Corpo e conduta

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Tadeu pediu ao cocheiro que parasse um pouco antes. Ficariam provavelmente em frente a um castelo residencial na curvatura de uma rua, com uma praça de altíssimas árvores do outro lado.

Interpretando a parada ligeiramente mais longa como sinal de que estavam no lugar certo, Gabriel despertou da desatenção e começou a se mexer para sair. Tadeu impediu sua mão de abrir a porta.

--- Gabriel, s-só...

--- Gabriel não, garoto. Mestre. --- Respondeu ele, sério, imóvel na metade de seu levantar.

--- M-mestre, desculpa... E-eu queria pedir pra você p-pra que eu pudesse ir até o local primeiro e quando eu voltar podemos ir juntos.

Gabriel sentou-se de novo, com a boca semi-aberta.

--- Por quê?

--- Por favor. É importante.

Gabriel bufou, não fazendo a menor cerimônia quanto a estar impaciente. Tadeu realmente não sabia por que ele havia concordado em ensiná-lo se nenhum dos dois queria as aulas.

Por outro lado, se Tadeu não as queria e no entanto ali estava ele, talvez alguma força maior --- a própria Joana --- o obrigasse a estar ali também.

--- Só não demore.

--- Obrigado!

***

Chegou cansado ao lugar do encontro. Fez Amanda, que esperava por ele de pé, descruzar os braços, franzir o rosto em preocupação e rir do namorado, tudo quase simultaneamente.

--- ... Pode parar de rir... Hoje eu não posso... Ficar. Mais ou menos.

Ele a beija ao chegar enquanto ela começa a reclamar com as sobrancelhas.

--- Mas tem que ser hoje, eu tinha tantas coisas para falar pra você!

--- É-é que... --- Começou ele, forçando-se a respirar de forma mais organizada. --- Eu vou ter aulas de esgrima.

--- Hmm... --- Reagiu Amanda, calmamente absorvendo a notícia. --- Por quê?

--- É ideia dos meus pais... Por causa da guerra.

--- Eles querem te mandar para a guerra?

--- Não! --- Disse ele, mas sempre, como em seus pensamentos, adicionando o adendo pesaroso. --- Eu acho...

--- E quando vão ser as aulas?

--- Agora.

Amanda olhou para o caminho por onde Tadeu veio.

--- Quem vai te ensinar?

--- Eu pedi para o professor esperar lá embaixo um pouco, mas eu vou voltar e vou vir para cá com ele. É um mago de Roun-u-joss.

--- Mas por que aqui, Tadeu? No nosso lugar?

--- Porque aqui eu posso ficar depois da aula quando ele for embora, a gente só precisa... Se encontrar mais tarde, agora.

Amanda fechou os olhos por um momento, sorrindo sem vontade ao abri-los.

--- Então... Até daqui a quatro dias, só que mais tarde?

Tadeu fez que sim, tristonho.

--- Eu desço com você...

***

Gabriel não escondeu o desprezo pelo lugar secreto de Tadeu ao chegar no pequeno pedaço de terra nivelada na saída da trilha.

--- Você me fez subir um morro --- Disse o mestre, reforçando a frustração no olhar marinho com gestos discretos com a palma da mão. --- depois de desnecessariamente andar de charrete para chegar até o morro... Para acabar aqui.

A Guerra da UniãoOnde histórias criam vida. Descubra agora