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Leo e Fjor entraram no escritório de Seimor. O irmão mais novo fechou a porta, sem saber se deveria. Andaram devagar, diminuindo o passo até quase se interromperem atrás das cadeiras; Seimor tinha as duas mãos em cima da mesa, fechadas e provavelmente quentes e suadas por dentro de tão apertadas.

--- Se vocês tiveram alguma coisa a ver com isto --- Começou Seimor, mantendo o olhar perdido à direita. --- vou fazer questão de mandar os dois para a cadeia agora mesmo.

Os irmãos franziram a testa juntos, trocando olhares confusos.

--- A-alguma coisa a v-ver com o quê? --- Perguntou Leo.

--- Onde estão Beneditt e Leila. --- Perguntou Seimor, sem intonação. --- Onde eles estão.

--- Não sei, só v-viemos eu e o F-Fjor na charrete, eles...

--- Para onde eles foram?

--- A gente não sabe, a gente não vê eles desde ontem! --- Respondeu Fjor.

--- Desde ontem a que horas?

Leo olhou para a perna, sentindo que adoraria balançá-la como se aquilo fosse deixá-lo escapar da reprimenda. Mas aparentemente ela só se mexeria se ele estivesse sentado.

--- S-Seimor... --- Arranjou coragem para perguntar. --- O-o que foi que aconteceu?

O agente investigou os dois por segundos de silêncio incômodo. Levantou-se, por fim, atraindo os olhares dos músicos por onde passava no espaço pequeno atrás da escrivaninha.

--- Leila e Beneditt fugiram.

Leo piscou três vezes, duas sem pensar e uma de propósito, até abaixar o rosto de paisagem para poder pensar sem se envergonhar com a falta do que dizer. Não sabia qual era a reação apropriada, e a cada momento que passava sem que espontaneamente dissesse alguma coisa, condenava o que diria a seguir, fosse o que fosse. Só o silêncio garantia o respeito à verdade que ele calava e calaria com força se fosse questionado quanto a ela dias atrás: que a notícia não lhe parecia inverossímil, que a fuga não parecia loucura, que ele sabia que aquilo tudo era muito sério.

Uma bola de amargura desceu grossa pela garganta enquanto ele pensava, com os lábios cada vez mais secos, que ele havia assinado um contrato que valia para quatro pessoas e não duas. Não sabia exatamente o que aquilo significava --- respirou fundo --- especialmente em Jinsel.

--- Não há mais volta para eles na banda. Mesmo que sejam pegos. Vocês vão conhecer os novos membros em alguns dias.

--- Novos membros? --- Perguntou Fjor.

--- Sim.

--- Que nós não podemos escolher.

"E quem escolheríamos", pensou Leo, "se pudéssemos?".

--- É óbvio que não, rapaz.

Fjor balançou a cabeça. Leo não conseguia dizer se ele parecia mais frustrado com os amigos ou com a própria vida.

--- V-você disse que eles ainda podem ser pegos... P-pela polícia? --- Perguntou Leo.

Seimor ainda estava voltado para Fjor quando mexeu apenas seu olhar, atravessando Leo num ângulo enviesado com um espeto metafórico. O músico tremeu por um momento, sentindo em um lampejo todo o ódio do negociante que teve seu contrato quebrado, como se Leila e Beneditt fossem mercadorias quebradas por um acidente com a charrete a caminho da cidade.

Lembrou do beijo de Leila. Sentiu raiva daquele momento, que ela não tinha o direito de ter tornado tão pequeno, tão fraco, tão errado, tão miserável. Tão egoísta.

A Guerra da UniãoOnde histórias criam vida. Descubra agora