Foi tudo uma aposta

Capítulo 28

POV EMMA

Na terça estou sentada em uma cadeira de frente à mesa do Sr. Montez vendo ele dar pequenos goles no seu café enquanto lia o jornal do dia como se eu não estivesse ali à exatos dez minutos.

Eu não sabia o motivo dele ter me pedido para permanecer na sala depois da última aula e pelo jeito que ele estava levando a situação parecia que ele não estava disposto a me falar, já que nenhuma palavra saiu da sua boca desde que ele me pediu para sentar.

Eu estava apavorada por não saber o porquê de estar ali e já tinha procurado na minha cabeça uma possível razão para eu estar recebendo a minha primeira reclamação em mais de dez anos de estudos, mas depois de analisar as minhas opções terminei por descartar cada uma delas.

Minhas notas continuavam boas.

Eu nunca havia faltado uma aula ou chegado atrasada na sala.

Eu entregava todos os trabalhos e atividades pedidos no prazo.

Eu não havia cometido nenhuma imprudência, logo não havia motivo para eu estar tão nervosa a ponto de levar os dedos aos meus óculos de cinco em cinco segundos.

Observo a minha volta, tentando me concentrar em outra coisa que não fosse o homem sentado atrás da mesa de madeira escura segurando uma caneca fumegante na mão e depois de alguns minutos volto a olhá-lo, vendo-o na mesma posição de antes.

_ Então... _ Digo ao encontrar coragem para perguntar o porquê de eu estar na sala enquanto todos os outros foram dispensados e ele ergue a cabeça, me encarando com os seus olhos esverdeados _ Por que o senhor me pediu para ficar? _ Pergunto, torcendo as mãos por debaixo da mesa enquanto esperava a sua resposta.

_ Estou esperando uma pessoa, mas como sempre ele não sabe ser pontual. _ Responde depois de olhar para o relógio no seu pulso esquerdo _ Você pode esperar mais uns minutinhos para ver se ele chega? _ Assinto e antes que ele pudesse voltar para o seu jornal duas batidas na porta, uma seguida da outra, ressoam pelo local, fazendo com que o Sr. Montez e eu olhassemos na direção de onde vinha o som.

Gusttavo surge no espaço recém entreaberto e quando seus olhos encontram os meus consigo ver a confusão que eles transmitem mesmo de longe. Desvio o olhar quando percebo que ele estava a tempo de mais me observando e olho para o Sr. Montez, que já tinha adotado uma expressão descontente.

_ Posso entrar? _ Gusttavo pergunta.

_Entra. _ O Sr. Montez responde friamente e dobra o jornal ao meio, guardando-o dentro de um dos livros que ele tinha a sua frente depois de depositar a caneca sobre um descanso preto _ Vai sentar ou está esperando um convite? _ Ele pergunta quando o Gusttavo entra na sala, apontando para a cadeira vazia do meu lado e consigo escutar o Gusttavo resmugar baixinho um palavrão antes de passar por mim e sentar na cadeira indicada pelo Sr. Montez _ E a propósito por onde o senhor andava que não voltou depois de ter pedido para ir ao banheiro? Se perdeu pelo caminho?

_ Quase isso. _ Gusttavo responde secamente _ O que você quer? _ Ele pergunta sem fazer rodeios e estica as pernas de maneira desleixada depois de cruzar os braços na altura do peito.

O Sr. Montez olha para ele por alguns segundos antes de soltar um suspiro que não deixa que a sua irritação passe despercebida e se recosta na cadeira.

_ Acho que vocês estão cientes do fato de que a Sra. Moraes pediu o afastamento do cargo de coordenadora do curso de Medicina por questões pessoais que não vêm ao caso. _ Ele fala, olhando para nós dois e assentimos _ Após algumas reuniões foi feito uma proposta para que eu assumisse o cargo ocupado antes por ela. Não preciso dizer que aceitei, já que só por estar falando com vocês sobre o assunto devem imaginar qual foi a minha resposta. _ Ele alterna o olhar entre o Gusttavo e eu antes de prosseguir _ Depois de ser nomeado como o novo coordenador de curso recebi os relatórios das turmas que temos atualmente e nesses últimos dias estudei cada um deles minunciosamente. _ Ele apoia os cotovelos na mesa e entrelaça os dedos, passando a encarar o Gusttavo.