Era difícil imaginar o que parte dos antigos guerreiros sentiram enquanto, naquele mesmo lugar ou noutro muito próximo, preparavam-se para entrar na Cidade Arcaica.
Vinham de diferentes cidades com o objetivo de descobrir se o Yutsi Rubro ainda vivia, e como matá-lo. Quanto medo incomunicável teriam de esconder em seus olhares; quão grandiosa teria sido o centro da Rede de Luz no topo da Montanha Kor, ainda tão pequena àquela distância. Quão grandes teriam sido seus sonhos, seus sucessos e seus fracassos.
A general de Al-u-een sentia-se livre sem sua armadura. Livre de pressões de toda sorte, as sobre o corpo e as sobre a mente. Suas longas vestes, linho negro com bordas prateadas, trouxera do baú: eram as cerimoniais do dia em que se tornou uma general.
--- É uma bela noite para se estar à beira da morte, não é?
Usou a enorme boca para dar seu sorriso torto, mas cativante. O general de Roun-u-joss, sentado num banco retrátil, desviou o olhar do chá quente e lançou-o à colega, estrelas azuladas por sobre a barba desvairada.
--- Achas que tu vais morrer? --- Redarguiu o general de Roun-u-joss.
--- Eu não tenho como saber, tenho? Só disse isso porque... Estamos à beira da vida também. Daqui nós viemos... E no entanto muita morte também passou por aqui.
--- Vida e morte... --- Suspirou ele, balançando a cabeça com o vento. --- Inseparáveis!
Uma guerreira de Al-u-een, defesa pessoal da general, perambulava por perto com as mãos para trás e o fino rosto atento. Mais bem vestida para uma luta que os dois superiores, lentamente desembainhou a espada; ouvia passos subindo a pequena colina, e o vulto se formava com dificuldade naquelas paragens em que a única luz vinha de um minério alaranjado no chão coberto por um pano poroso.
Desmontou a guarda quando viu seu companheiro, outro guerreiro de Al-u-een. Deu-lhe um abraço cheio de barulho de equipamento, mas ele não retribuiu com entusiasmo.
--- O que foi?
--- Ia-u-jambu. --- Murmurou ele, sua mania de piscar os olhos demais parecendo ficar ainda mais forte. --- Os mensageiros voltaram... Os que iam organizar o ataque conjunto. Toda a tropa que vinha pelo norte está morta e eles exibiram o-os corpos no centro e e-em algumas jirs.
Apertou a mão da companheira enquanto os generais digeriam a notícia; ela com um olhar lento para o céu, ele com mais um gole insondável de chá.
--- Os outros generais estão perguntando quais vocês pensam que devem ser as ordens.
--- Não digas nada no momento. --- Respondeu o general. --- Deixa esfriar.
--- Mas os comandantes estão perguntando se os planos mudaram, o-o que eu digo?
Os olhares dos oficiais se cruzaram.
--- Nada. --- Reforçou a de Al-u-een. --- Não temos nada para mudar.
Ele assentiu e, com um beijo na testa da guerreira, começou a caminhada de volta.
--- Tu tens que parar de falar sobre beiras de morte e de abismo que parece até chamar para perto...
--- Eu realmente acho que não faz diferença. --- Argumentou a general, com as mãos na cintura. --- A tropa que sobrou de Ia-u-jambu já estava fraca! Não foi por acaso que caiu...
--- Não sejas tola. --- Disse ele, apontando com o copo para a colega de pé. --- Não deixes o orgulho te cegar porque te sentires superior a Ia-u-jambu agora não te serve de nada. Não podemos recusar ajuda nenhuma.
--- Eu sei, não se trata disso... --- Respondeu ela, com as sobrancelhas abaixadas. --- Digo que não faz diferença porque os inimigos têm magia, mas não têm um exército como o nosso, realmente motivado a pôr um fim nisso.
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A Guerra da União
FantasíaNa série Controlados, a magia está em todo lugar. Os magos podem alterar os seus sentimentos, os seus pensamentos ou as suas atitudes. Não se pode confiar em ninguém. No segundo volume da série, A Guerra da União, Desmodes é o novo mago-rei e seu ob...