Capítulo 22

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POV GUSTTAVO

Uma das poucas vantagens de ter pais médicos é o fato de não precisar pôr os pés em um hospital quando o caso não requer uma internação ou qualquer tipo de tratamento mais sério.

Quando cheguei em casa a primeira coisa que vi foi o semblante preocupado da minha mãe ao me ver atravessando a porta em uma perna só, então depois dela me fazer sentar para verificar a situação do meu pé expliquei à ela o que tinha acontecido para eu estar mancado e dentro de pouquíssimos minutos ela já estava com uma bolsa de gelo em uma das mão e um potinho de comprimidos na outra enquanto a Mar vinha logo atrás trazendo um copo de água.

Do carro ela me prometeu que não contaria nada para o meu pai e disse que eu poderia levá-lo no mecânico que ela pagava o conserto.

Eu já tinha o deixado em um mecânico de confiança e verificado o preço, que não sairia nada barato, quando sai da faculdade, então apenas informei o valor e ela aceitou sem contrariar.

Minha mãe ao contrário do meu pai se preocupava comigo e com o meu bem estar, era como se através de suas ações ela buscasse preencher de alguma maneira o vazio deixado por ele. O que ela não sabia era que apesar dela estar sempre me dando atenção e carinho o espaço que deveria ser ocupado pelos cuidados e pelo amor dele ainda permaneciam sendo buracos escuros e profundos.

Eu queria poder me livrar dessa necessidade de ter alguma demonstração de afeto da parte dele por mais pequena que fosse, mas toda vez que o via sorrindo para a Manu eu desejava que fosse para mim que ele estivesse sorrindo. Toda vez que uma palavra de orgulho saia da boca dele quando ele se referia à Manu eu queria que fosse para mim que ela estivesse sendo direcionada. E quando caio na real e vejo que nada daquilo acontecerá procuro outros meios para conseguir o mínimo de atenção da parte dele.

Talvez seja essa necessidade idiota que fez e continua fazendo eu criar confusão por onde passo. Não querendo justificar os meus atos e nem colocar a culpa do meu comportamento em alguém, mas desobedecer as ordens que ele impõe, mesmo sabendo da probabilidade dele descobrir, é uma forma que vejo para confrontá-lo, mesmo que esta seja infantil e não apresente nenhuma possibilidade de eu conseguir o amor paterno que tanto desejo.

Desde pequeno que espero receber algum sentimento vindo dele e na adolescência quando vi que a rebeldia poderia ser uma boa aliada passei a procurar incansavelmente maneiras e mais maneiras de atingi-lo.

Se a raiva e o desgosto são os únicas emoções que eu poderia receber dele, então seria exatamente nelas que eu concentraria todos os meus esforços.

Parece um tanto masoquista, mas era a única forma que eu via para não parecer um completo estranho, alguém que deveria ser tratado com indiferença por não ser nem um pouquinho importante para o próprio pai.

Ele sempre faz questão de brigar comigo devido o meu comportamento irresponsável e imaturo, mas o que ele não sabe, ou faz de conta que não ver, é que esse cara que me tornei hoje é fruto da ausência dele na minha vida e nos momentos nos quais tudo que eu mais precisava era de apoio e um conselho de pai.

Mas em vez de dar um basta nisso tudo termino por fazer exatamente as suas vontades, me submetendo à elas a ponto de satisfazê-lo ao concordar com a faculdade de Medicina quando na verdade isso é tudo que menos quero.

Desse modo, se eu for analisar os fatos sou muito mais manipulável do que a Emma, que apenas é vítima da maldade que existe nas pessoas.

Depois de receber uma massagem proporcionada pelas mãos mágicas da minha mãe e sob à insistência dela engulo o remédio amargo e dentro de poucos minutos já estava pronto para outra, além de estar sentindo um sono fora do comum.

Foi tudo uma apostaOnde histórias criam vida. Descubra agora