desfazer.

Frustrado, Leo balançou o pé para frente e para trás. Ouviu um som de arrasto.

Leila virou o rosto assim que ouviu o farfalhar do papel, e por um instante cheio de pavor olhou para Leo com a boca um pouco aberta; talvez esperasse que ele não tivesse ouvido.

Leo se abaixou mais rápido do que a amiga conseguiu pular da cadeira; examinou o que tinha nas mãos por um segundo antes de precisar cair para trás na cama para tirá-lo do alcance de uma Leila absolutamente desesperada.

--- Leo, devolve, devolve isso...

--- Lei... Leila, calma...

A vocalista subiu na cama com os cotovelos, agarrando de cada vez os braços, a camisa, o pescoço e o cabelo de Leo até conseguir se ajoelhar na cama.

A Guerra da UniãoOnde histórias criam vida. Descubra agora