A escada de madeira culminava em um pequeno púlpito que dava, de fato, a impressão de ser um bom lugar para se coordenar a polícia. O saguão de trabalho, com sua luz austera abençoando os policiais a partir das janelas do terceiro andar, era cheio, apertado e, dali de cima, até que familiar. Não que família significasse muito para Rainha.
Virou-se e abriu a porta do gabinete, de onde saiu uma policial apressada antes que pudesse entrar.
--- Rainha. --- Disse Dalki. --- Bom te ver bem.
Sentou-se. Tinha o saco de cartas na mão direita, balançando para fora da mesa simplória de Dalki quando nela Rainha apoiou os antebraços.
--- Eu não estou bem. E... --- Continuou, antes que ele pudesse dizer alguma coisa. --- Eu preciso falar com você.
Ele abriu as mãos, inalando o ar com o qual pretendia expulsá-la dali.
--- Você pode não ter ouvido, mas hoje...
--- É sobre as cartas do meu pai.
Ele olhou brevemente para onde ele sabia estar o saco que a vira trazer.
--- Lemos todas as cartas do seu pai que encontramos na casa e não achamos nada que pudesse indicar que ele era um mago. Se é isso que preocupa você...
--- Eu sei que ele era um mago --- Cortou Rainha, impassível. --- e se vocês não sabem disso ainda isso só quer dizer que vocês não leram todas as cartas dele. Ele era um mago. E...
Ela baixou a cabeça, enxugando lágrimas antes que elas caíssem.
Dalki rearranjou-se na cadeira, desejando ser o tipo de gente que mandava pessoas em luto para fora de seus escritórios porque ele tinha mais o que fazer.
--- E... E se eu tivesse me resolvido antes eu não teria ajudado você. Porque o que eles fizeram foi bom.
No reflexo de recuar as mãos, Dalki quis estar pronto para lutar com Rainha --- imobilizando-a, prendendo-a, chamando por ajuda se fosse preciso.
Um segundo depois, embora estivesse ciente da bobagem que sentiu, não estava menos surpreendido com toda a raiva que ouviu a garota sintetizar numa única frase fria.
--- Sinto muito que se sinta assim.
--- Eu não quero me intrometer e dizer como você tem que fazer o seu trabalho --- Explicou ela, balançando a cabeça para o nada. As lágrimas sumiram. --- Eu só estou dizendo que... Eu sei quem meu pai era. Ele já era ruim antes disso, mas eu descobri que ele era um mago.
Rainha subiu o braço pela borda da mesa, deixando nela o saco algodoado mas ainda o segurando num aperto forte.
--- Aqui tem cartas que vão incriminar ele e muitos outros. Muitos outros magos.
--- Há nomes? --- Perguntou ele, sem tirar os olhos dos papeis que se deixavam aparecer, provocantes, através da sacola a partir da luz dos minérios amarelos.
--- Sim. De parlamentares também.
Dalki sabia que tinha muito o que fazer, mas aquilo era demais para ignorar.
--- Eu vou dar essas cartas para você... Mas eu quero uma coisa em troca.
--- Depois que eu ler essas cartas e avaliar o valor delas então sim, podemos conversar sobre...
--- Eu vou ter o que eu quero. --- Disse ela, passando por cima da confiança de Dalki. --- Eu quero conversar com Lenzo e... Se eu te pedir depois... Soltar ele.
Dalki riu, apoiando os cotovelos na mesa. Arrumou um papel que estava torto mas viu que, como ele foi cortado torto, nunca ficaria alinhado com a ponta da mesa.
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A Guerra da União
FantasiNa série Controlados, a magia está em todo lugar. Os magos podem alterar os seus sentimentos, os seus pensamentos ou as suas atitudes. Não se pode confiar em ninguém. No segundo volume da série, A Guerra da União, Desmodes é o novo mago-rei e seu ob...