Poderiam ter ficado em jirs mais periféricas da Cidade Arcaica, mas assim que chegaram foram ao centro ver os Arcos Brancos. Não foi uma decisão discutida, ou imposta: não foi questionada quando todos a aceitaram, mesmo que ninguém a tivesse sugerido.
A caminhada que os levava para mais perto do grande centro --- o local mais antigo da cidade que um dia já fora chamada simplesmente de Heelum --- era marcada por uma promessa que se deixava desvendar aos poucos. As fileiras de casas e prédios em alto contraste formavam corredores longos, largos e cheios de gente, mas por cima das cabeças e das charretes elevava-se o topo dos Arcos, com suas finas conexões e sua cor peculiar.
O branco atravessando o ar.
O pequeno pedaço da cor era tão reconfortante que um sorriso, por interno e privado que fosse, surgia na boca de qualquer um. Fria lacuna no campo de visão, vazio indescritível no meio do que de repente pareciam cores demais --- estranho desejo de visão, nada naquela rua chamava mais atenção que o pouco do topo que podia ser visto à distância. Ele puxava, hipnotizava, prendia com a pureza da construção, com a forma como as sombras dos relevos inscritos não se rendiam à escuridão e com o jeito amargurado do sol, que não conseguia deixá-los amarelos por mais que tentasse.
Tudo se tornava mais velho e milenar quanto mais perto dos Arcos estivessem, eles mesmos podendo se sentir presenciando de novo o cenário de um evento único e impossível, belo e depressivo. A cidade era bem construída e protegida demais para que as rachaduras nos prédios mais próximos à Grande Praça fossem coincidência e descaso. Os casarões de cores menos afoitas, mais baixos que os outros pelos quais passaram, pareciam idosos cheios de histórias para contar, descendo aos ouvidos de quem olhava para o meio da Grande Praça para lhes sussurrar os segredos de amores, ódios e solidões que atravessaram aquele lugar por incontáveis rosanos.
Passadas as pedras das ruas e de uma faixa que circundava a praça, a escura grama verde, viva e uniforme, tomava conta do lugar. Dezenas de pessoas reuniam-se debaixo dos Arcos, parecendo ratos debaixo deles pelo tamanho: as colunas começavam grossas, e descreviam arcos até o topo onde se encontravam, afiadas e afinadas.
Kan olhou para os outros. Gagé balançava a cabeça de leve, mordia os lábios e deixava os olhos brilharem. Talvez tentasse gravar a cor na retina para lembrar dela quando eles se fechassem. Raquel olhava para os Arcos com uma espécie de reverência que só podia ser consequência das preocupações que agora enfrentavam --- diante deles, se estivesse feliz, ela poderia ser a pessoa mais radiante do mundo, Kan apostava.
Hiram, por sua vez, sempre ficava sério diante dos Arcos, não importava com qual notícia tivesse que lidar. Não porque não gostasse deles; pelo contrário. Provavelmente meditava sobre seu caminho. Se o destino que escolhera era honrado, se estava certo, e se a luz poderia continuar a guiá-lo para mais perto dele. O pedido era certamente alegórico, já que a luz nunca mais responderia a esses pedidos com seus estranhos impulsos não-verbais, mas um dia num passado distante alguém já deveria ter feito o mesmo pedido, parado ali onde Hiram estava, e ter recebido um conselho em troca.
Kan gostava de observar os outros. A cor era bonita, é claro. Causava-lhe tanto fascínio e propensão à profundidade quanto em qualquer outra pessoa --- mas os Arcos não lhe despertavam simpatia. Eram testamento e testemunho de mais um abandono. Só mais um "poderia ter sido" a que um povo inteiro se agarrava sem pudor, ou vergonha: só dor.
***
Depois de uma longa viagem desde que deixaram a Fortaleza de Roun-u-joss, o grupo foi recebido com notícias de que o Conselho dos Magos havia, afinal, se anunciado.
A Cidade Arcaica havia decidido apoiá-los --- com estranha rapidez. Um dia depois do anúncio da ordem do Conselho chegaram à cidade oficiais que passariam a ser o mais alto comando militar na cidade. As forças foram convocadas, e exercícios eram feitos todos os dias em patrulhamentos nas principais jirs do território.
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A Guerra da União
FantasyNa série Controlados, a magia está em todo lugar. Os magos podem alterar os seus sentimentos, os seus pensamentos ou as suas atitudes. Não se pode confiar em ninguém. No segundo volume da série, A Guerra da União, Desmodes é o novo mago-rei e seu ob...