Assistência

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--- Magos do Conselho --- Começou Kan, demorando para conseguir abrir a carta. --- Foi recebida hoje uma mensagem de Rouneen. A cidade se alia ao Conselho, pedindo apenas que sua rotina pacata, de contingente populacional diminuto, seja mantida. Sem mais, General do Exército do Conselho dos Magos, Evan.

Kan não sabia muito bem o que fazer com a carta depois de lida; Decidiu dobrá-la e segurar, com as mãos à frente do corpo, papel e invólucro partido. Vestia as roupas verdes mais apropriadas que pôde encontrar num depósito obscuro do Conselho, e sentia que o ato não era inconsequente: suas vestes, únicas em péssimo estado na sala, não passaram despercebidas.

Desmodes virou aos poucos o pescoço para o lado. A preocupação de não agradar o novo chefe veio com numa onda de calor e pânico; prensou a memória e lembrou que deveria dar um passo para trás antes que a reunião continuasse.

--- Desmodes, me desculpe... --- Disse Brunno, buscando rapidamente confirmar que os outros estavam tão confusos quanto ele. --- Mas... Quem é esse mensageiro?

--- Ele não é do exército, é? --- Completou Peri, na diagonal de Brunno.

--- Não é um mensageiro. --- Respondeu Desmodes.

Maya franziu o cenho, apertando os olhos na direção de Kan.

--- Esse não foi um dos filinorfos presos no outro dia?

--- Foi um engano. --- Esclareceu o mago-rei. --- Ele é um preculgo. Estava disfarçado entre os filinorfos.

Maya olhou para Saana, que retribuiu o gesto. De frente para Eiji, Sylvie, Peri e Cássio buscaram sua atenção, tendo que disputá-la com o castelo de Kan em Neborum. Brunno buscou o olhar de Maya e de Cássio mas, como não teve resposta, fixou-se em Kevin, que buscava se entender também com Duglas, Souta e Janar no lado oposto ao seu na mesa. Perguntavam-se todos, no fundo, por que um preculgo viajaria entre filinorfos.

--- E qual é o nome dele? --- Perguntou Brunno.

--- Meu nome é Kan. --- Respondeu o próprio.

Os magos nunca haviam visto um mensageiro que não fosse estritamente controlado pelo mago-rei ou por algum outro deles: era quase que uma honraria, uma posição privilegiada similar à de sentar-se àquela mesa --- e, em especial, na cadeira da ponta.

Mas lá estava ele: o leitor de mensagens que não era mensageiro, convidado que não era controlado. Mago, mas também estranho.

--- E por que você está usando um mago como empregado, Desmodes?

A pergunta de Brunno, que vinha cerrando as sobrancelhas mais e mais à medida que a conversa avançada, ressoou com os apoiadores do mago-rei; Cássio, que tentava dissimular o riso com a mão à frente da boca, desfrutava das expressões pouco confortáveis de Janar e Kevin.

--- Ele é meu assistente. Não um empregado.

--- Mas isso é injusto... --- Comentou o bomin Peri, baixinho. --- Vai haver um preculgo a mais aqui dentro.

--- Na verdade não. --- Corrigiu o preculgo Duglas, alerta. --- Dresden ainda não foi substituído!

--- O que ele quer dizer, Duglas... --- Interveio Maya. --- É que quando Dresden for substituído esse mago vai desequilibrar a proporção entre as tradições.

--- Ele é meu assistente. --- Tornou a dizer Desmodes. --- Ele não vota ou delibera, e ficará no Conselho até segunda ordem e isto não está em discussão.

Maya concordou em silêncio, recostando-se na cadeira. Com o canto do olhar, por uma fração de momento enquanto ajeitava o cabelo, certificou-se de que Cássio percebeu suas intenções. Os dois tinham que conversar.

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