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Pablo Gavi

Conforme eu dirigia pelas ruas molhadas, a raiva fervia dentro de mim, uma mistura de frustração e dor. Eu sabia que abrir meu coração só traria mais complicações. Mas essa batalha interna era insuportável. O que eu sentia por ela era intenso e, ao mesmo tempo, uma fonte de sofrimento.

— Ódio! — gritei, batendo a mão no volante. O som ecoou no interior do carro, um eco da minha própria fúria. — Isso é tudo culpa dEle.

A imagem de Emma aparecia e desaparecia na minha mente, suas palavras ainda ressoando como um eco distante. Era um amor que eu não conseguia aceitar, algo que parecia quase irreal. Como poderia alguém como eu, tão cheio de conflitos internos, merecer algo tão puro?

— Deus. — soltei uma risada zombateira, quase como um desdém. — Patético!

Eu tinha certeza de que Ele estava ali, observando tudo com um olhar crítico, um sorriso satisfeito enquanto eu lutava contra mim mesmo. Se o amor era realmente a resposta, por que eu estava me sentindo tão perdido? O que havia de tão errado comigo que não conseguia dar um passo em direção à felicidade?

Meu coração pulsava com uma dor familiar, e a confusão só aumentava. O que eu mais desejava era estar livre desse peso. Mas como eu poderia me libertar?

Quando estaciono em frente a casa de Pedri, desço e vou tocar a campainha. Eram uma da manhã e eu sei que ele ainda deve estar acordado.

Enquanto eu caminhava até a porta, as gotas de chuva começavam a escorregar pelo meu rosto, misturando-se com as lágrimas que eu tentava reprimir. O frio da noite cortava como lâminas, mas a verdade era que nada se comparava à tempestade que se agigantava dentro de mim.

— O que eu estou fazendo? — murmurei para mim mesmo, hesitando antes de tocar a campainha. Mas a ideia de continuar escondendo meus sentimentos era insuportável. Precisava de alguém que me entendesse, alguém que pudesse me ajudar a dar sentido a tudo isso.

Finalmente, apertei a campainha. O som ecoou na noite silenciosa, e minha ansiedade aumentou. Uma parte de mim queria correr de volta para o carro e desaparecer, mas outra parte estava desesperada por respostas. Não demorou muito até que eu visse a luz acender na janela e, em seguida, a porta se abrir.

— Gavi? — Pedri disse, surpreso ao me ver. Seu cabelo bagunçado e as roupas casuais mostravam que ele estava prestes a dormir, mas seu olhar rapidamente se transformou em preocupação. — O que aconteceu?

— Eu... preciso conversar — respondi, a voz embargada.

Ele me fez sinal para entrar, e eu passei por ele, sentindo o calor da casa contrastar com a tempestade lá fora. O cheiro de comida pairava no ar, e pude ver que ele estava com um prato na mão, provavelmente a última refeição do dia.

— Você está bem? — Pedri perguntou, fechando a porta atrás de mim.

— Não — admiti, passando a mão pelo cabelo, tentando organizar meus pensamentos. — Eu só... estou lutando com tudo isso. Com Emma, com meus sentimentos, com tudo.

Ele me olhou, a expressão de quem realmente queria entender.

— Vamos sentar.

Fomos até a sala, onde ele se sentou no sofá e eu segui seu exemplo. O silêncio se instalou por um momento, e eu sabia que ele estava esperando que eu começasse.

Milagres do Futebol // Pablo GaviOnde histórias criam vida. Descubra agora