Um lugar grande e complexo

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--- O que há entre você e o rapaz?

Quem perguntava era uma jovem cujo lindo cabelo encaracolado e volumoso, decoração negra para a pele escura, certamente causaria um impacto em Leo. Cortava batatas com Leila, as duas sentadas um pouco mais longe dos grupos que cuidavam de outras partes da preparação da comida. Tinha uma voz fina (sempre com boa dicção), que vinha dos lábios finos de um corpo fino, das canelas aos braços.

--- Hm... Que rapaz?

--- O que chegou com você. É Beneditt, não é?

Fez que sim com a cabeça.

Nunca sentiu o próprio cabelo tão pesado nas costas. Não tinha mais Leo por perto para pedir para deixá-lo daquele jeito. Sentiu uma vontade avassaladora de cortá-lo.

--- Nada. Não há nada.

A garota concordou com um sorriso simpático.

--- Nós somos amigos. --- Tornou a explicar. --- Há muito tempo.

--- Você é amiga dele há muito tempo.

--- E ele é meu o quê? --- Rebateu Leila, estupefata.

--- Depende... Na realidade ou nos sonhos dele?

--- Não é assim...

Leila tentou desviar a conversa com um riso, mas acabou saindo mais nervoso do que planejara.

--- Sabe... --- Recomeçou a garota. --- Quando você se reúne noite atrás de noite com outras pessoas que... Que também querem... Ver a beleza de tudo o que é triste... Você descobre um monte de coisas em você mesma. Muitas delas são surpreendentes! Quando você menos percebe as surpresas fazem parte do seu dia a dia. Uma alegria... Um sentimento bom que nasce no meio do peito e sobe a garganta sem fazer doer...

Leila a encarou, parando de roer a batata com a faca.

--- Eu não... O que você quer que eu faça? Ou...

--- Nada em especial... Só estou tentando dizer que se você olhar para o espaço entre vocês dois... Você pode ter uma surpresa boa. Só isso.

Leila voltou à tarefa quando viu que mais adiante algumas pessoas se desfaziam das suas. Iam ver o que estava acontecendo em outra parte da floresta, para além do que podiam enxergar de onde estavam.

--- Ah, não... --- Murmurou a garota, já se levantando.

Leila ergueu-se também, atrasada, perguntando o que houve.

Ninguém ao redor respondeu. Foi até onde conseguiu ir para ter uma visão da clareira; percebeu que duas pessoas carregavam com dificuldade uma terceira nos ombros.

--- Quem é? --- Tentou de novo.

--- É o Anraig. --- Respondeu a garota. --- De vez em quando ele fica assim.

--- Por quê?

Recebeu um dar de ombros como resposta.

--- Eu não sei.

--- Mas ele vai ficar bem?

Leila tentou desconsiderar a respiração que antecedeu a resposta final, que chegou adoçada com mais um sorriso desanuviado.

--- Costuma ficar.

***

Jinsel era dividida de uma forma visível, mesmo que ninguém falasse muito daquilo. Mais próximo à nascente do rio com o mesmo nome que a cidade ficavam casas cujas cores eram mais vivas, as janelas mais numerosas, e os habitantes, mais poderosos. À medida que o curso seguia para o Oeste, os bairros se transformavam, acabando em gotas esparsas de casas e comércios, já quase outras jirs, de menos ricos amontoados.

A Guerra da UniãoOnde histórias criam vida. Descubra agora